País vive “momento mágico” de transformação

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O seminário foi avaliado pelo público presente e por diversos palestrantes como “muito oportuno” em razão do quadro social e a conjuntura econômica enfrentados pelo país, a começar pelo chefe do Gabinete Civil do governo do Estado do Rio de Janeiro, Lúcio da Silva Santos, que representou a governadora Benedita da Silva. Ele disse também que o país vive um “momento mágico” de transformação, sobretudo com a perspectiva de vitória da oposição nas eleições de outubro.
“Toda a sociedade deve se engajar de forma ativa nesse processo. Cidadania e o marketing social serão instrumentos fundamentais para a construção do país que queremos e a iniciativa do MONITOR MERCANTIL de promover essa discussão é digna de louvor”, salientou.
Santos ressaltou que as parcerias entre as forças produtivas, do governo e do terceiro setor passaram a ser imprescindíveis no combate às mazelas sociais brasileiras. “O momento é de sinergia e um representante dos trabalhadores (como Lula ou Bené) não é mais visto como inimigo pelos empresários. De nossa parte, reconhecer o papel do empresário, que oferece empregos formais, não nos torna menos de esquerda”, avalia.
Santos disse ainda que, no plano estadual, a governadora Benedita da Silva está arcando com pesada herança. “O governo anterior comprometeu o orçamento anual em frentes de trabalho e até programas sociais, mas sem respaldo financeiro para ir até o fim do exercício. Encontramos um déficit orçamentário e financeiro de R$ 1,3 bilhão. O ex-governador assinou, no dia 26 de março, aumentos para diversas categorias, com destaque para a Turisrio (70%) e Emop (35%), numa atitude imoral e proposital”, finalizou.
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Romper com o presente e com o passado
Abrindo o ciclo de palestras, o coordenador do Centro de Estudos Estratégicos e membro do Conselho Editorial do MONITOR MERCANTIL Darc Costa destacou que o Brasil vive um momento decisvo. “O país precisa romper com o presente e com o passado, que neste momento o amarram. Sempre fomos vistos como espaço de exploração, fornecedores de matéria-prima, não de acumulação”, criticou Darc. “Pelo sincretismo religioso e por suas características antropofágica e mestiça, o Brasil é o lugar ideal para a realização do sonho da solidariedade universal, da “pátria humana”, a base do pensamento ocidental. O povo mestiço – diferente de multiracial – conferiu ao Brasil o dom da tolerância”.
Darc rassalva que, hoje, somos uma incógnita. “Acumula quem inova – investe em ciência e tecnologia – e detém monopólios e não quem compete, como se tem repetido. O país não vive ainda o período que ficou conhecido como Iluminismo, que significou o surgimento da sociedade industrial e da Revolução Francesa, quando passam a prevalecer as idéias sobre os dogmas, o conceito de cidadania e o surgimento do Estado nacional moderno. No Brasil, há contradição entre Estado moderno e sociedade industrial. Democracia pressupõe igualdade de oportunidades”, frisou.

Atual padrão de produção é insustentável
A coordenadora de Responsabilidade Social da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), Susie Krelling, enfatizou que a resposta aos limites atualmente impostos ao crescimento econômico pela finitude dos recursos naturais e pela desigualdade social – tema de sua palestra – está no indivíduo. “E nós, brasileiros, pela nossa formação, somos a solução. Manter o atual padrão de produção e consumo não é mais questão de escolha. Sem distribuição de renda não há como conscientizar para a causa planetária, por isso, e porque o Brasil tem 20% da água do planeta, o espírito liberal está vindo com tanta sede ao pote. Susie citou que países como Brasil, Peru e Nova Zelândia mantêm saldo positivo na diferença entre biocapacidade e pegada ecológica, enquanto Estados Unidos, Japão e Cingapura são deficitários”, disse ela, que está fazendo mestrado sobre Responsabilidade Social (RS) na Inglaterra.
A coordenadora de RS da Copel destacou o projeto “Luz das letras”, desenvolvido pela empresa e que disponibiliza, gratuitamente, um software para alfabetização no computador.
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Empresa deve ir além de gerar lucro e empregos
Por sua vez, a diretora executiva da Fundação CSN, Cláudia Jeunon, confirmou os resultados positivos das ações de responsabilidade social (RS) para a Companhia Siderúrgica Nacional. “Dois em cada três consumidores acham que a empresa deve ir além de pagar impostos e gerar lucro e empregos”, contabiliza. Para ela, RS faz com que a empresa administre melhor seus recursos e obtenha retorno de imagem. “É requisito de acesso ao mercado e traz credibilidade à marca, como prova a exigência do ISO 14000. Na década de 90, as empresas com maior responsabilidade social têm tido melhor desempenho no Dow Jones”, informou.
“A CSN deixou de ser um das maiores poluidoras do Estado do Rio, tendo investido US$ 200 milhões em três anos. A estratégia implicou ainda em audiências públicas com a sociedade, auditorias e a definição de metas que impactam na participação nos lucros e estimulam a auto-denúncia”. Com efeito, ela relatou que hoje 6% do faturamento da empresa advêm de resíduos tratados e que 60% da energia gerada na companhia é fruto do aproveitamento de gases do processo de produção. “Melhorou a qualidade do ar em Volta Redonda e 85% da água é reciclada”, resumiu.
Contato: www.csn.com.br

