Paraisópolis, São Paulo (SP), Brasil. Até quando Deus quiser

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Entre as mais povoadas comunidades do Brasil, Paraisópolis preocupa muito na prática do distanciamento social, profilaxia ante a Covid-19, considerando as difíceis condições das habitações e das vias de circulação interna e de acesso que mais aproximam do que distanciam, das deficitárias condições de disponibilidade de água e abastecimento. De resto, não difere tanto das condições de outras comunidades faveladas.

Até aqui, Paraisópolis registra números relativos à contaminação e óbitos pela Covid-19 em proporções inferiores à metade dos verificados na cidade de São Paulo. É o resultado da criatividade, cooperação e solidariedade, que transformou em uma arquitetura dinâmica de prontas providências convergentes propostas por lideranças locais. São exemplos a conversão de duas escolas públicas estaduais, ociosas por conta da quarentena, em abrigos temporários, protegidos pelas medidas profiláticas conhecidas (máscaras, material de higiene para as mãos etc), para portadores do coronavírus com sintomas leves, a fim de evitar contaminarem outras pessoas com quem residem e que são grupos de risco. Cuidaram até de chamar artistas de rua (grafiteiros), para alegrar o espaço, com os seus trabalhos. Só falta agora o Kobra… o Eduardo Kobra.

Outros exemplos de atitudes são a chegada de dois médicos, dois enfermeiros e três socorristas de mudança para casas cedidas e custeadas por moradores, e os aluguéis de três ambulâncias para atender à população local. Empresas amigas colaboram no financiamento de despesas e hospitais de renome ajudaram a elaborar os protocolos de procedimentos.

Fazem parte das medidas adotadas a divisão da comunidade em grupos de cerca de 50 residências (total de 420 áreas), para as quais foram escolhidos “presidentes”, com a missão de verificar as condições de cada área e tomar providências junto aos profissionais de saúde ou, alternativamente, providenciar marmitas, para a alimentação dos mais necessitados (do total de mil, disponibilizadas por dia).

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É importante não se esquecer de que foi em Paraisópolis, São Paulo (SP), Brasil, que “a melhor polícia do mundo”, no dizer do governador do Estado de São Paulo, em 1º de dezembro de 2019, teria encurralado jovens negros participantes de um baile funk, em consequência do que, 9 morreram e 12 ficaram feridos. Após, 3 teriam sido sequestrados e 2 apareceram mortos, dentro de um veículo.

O governador disse serem os bailes funk “o cancro que corrói a sociedade”. Antes dele, outros já disseram parecido do samba e da capoeira…

 

#Fique em casa

Na paz. Bons vídeos, bons livros, boa música, boa companhia, friozinho, um cafuné, boa comida.

 

Paulo Márcio de Mello é servidor público aposentado (professor da Universidade do Estado do RJ – Uerj).

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