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A prometida redução nos gastos públicos e na relação dívida/PIB, como consta no documento do G-20, não pode ser tomada ao pé da letra. “Historicamente, os compromissos da reunião têm ajudado os países a fazer o que eles querem fazer”, disse Ted Truman, ex-funcionário do Governo Obama, que atualmente trabalha como economista no Instituto Internacional de Economia Peterson. Os Estados Unidos querem reduzir o déficit, mas com o crescimento da economia, não fazendo o suicídio coletivo proposto pela Europa.

Segunda divisão
Apesar da eliminação pelo Brasil, o Chile fez mais bonito nos campos da África do Sul do que na economia. O país que, antes de Pinochet, tinha uma das sociedades menos desiguais da região, tornou-se um dos três ou quatro mais injustos do mundo quando se considera a distância entre ricos e pobres. Segundo dados da revista Punto Final, reproduzidos pela Agência Carta Maior, no fim do Governo Ricardo Lagos a renda de 5% do chilenos mais ricos era 209 vezes maior do que a dos 5% dos mais pobres. Enquanto a renda destes subia 1%, a do primeiro grupo avançava 62%. Segundo a publicação chilena, a situação se deteriorou ainda mais no governo de Michelle Bachelet, sem que, porém, a desigualdade pareça ser percebida por parte da população.

Blindagem midiática
Para a revista, essa assimetria entre o aumento da desigualdade e a falta de percepção dos chilenos deve-se ao discurso homogêneo produzido pelo meios de comunicação locais, “que produzem toneladas de imagens e conteúdos por hora para faz crer que os destinatários espectadores vivem num país modelo, e que, se se esforçarem, poderão alcançar grandes benefícios. Uma ilusão que se desfaz quando terremotos, enchentes e outras catástrofes arrasam parte de nossa geografia e se dissipa a aparência de alvenaria psicológica de varejo, a publicidade e o teatro que ocultam os graves problemas da população”.

Empreendedores de ilusões
Para a revista, apesar da blindagem da mídia ao modelo econômico que se arrasta desde a ditadura de Pinochet, cada vez é mais real a possibilidade da irrupção, também, de cataclismos sociais, “impulsionados por eventos naturais ou por catástrofes ambientais originadas pelo próprio ser humano”.
“Como ideologia dominante, o neoliberalismo estimula o individualismo para truncar os vínculos de solidariedade social e de unidade das organizações populares. Instala-se a competição no afã de lucro como os instrumentos que irão fazer a sociedade progredir, o que provoca enorme fragmentação social”, destaca a publicação chilena, acrescentando que, dentro dessa lógica, o “empreendedor se converteu no modelo de cidadão que se propõe aos chilenos”, tendo como mensagem subliminar que, assim, “triunfam aqueles que merecem”, ocultando, no entanto, o fato de que, na prática, estes serão muito poucos, enquanto a imensa maioria será estrangulada pela competição e pelo controle do mercado pelas grandes empresas.

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Deslumbramento
Para a revista, a apatia dos chilenos diante do aumento da desigualdade social deve-se a essa ilusão sobre a possibilidade de ascensão social: “Deslumbrados, preferem ignorar que ninguém pode se tornar milionário honradamente. Podem aqueles que utilizam informações privilegiadas, enganam a seus sócios, evadem impostos, aproveitam as artimanhas tributárias e, sobretudo, exploram sem piedade os trabalhadores. Ninguém poderia se converter em multimilionário em 30 anos, como se ufana de tê-lo conseguido o presidente da República, Sebastián Piñera. A desigualdade exala por todos os poros do Chile. Não se expressa só nas relações entre as rendas. Há uma saúde para ricos e outra muito distinta para os pobres”, destaca a Punto Final.

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