Parlamento do Irã aprova suspensão da cooperação com agência atômica

Parlamentares alegam que Aiea é cúmplice de Israel e dos EUA; associação diz que país tem capacidade para 'reconstruir suas instalações nucleares'

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Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Aiea (Foto: Eskinder Debebe/ONU)
Rafael Mariano Grossi, diretor-geral da Aiea (Foto: Eskinder Debebe/ONU)

O Parlamento iraniano aprovou hoje Projeto de Lei que suspende a cooperação do país com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) até que o Irã tenha garantias de segurança. O governo persa acusa a agência ligada à ONU de cumplicidade com Israel e os EUA.

O presidente da Assembleia, Mohammad Bagher Ghalibaf, informou, em rede social, “que qualquer cooperação com a agência ou envio de relatórios a ela, bem como a entrada de inspetores e gerentes da agência, serão proibidos até que a segurança das instalações nucleares e cientistas seja garantida”.

O porta-voz do Comitê de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento iraniano, Ebrahim Rezai, explicou que as condições de segurança para retomada da cooperação incluem “garantir o pleno respeito à soberania nacional e integridade territorial da República Islâmica”, segundo relevou à Hispan TV, canal estatal do Irã voltado ao público de língua espanhola.

“Tem que se garantir os direitos inerentes da República Islâmica do Irã de desfrutar de todos os direitos estipulados no Artigo IV do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, especialmente o enriquecimento de urânio”, completou Rezai, que exigiu ainda que o diretor-geral da Aiea, Rafael Grossi, seja processado.

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A votação ocorre um dia após o fim das hostilidades entre Israel, EUA e Irã, e é um desdobramento da crise no Oriente Médio. Teerã acusa a Aiea de agir “politicamente motivada” e dirigida pelas potências ocidentais, como EUA, França e Grã-Bretanha, que têm apoiado Israel na guerra contra Teerã, para justificar a agressão ao país.

A versão oficial dos governos de Israel e dos EUA para o ataque contra o Irã é a de que o país estaria próximo de construir bombas atômicas, o que o Irã sempre negou. Segundo Teerã, seu programa nuclear sempre foi pacífico e o país é signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o que permitia que a Aiea faça inspeções no seu programa.

Apesar de ainda não ter oficializado a saída do TNP, o professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG) Ronaldo Carmona argumentou que ficou evidente que, tanto Israel, quanto os EUA, querem uma “mudança de regime” no Irã, o que pode empurrar o país para se armar com ogivas nucleares.

“Diante desse cenário de uma ameaça existencial ao governo e ao regime do Irã, naturalmente, isso passa a ser, não tenha dúvida, um incentivo ao Irã de deixar de utilizar o seu programa nuclear para fins pacíficos, como tinha feito até agora, e passar a buscar o objetivo de ter uma arma nuclear como instrumento de dissuasão contra a ameaça sobretudo de Israel”, comentou.

Ainda segundo o especialista, as premissas originais do TNP, de promover o progressivo desarmamento nuclear, inclusive das grandes potências, não foi cumprido ao longo das décadas.

“O próprio Brasil aderiu ao TNP confiando nessa premissa de que haveria um progressivo desarmamento. Só que hoje o que você tem é o contrário. Há um desincentivo à permanência no sistema de não proliferação e um incentivo, sobretudo a países que são ameaçados com ações de ‘mudança de regime’, serem incentivados, então, a possuir armamento nuclear como instrumento último de dissuasão”, concluiu Carmona.

Nesta quarta, Rafael Grossi disse que o governo iraniano tem capacidade suficiente para prosseguir com a “reconstrução de suas instalações nucleares” danificadas pelos bombardeios de Israel e dos EUA.

Em meio ao debate sobre a verdadeira extensão dos ataques perpetrados por esses dois países contra essas instalações, Grossi afirmou que “ninguém pode negar que tecnicamente (os iranianos) estão qualificados e que existe uma capacidade industrial” para fazê-lo.

Foi o que ele disse da sede da organização em Viena, onde pediu a retomada das inspeções da organização no território iraniano, já que “algumas partes da infraestrutura nuclear iraniana sobreviveram a esses ataques”, como ele garantiu.

No entanto, ele se recusou a abordar diretamente os ataques dos EUA e de Israel ao programa, mas disse que “as operações militares têm sua própria lógica”. “Não estou aqui para avaliar se isso foi bom ou ruim; a situação é o que é”, disse ele, apesar da insistência de Teerã de que o órgão deveria condenar os ataques.

“A retomada das inspeções é nossa prioridade máxima”, disse ele, admitindo que uma investigação sobre as instalações danificadas seria “complicada”.

Alguns dos inspetores da Aiea permanecem no Irã apesar dos ataques, mas não conseguiram ter acesso às instalações em questão. “Há destroços e pode haver explosões”, disse ele, embora tenha afirmado que o risco de radiação é baixo.

Com informações da Agência Brasil e da Europa Press

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