Os parques eólicos no Nordeste (NE) financiados pela Sudene aumentaram o PIB per capita de municípios em 20%, aponta estudo realizado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A pesquisa avaliou o impacto dos recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) na construção de parques eólicos, analisando os efeitos nos indicadores socioeconômicos de 355 cidades do Nordeste, comparando municípios com e sem os equipamentos.
Além do impacto positivo no PIB per capita, o estudo encontrou um aumento expressivo no Valor Adicionado Bruto (VAB) dos setores industrial e de serviços. Houve elevação de 105% no valor adicionado da indústria em cidades com parques já em operação, enquanto nos municípios com parques ainda em construção, o crescimento foi de 32%. No setor de serviços, o valor adicionado subiu 10,78% nas cidades com parques já operacionais.
Porém, durante a fase de construção dos parques, houve uma redução de 8,9% no VAB do setor agrícola, resultado da ocupação temporária de terras para a instalação das turbinas. Após a conclusão das obras, os impactos negativos foram neutralizados, e as cidades com parques em operação não registraram prejuízos nesse setor.
No mercado de trabalho, o estudo da UFC revela um aumento de 23% nos postos formais de emprego nos municípios com parques eólicos, e a massa salarial – indicador que representa o total da renda gerada pelo trabalho – teve uma alta de 27,51%. Durante a fase de construção, os impactos também foram expressivos, com aumento de 19,40% nos empregos gerados e crescimento de 25,43% na massa salarial.
Sudene: parques eólicos mudam comportamento e cultura no Nordeste
O superintendente da Sudene, Danilo Cabral, comemorou os resultados da pesquisa da UFC e destacou o constante aprimoramento dos instrumentos da autarquia disponíveis para os empreendedores. “Os fundos regionais fortalecem as boas oportunidades de mercado oferecidas pelo Nordeste, especialmente no que diz respeito ao setor de energia. E nós buscamos, cada vez mais, verificar os impactos reais deste tipo de fomento ao setor produtivo, de modo a aperfeiçoar e dinamizar a oferta de crédito”, disse o gestor.
Segundo Heitor Freire, diretor de Fundos, Incentivos e Atração de Investimentos da Sudene, a instalação dos parques eólicos não apenas fortalece a economia, mas também promove uma mudança de comportamento e cultura nas localidades.
“O resultado é um desenvolvimento sustentável, que combina uma economia mais robusta com uma visão comprometida com a sustentabilidade. Esse novo cenário energético, que migra de uma matriz que degrada o meio ambiente para uma matriz de energias renováveis, traz não apenas benefícios econômicos, mas também sociais, como a geração de emprego e a melhoria da renda das comunidades locais”, comentou Freire.
Premiado no 9º Prêmio Tesouro Nacional de Finanças Públicas, o estudo “Avaliação de impacto do financiamento do FDNE na construção de parques eólicos e seus efeitos no mercado de trabalho e indicadores econômicos dos municípios na área de atuação da Sudene” foi conduzido por uma equipe multidisciplinar liderada pelo professor Guilherme Irffi, do Departamento de Economia Aplicada da Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade da UFC.
A ação é desdobramento de um trabalho conjunto entre a universidade e a Sudene com o objetivo de analisar os impactos da implantação de empreendimentos apoiados pelo FDNE sobre emprego, renda, produto e indicadores sociais dos municípios na área de atuação da Sudene.
Impactos na saúde
Se os impactos foram positivos na economia, o mesmo não ocorreu na saúde. Estudo realizado pela Fiocruz Pernambuco, em conjunto com Universidade de Pernambuco (UPE), divulgado no início de 2025, investigou os efeitos do funcionamento de parques eólicos sobre a saúde de moradores em áreas rurais do estado.
A chamada “síndrome da turbina” tem sido associada a sintomas como insônia, irritabilidade, dores de cabeça e ansiedade, provocados pelo ruído constante e pelos infrassons emitidos pelo funcionamento das torres eólicas.
“Atualmente não há soluções eficazes para minimizar os impactos das torres e turbinas nas comunidades locais. A falta de mitigação para os ruídos e vibrações gerados por essas estruturas tem levado muitas pessoas a se mudarem para as zonas urbanas, já que a paralisação das torres não é uma opção viável. Na primeira etapa da pesquisa, em 2023, 70% dos 105 entrevistados manifestaram a vontade de deixar suas residências devido a essas questões”, revela a Fiocruz PE.
O estudo aponta que 66% dos moradores (de crianças a idosos) utilizam medicamentos para dormir. Mais da metade (54%) relataram ter perda auditiva, e 31% reclamaram do incômodo visual causado pelas sombras das pás girando, o chamado efeito estroboscópico, que deteriora a saúde mental dessa população, juntamente com o ruído. Além de todos esses impactos observados, 41% relataram alergias e dermatites por conta da poeira espalhada pelas hélices nas casas ao redor.
“Temos contribuído com diversas entidades e com nossos alunos da Universidade de Pernambuco, do Campus Garanhuns, e do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz PE), para minimizar os efeitos decorrentes das torres eólicas em Caetés, especialmente no que se refere às infrações ambientais. Esse trabalho é uma iniciativa colaborativa, em que o processo está sendo reorientado e compartilhado com outros pesquisadores”, afirmou o coordenador da pesquisa, André Monteiro, em matéria da Assessoria de Comunicação da Fiocruz PE.
Intitulado “Processos de vulnerabilização e os conflitos socioambientais decorrentes da implantação e operação de parques eólicos em comunidades camponesas no Agreste Meridional de Pernambuco”, o projeto conta com a cocoordenação da professora da UPE Wanessa da Silva Gomes. O financiamento da iniciativa é do Programa Inova Fiocruz, por meio do edital Programa de Excelência em Pesquisa (Proep) IAM de 2022.