PEC 6×1 e a contabilidade: o mercado está preparado para o 4×3?

Os desafios da PEC 6x1 na contabilidade, incluindo o impacto da escala 4x3, compliance e custos. Por Max Gabriel.

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Fim da escala 6 x1 (Foto Divulgação)

Se há algo que a recente “PEC 6×1” tem feito, é fomentar o debate sobre novas formas de trabalhar. Apesar do foco em acabar com a escala de seis dias, o projeto também apresenta uma sugestão de escala 4×3 para ser discutida pelo governo e pela sociedade, abrangendo ainda mais setores em todo o país.

Cada área do mercado funciona de maneiras diferentes; enquanto o comércio atua comumente com uma só folga por semana, outras indústrias possuem escalas variadas, como o 12×36, em que se trabalha por doze horas e folga pelas próximas 36. A reavaliação desses modelos é importante e precisa acontecer de tempos em tempos, como a História nos mostra. A tecnologia avança, e a humanidade também, o que implica mudanças no modo como vivemos.

Na prática, há muito a considerar para que esse tipo de transformação realmente aconteça. Pensando especificamente na área de contabilidade, há uma série de desafios a serem enfrentados para que um possível formato 4×3 seja implementado.

Em primeiro lugar, é preciso falar da demanda. Com o alto nível de compliance exigido pela legislação brasileira, o fato é que contadores já fazem hora extra com frequência. São inúmeras minúcias, checagens, revisões e atualizações constantes nas leis. Mesmo com a Reforma Tributária se aproximando, ainda possuímos um dos sistemas fiscais mais complexos do mundo, e parece improvável que seja possível dar conta do trabalho com um dia a menos na semana.

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Diante disso, restam duas opções: investir em tecnologias de ponta para agilizar os processos e dar um respiro para os profissionais, ou contratar mais pessoas para preencher o gap deixado pela nova folga. Em ambos os casos, há aumento de custos, o que nem todo escritório será capaz de suportar. Os que puderem naturalmente terão que elevar os valores cobrados, o que impacta o mercado como um todo e cria uma onda de aumento de preços em todos os setores, já que a contabilidade é essencial para todo tipo de negócio.

Mesmo a contratação de novos talentos traz desafios próprios, pois há uma falta evidente de profissionais capacitados na área contábil. Até mesmo iniciativas sociais têm sido criadas no país para estimular mais jovens a ingressarem na carreira, tamanha a preocupação com a situação. Portanto, mesmo que o escritório consiga pagar por novos funcionários, encontrá-los não é uma tarefa simples.

É por isso que qualquer alteração significativa no modelo de trabalho atual precisa ocorrer a partir de muita conversa com todos os setores da sociedade. Com os acordos e compromissos certos, que contemplem igualmente os impactos econômicos e sociais, a proposta pode ser desenvolvida. Caso contrário, será difícil superar até mesmo os primeiros obstáculos — e a contabilidade, certamente, não pode ser deixada para depois.

Max Gabriel é sócio-proprietário da Sima Contábil, empresa associada à Associação Brasileira de Provedores de Serviço de Apoio Administrativo (Abrapsa).

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