As consequências da inflação nesses quatro meses do conflito entre Ucrânia e Rússia chegaram aos lares brasileiros, com aumento generalizado de preços e, ainda, com pouca expectativa de mudanças na situação econômica da família e do país no curto prazo. A maioria dos entrevistados (93%) afirma que o preço dos produtos aumentou ou aumentou muito em relação ao início do ano.
Esses dados são revelados pela mais nova rodada da pesquisa Radar Febraban, realizada pela Federação Brasileira de Bancos com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), com 3 mil pessoas, entre os dias 21 de maio a 2 de junho, nas cinco regiões do país.
Segundo o levantamento, a recuperação econômica ainda está longe do horizonte dos brasileiros. Metade dos entrevistados (51%) acredita que a sua vida financeira e familiar só irá se recuperar após 2022 ou isso sequer acontecerá. Quando pensam na recuperação da economia do país, é mais elevado o contingente de pessimistas (77%). Alinhados com esse sentimento, 66% têm expectativa negativa também no que se refere ao crescimento do país.
“A inflação é o inimigo número 1 do Brasil. É um fenômeno mais sério aqui porque, há 9 meses consecutivos, anualizada, vem ultrapassando a faixa dos dois dígitos. Além disso, está bastante disseminada e vem atingindo sobretudo as classes menos favorecidas. É mais sério também porque a inflação tem fatores estruturais, que estão entre nós, como o quadro fiscal débil que, vez por outra, volta a inspirar cuidados”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
A maior parte dos brasileiros (51%) acredita que a situação financeira familiar só irá se recuperar depois de 2022 (47%) ou nem irá se recuperar (4%). Uma parcela de 25% dos entrevistados acredita que a recomposição financeira da família irá ocorrer ainda em 2022. E mais 8% afirmam já ter havido uma melhora financeira em 2021, perfazendo 33% que já se recuperaram; além de 10% que afirmam não terem sido afetados.
Saindo do campo das finanças pessoais para a visão sobre a economia do país, os entrevistados se mostram mais cautelosos e 68% afirmam que só haverá recuperação após 2022. Esse percentual é o mesmo das rodadas de junho e setembro de 2021, quando também se imaginava que a retomada econômica somente ocorreria no ano seguinte. Hoje, os mais pessimistas quanto à recuperação da economia somam 9% e são principalmente os menos escolarizados (12%) e com menor renda (11%).
Nessa rodada do Radar foi incorporada pergunta sobre a expectativa de crescimento do país. Quase seis em cada 10 respondentes (59%) acreditam que esse se dará depois de 2022. Os percentuais aumentam um pouco entre o público feminino (61%) e os que têm ensino médio (62%).
É quase uma unanimidade (93%) a percepção de que a inflação e o preço dos produtos aumentaram ou aumentaram muito do início do ano para cá. Em todos os estratos, esse percentual fica igual ou acima de 90%, chegando a 96% entre os que ganham acima de cinco salários mínimos.
O consumo de alimentos e de outros itens do abastecimento doméstico é o item que mais impacta no orçamento das famílias hoje em dia (78%), representando aumento de 9 pontos em relação ao levantamento de dezembro passado. Atualmente, esse percentual chega a 82% entre as mulheres.
O peso do valor dos serviços de saúde ou remédios é mencionado por 17% do total da amostra, mas já foi um pouco maior em dezembro de 2021 (19%). Como esperado, o impacto deste item, hoje, é maior entre os de 60 anos ou mais (25%).
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