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Criando valor para quem investe em RS
Nádia Rebouças, da Rebouças & Associados, lamentou o fracasso da Rio+10, na África do Sul, que classificou de “tragédia”, afirmando também que o atual governo significou retrocesso para o país. “Hoje, o terceiro setor é uma realidade devido à responsabilidade comunitária assumida pelas empresas. Atualmente trabalha-se com foco em critérios e links entre ONGs e empresas”, disse, acrescentando que já existe um “banco de relacionamentos mundiais sendo construído com a globalização”. Para ela, a maioria das marcas começa a buscar uma reputação. “Está se criando um valor para quem investe no meio ambiente e na RS. Os financiadores e consumidores exigem”.
Nádia Rebouças confessou que enfrentou “problemas existenciais” no trabalho com o marketing. “É uma caixa de ferramentas para o bem ou para o mal? Afinal, Hitler mostrou como o marketing, que é mais complexo que a propaganda, é eficiente e perigoso. Apostei, então, no mercado de pessoas que acreditam em seu potencial de transformação. Isto ajudou a construir a campanha da Cidadania Contra a Fome”, disse ela, para quem no último século o marketing não vendeu produtos, mas estilos de vida, comportamentos.

Empresa deve agir como parte da sociedade
No espaço reservado aos casos de sucesso no marketing social, o representante da ONG Viva Rio, Ruben Cesar Fernandes, citou a própria criação do Viva Rio, a última edição do Rock in Rio e o sítio www.vivafavela.org.br, elaborado pelas comunidades carentes, que utiliza uma estação com conexão sem fio. “Esta tecnologia ficou conhecida no Brasil inteiro”, contou.
Para ele, o Marketing Social é uma das poucas mudanças culturais significativas após os anos 70. A tradição era que empresas cuidassem de negócios, a Igreja das obras sociais e o Estado da segurança pública. Hoje a empresa age como parte da sociedade e do meio ambiente. Algumas criam fundações e instituições”, destacou.
Segundo Fernandes, a criação do Viva Rio se deu a partir da idéia de que a sociedade deveria fazer alguma coisa contra fatos como as chacinas da Candelária e Vigários Geral, ocorridas em julho e agosto de 1993, respectivamente. “É possível juntar representantes de toda a cidade numa sala”, advoga, esclarecendo que o conselho do Viva Rio é formado por 30 pessoas.
Contato: www.vivario.org.br

Informática contra a falta de oportunidades
Rodrigo Baggio, do Comitê para Democratização da Informática (CDI), historiou a trajetória das Escolas de Informática e Cidadania (EIC), idealizadas por ele em março de 1994, que hoje já somam 617 espalhadas pelo mundo. “Nos médios e grandes centros urbanos as pessoas não morrem de fome, mas por falta de oportunidades”.
A primeira EIC surgiu da parceria entre a ONG do morro do Santa Marta (Zona Sul carioca), de uma loja de roupas e da Igreja. “Visibilidade é fundamental e na inauguração a mídia apareceu. Isso garantiu a adesão de mais voluntários e doadores”, contou Baggio, que vê a tecnologia como ferramenta cidadã.
“As escolas do CDI são capazes de andar com as próprias pernas a partir do primeiro dia. São vistas como projeto da própria comunidade e, ao estilo Paulo Freire, a realidade local é aproveitada. Segue um modelo de franquia social, inteiramente não lucrativo”, explicou. O Comitê já ganhou diversos prêmios, inclusive internacionais, e recebeu doação de US$ 5 milhões da Microsoft – “que usa muito bem o marketing social”.
Contato: www.cdi.org.br

Estado do Rio prioriza ação com foco na família
No fim do primeiro dia do Seminário, Olga Maria Salgado, da Secretaria de Ação Social do Estado do Rio de Janeiro, parabenizou a iniciativa do MONITOR MERCANTIL e explicou porque a ação social desenvolvida atualmente no estado é focada na família. “Ao focar na família, entendemos que ela tem diferentes formas atualmente, mas todas as carentes estão baseadas na solidariedade”, comentou, acrescentando que o Rio acaba de sair de um período de “desresponsabilização” social.
Ela lembrou que o processo de globalização tornou a legislação obsoleta e aumentou a importância política da assistência social. “Apenas 20% da população rica detêm 82,7% da renda no mundo. No Brasil, o pouco que é feito em termos de assistência é de péssima qualidade”, disse, explicando que o Estado é formulador de políticas sociais, enquanto o município responde pela execução.
“Com o surgimento do terceiro setor, que não é Estado nem mercado, o momento é de rediscutir os conceitos de público e privado”, disse, reconhecendo que há problemas de relacionamento entre o poder público e as ONGs. “Mas o momento é de sinergia e todos os projetos precisam de parcerias, inclusive com os funcionários da secretaria, que foram chamados a debater sobre a política de ação social do estado”, finalizou.
Contato: www.governo.rj.gov.br

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