A Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse, em nota, que continuará dando prioridade à agenda com os EUA para avançar na negociação de acordos e promover investimentos entre os dois países. Para a entidade, a relação entre Brasil e EUA é “pragmática” e não deve mudar com a vitória do republicano Donald Trump, que já havia sinalizado, em discursos, a intenção de adotar uma postura protecionista nas relações econômicas com outros países. No entanto, para o presidente da CNI, Robson Braga,”é preciso prestar mais atenção às ações do que ao discurso”. Braga disse ainda que a entidade aguardará a montagem do novo governo para ter mais informações sobre o caminho que os EUA seguirão a partir de agora.
Para a CNI, um isolamento dos EUA seria ruim para a economia mundial e para o Brasil. “Os americanos são os principais patrocinadores políticos da globalização e do livre comércio. Sem a sua liderança, o protecionismo ganha força e a economia fica mais instável”, conclui a nota.
Para entidades, vitória esfria acordos bilaterais com os EUA
Executivos da Câmara Americana de Comércio Brasil-EUA (AmCham) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avaliaram que a vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana deverá esfriar as negociações de acordos bilaterais que envolvam os EUA. Para a CEO da AmCham, Deborah Vieitas, os EUA deverão se tornar mais protecionistas, caso se concretize o discurso do candidato republicano em sua campanha eleitoral. No entanto, o país não deixará de ser um importante parceiro comercial brasileiro.
– Os mega acordos comerciais que estão pendentes de aprovação, como a Parceria Transpacífico e o acordo em negociação com a União Europeia, talvez tenham um certo esfriamento, já que as questões internas nos EUA devem dominar a agenda do novo presidente. Eu sei que isso não será necessariamente a primeira prioridade, e que a perspectiva para nós chegarmos a um acordo bilateral de comércio com os EUA se torna ainda mais longínqua. Mas isso não vai fazer com que os EUA deixem de ser um parceiro comercial importante para o Brasil – disse.
Para a CEO da AmCham, a aproximação regulatória entre os dois países, que envolvem procedimentos regulatórios e de aduana, deve continuar a evoluir. Segundo ela, os investidores americanos também devem continuar a ter “cada vez mais apetite” no Brasil.
– Entendo que haverá cada vez mais apetite dos americanos, e de outros investidores, conforme nós, no Brasil, pudermos ter o programa do presidente Temer tornando mais concreto e assim como a aprovação das principais reformas que ele propõe.
Thomaz Zanoto, diretor titular de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ressalta que os impactos no Brasil da eleição de Trump deverão ser limitados porque o comércio entre os países é feito principalmente com a participação de multinacionais americanas instaladas no Brasil, no chamado intra company trade.
– É a própria multinacional americana, que tem presença forte no Brasil, que transaciona ou com clientes ou com a matriz nos EUA. É um processo interno das companhias – destacou.
Para ele, a situação entre os países é de muita proximidade. No entanto, um acordo de livre comércio não deverá ocorrer.
– Se nós tivéssemos nesse momento negociando um acordo de livre comércio com os EUA, em estágio avançado, seria uma pena, porque talvez o acordo não se concretizasse. Mas isso não está ocorrendo. O trabalho que temos com muita intensidade com os EUA é um trabalho muito de nível técnico, a chamada convergência regulatória – destacou.
Cuba não comenta, mas anuncia exercícios militares
O governo cubano não comentou nessa quarta-feira a vitória do republicano, mas anunciou que fará uma semana de exercícios militares em toda a ilha para “enfrentar o inimigo”.
Mesmo não se referindo abertamente à mudança de governo nos EUA, que pode comprometer o processo de degelo das relações entre as duas nações, o momento no qual a notícia foi divulgada faz com que ela seja indiretamente direcionada a Trump e aos republicanos.
Segundo o jornal governista “Granma”, a partir do dia 16 próximo, daqui há exatamente uma semana, as forças armadas cubanas darão início à Operação Bastião 2016, cujo objetivo é verificar “a preparação das tropas e da população civil para enfrentar diversas possíveis ações do inimigo”.
O jornal afirma que essas manobras militares incluirão “movimentos de tropas e de material bélico, voos de aviões da aeronáutica militar e testes de materiais explosivos”.
