Um fantasma nada santo deve recomparecer à convenção do PMDB neste fim de semana, em Brasília. O grupo do ex-governador Anthony Garotinho promete reavivar a memória dos convencionais sobre o escândalo que levou à quebra do Banco Santos.
Juros impopulares
Dogma irremovível para as sucessivas equipes econômicas que se sucedem no comando do país há cerca de 15 anos, a manutenção de juros elevados para atrair capital estrangeiro é criticada por 52,7% dos economistas. O resultado consta de pesquisa divulgada recentemente pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon) com o objetivo de conhecer o perfil dos economistas nacionais. Embora os dados remontem a 1996 – o mais recente sobre a categoria – quando o estudo foi realizado, a leitura de alguns deles mostra-se particularmente atual pela manutenção e pelo aprofundamento da população econômica de então.
O então recorrente déficit da balança comercial e o aumento da dívida externa eram vistos por 59,3% dos economistas como a principal causa da fragilidade econômica brasileira. Naquela época, 40% dos economistas discordavam de que as privatizações e as reformas em andamento seriam suficientes na garantia do equilíbrio fiscal.
O Brasil tem hoje cerca de 80 mil economistas, segundo o vice-presidente do Cofecon, Aurelino Levy Dias de Campos, que admite refazer a pesquisa para atualizar dados sobre o perfil da categoria, argumentando que muita coisa mudou nesses últimos dez anos: “Para ser ter uma idéia, basta observar os resultados alcançados: 82,3% dos economistas eram do sexo masculino, e apenas 17,7% do sexo feminino. Quanto à raça 84,7% declararam brancos, 11% pardos, 2,6% negros, 1,6% amarelos e 0,1% indígena”, afirma Campos.
Das razões
A decisão de estudar economia teve pouca influência da família: 73,7% dos entrevistados não tinham pais com curso superior completo. Segundo 43%, a escolha da profissão foi influenciada pela vontade de conhecer e entender os problemas dos países; para 15,5%, pela conquista de emprego, e por 11,3% pela “facilidade” de acesso ao curso.
Perfil
O principal empregador era o setor público: 45,6%, contra 40,8%, que trabalham em empresas privadas nacionais e multinacionais – no Centro-Oeste, esses índices eram de 34,8% e 19,1%, respectivamente. Os que eram funcionários públicos, no entanto, ganhavam 20% a menos que o rendimento médio da categoria.
Nacionalismo seletivo
Em sua coluna na Folha de São Paulo, de quinta-feira, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. recorre a fina ironia para criticar o nacionalismo de ocasião que irrompeu em setores da imprensa tupiniquim: “A crise com a Bolívia desencadeou, em certos meios políticos e jornalísticos brasileiros, uma súbita e veemente onda nacionalista. O clima é de indignação ruidosa e preocupação alarmada com os interesses nacionais. Há muito tempo não se vê tanta ênfase patriótica na imprensa e no Congresso. Até notórios integrantes da famigerada quinta-coluna enrolaram-se na bandeira nacional e exigiram providências duras contra o país vizinho. São os mesmíssimos políticos, jornalistas e economistas que se notabilizam por grande docilidade quando há conflitos de interesses, não com a pobre Bolívia, mas com os Estados Unidos ou outros países desenvolvidos. Um espetáculo edificante.”
Muy amigos
O diretor de Comunicação da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira, revela que os ataques contra a Petrobras, na Bolívia, não partiram do governo nem do povo boliviano, mas da concorrência multinacional: “Soube por companheiros que trabalhavam na Bolívia que a Repsol, detentora do maior volume de reservas no país (25%), antes da nacionalização, vinha fazendo campanha junto à população boliviana contra a Petrobras, que detém apenas 13% das reservas”, conta.
Fora de foco
Se o ministro das Comunicações, Hélio Costa, canalizar para sua área de atuação o mesmo furor com que se lançou na defesa dos interesses nacionais em relação ao gás que vem da Bolívia, os brasileiros terão muito a ganhar. Nesse caso, os defensores de conteúdo e padrão tecnológico nacionais para a TV digital ganharão um aliado que, pelo posto que ocupa, poderá fazer muito mais do que gritar slogans nacionalistas.