É a sétima vez que o regime dos irmãos Raúl e Fidel Castro anuncia esses exercícios, que acontecem sempre em concomitância com momentos de tensão nos EUA. A primeira vez que foram organizados foi em 1980, após as eleições do ex-presidente Ronald Reagan, também republicano.
Presidente chinês parabeniza vencedor – O presidente chinês Xi Jinping parabenizou na quarta-feira o novo presidente. O líder disse esperar que os dois lados possam trabalhar juntos para impulsionar as relações China-EUA com o objetivo de beneficiar melhor os povos do mundo.
Em sua mensagem de felicitação, Xi indicou que enquanto a China é o maior país em desenvolvimento do mundo e os EUA a potência mais desenvolvida, ambos, sendo as principais economias do planeta, têm a responsabilidade especial de manter a paz e estabilidade mundiais, impulsionar o desenvolvimento e prosperidade globais e compartilham amplos interesses.
De acordo com o presidente chinês, o desenvolvimento de uma relação saudável e estável de longo prazo entre a China e os EUA corresponde aos interesses fundamentais dos povos dos dois países e às expectativas gerais da comunidade global.
“Valorizo muito as relações entre a China e os EUA, e espero trabalhar junto com o senhor para ampliar a cooperação sino-norte-americana em todos os aspectos, de níveis bilateral, regional e global, com base nos princípios de não conflito, não confrontação, respeito mútuo e cooperação de benefício recíproco, com as diferenças controladas de forma construtiva, com o objetivo de avançar ainda mais as relações China-EUA de um novo ponto de partida, beneficiando os povos dos dois países e do mundo”, disse Xi.
Ao mesmo tempo, o vice-presidente chinês Li Yuanchao enviou uma mensagem a Mike Pence por seu sucesso na eleição como vice-presidente dos EUA.
Milhares de pessoas protestam nos EUA – Milhares de pessoas saíram às ruas em todas as grandes cidades americanas para protestar contra as propostas do presidente eleito Donald Trump, de expulsar imigrantes e banir a entrada de muçulmanos no país. Os protestos ocorreram no dia em que foi anunciado o resultado da eleição. Também foram divulgados nessa quarta-feira os resultados das eleições de senadores e deputados. Os republicanos vão continuar dominando o Congresso porque elegeram a maioria de parlamentares nas duas casas.
Com o avanço da contagem de votos, os republicanos elegeram 51 senadores, contra 48 dos democratas. Na Câmara dos Deputados (também chamada de Câmara dos Representantes), os republicanos elegeram 239 deputados contra 193 representantes dos democratas. O controle simultâneo, pelo Partido Republicano, da presidência dos EUA e também das duas casas do Congresso surpreendeu não só os líderes democratas, como também muitos republicanos, e é uma situação que não se via na política norte-americana desde 2006. Essa nova composição de poder está assustando e dividindo os líderes do Partido Democrata. Muitos consideram que os números do colégio eleitoral não representam o sentimento da população americana.
Outros, como a candidata democrata Hillary Clinton e o presidente Barack Obama, estão fazendo apelo para que todos aceitem o resultado das urnas. Ontem, Hillary disse que o resultado causa dor, mas insistiu que os democratas devem se manifestar nas urnas. Obama vai receber Donald Trump hoje na Casa Branca para iniciar o processo de adaptação do presidente eleito, que tomará posse em 20 de janeiro de 2017. Hillary Clinton também será recebida por Obama.
Apesar do apelo feito por Hillary e Obama, milhares de pessoas marcharam espontaneamente pelas ruas das principais cidades dos EUA para protestar. Entoando cânticos como “Trump não é meu presidente”, manifestantes levavam cartazes com palavras de ordem contra as políticas anunciadas por Trump, durante a campanha eleitoral. A maior parte dos cartazes protestava contra o anúncio de Trump de que expulsará imigrantes ilegais e barrará a entrada de muçulmanos em território norte-americano. As manifestações começaram em Nova Iorque e Chicago, mas depois se espalharam por dezenas de cidades.
Com informações da Agência Brasil, citando a Ansa; e da Xinhua