Pela preservação dos biomas nacionais

Preservação da Amazônia é crucial para o equilíbrio climático, biodiversidade global e da proteção dos biomas. Por Paulo Alonso.

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Desmatamento na Amazônia
Desmatamento na Amazônia (Foto: divulgação)

A Amazônia desempenha um papel preponderante para a Terra, uma vez que absorve e concentra carbono que poderia estar na atmosfera. Lamentavelmente, essa situação vem sendo reduzida em decorrência do descaso de governos, do desmatamento criminoso e das mudanças climáticas pelas quais passa o Mundo e a própria Amazônia. O Brasil tem seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Precisam ser conservados, pois são bens inalienáveis do país. O que se verifica, todavia, são ações muitas vezes predatórias de queimadas, de desmatamentos e de poluição em suas águas por ações do próprio homem, seja por ignorância, seja por cobiça.

O bioma Amazônia vem se transformando em emissor de carbono, em vez de sumidouro, ou seja, está na contramão das melhores e mais requisitadas práticas ambientais. Obviamente que a intensificação da estação seca e o desmatamento crescente promovem gravíssimo distúrbio ao ecossistema, aumentando a incidência de queimadas e das emissões de gases de efeito estufa. Na realidade, com essa situação extremamente desconfortável e contrária às normas mundiais relativas ao meio ambiente, está se fazendo com que a Amazônia, essa riqueza brasileira e cobiçada pelo Mundo, perca a sua condição de remover carbono da atmosfera, deixando o clima “superestressado”, aumentando, em consequência, a mortalidade das árvores, resultando em emissões muito maiores do que em remoções.

Pesquisadores coletaram recentemente amostras de ar em altitudes de 150 metros a 4,5 quilômetros acima do nível do mar, em 590 medições feitas em sobrevoos, de 2010 a 2018. Analisaram as concentrações de dióxido de carbono (CO2) e monóxido de carbono (CO). O trabalho aconteceu em quatro regiões do bioma, capazes de representar o cenário da Panamazônia.

Na parte nordeste, houve um desmatamento proporcional de 31% da área ao longo de 40 anos. Na estação seca (agosto, setembro e outubro), identificaram uma queda de 34% da precipitação e uma elevação de 1,9ºC na temperatura. No sudeste do bioma, com 26% da cobertura vegetal suprimida, choveu 24% menos na estação seca e a temperatura média subiu 2,5ºC. As duas regiões já se transformaram em emissoras de carbono, já que o volume absorvido é inferior aos gases emitidos pelas queimadas.

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Imprescindível destacar que uma árvore da floresta tropical úmida está adaptada para ter abundância de água e temperaturas amenas. Essa é a única região da Amazônia onde a floresta virou fonte de emissão, porque está morrendo mais árvores do que a floresta que continua em pé consegue remover.

As emissões na estação seca seguem neutras no oeste da Amazônia e tem compensado o balanço de carbono no bioma, mas a região já sente os efeitos em cascata vivenciados no leste. No noroeste, apenas 7% da região foi desmatada, mas houve queda em 19% na precipitação e aumento de 1,7ºC na temperatura média. Já no sudoeste, com 13% da vegetação suprimida, ocorreu uma redução de 20% nas chuvas e alta de 1,7ºC.

Outros dados mostram uma queda de 55% do desmatamento na Amazônia entre agosto de 2023 e abril de 2024, com 2,686 mil km² de área devastada. Já no Cerrado, que vem enfrentando maiores dificuldades de preservação, o Deter (Coordenação Geral de Observação da Terra) apontou um crescimento de 27% no desmatamento entre agosto e abril, com destruição de quase 5 mil km².

A Floresta Amazônica recebe do Atlântico em média 2,2 mil mm de chuva por ano. As massas de ar vindas do oceano entram pelo Nordeste da Amazônia e seguem em direção ao Noroeste, onde são barradas pela Cordilheira dos Andes e redirecionadas para o Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, além de outros países sul-americanos. Conforme os rios voadores desaguam ao longo da Amazônia, a evapotranspiração das árvores devolve entre 20% e 50% da água.

A remoção das florestas leva ao aumento da temperatura e reduz a evapotranspiração. Com isso, ocorre a redução da precipitação. O desmatamento regional e a extração seletiva levam à degradação das florestas adjacentes, o que aumenta a vulnerabilidade ao fogo, promovendo mais degradação.

Acrescente-se que o desmatamento representa duas vezes a emissão de carbono. Uma direta, quando desmatam e aproveitam só os troncos maiores para vender madeira, a maior parte ilegal; esperam o resto secar por dois, três meses, e tocam fogo. Só que aí a vegetação toda está superseca, e esse fogo queima inclusive a região ao redor, que não está desmatada. Com isso, há cada vez mais incêndios incontroláveis em reservas, em áreas não desmatadas, em áreas protegidas.

Dos 2,18 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente lançados na atmosfera pelo país, 44% provêm de mudanças de uso da terra e 28% da agropecuária, seguidas pelo setor energético (19%), processos industriais (5%) e gestão de resíduos (4%).

Há uma forte pressão para a expansão da pecuária na Amazônia, onde está 36% do rebanho bovino brasileiro, espalhado em 39% das áreas desmatadas no bioma.

O destino da Amazônia é central para a solução das crises climática e de biodiversidade. Os ecossistemas amazônicos são um dos elementos mais críticos do ciclo global do carbono e do sistema climático.

As atividades de reflorestamento promovem a remoção ou sequestro de CO2 da atmosfera, diminuindo a concentração deste gás de efeito estufa e desempenhando um importante papel no combate à intensificação do efeito estufa. A remoção do gás carbônico da atmosfera é realizada graças à fotossíntese, permitindo a fixação do carbono na biomassa da vegetação e nos solos. Conforme a vegetação vai crescendo, o carbono vai sendo incorporado nos troncos, galhos, folhas e raízes. Cerca de 50% da biomassa vegetal é constituída de carbono, e a floresta amazônica é um grande estoque mundial de carbono pela sua área e densidade de biomassa, armazenando cerca de 136 toneladas de carbono por hectare.

O reflorestamento é uma prática que garante benefícios para a fauna, flora e para a sociedade como um todo. Trata-se de uma ação de repovoar, replantar e garantir a manutenção de espécies vegetais em que foram abandonadas, desmatadas ou onde ocorrem incêndios. É, pois, um meio de preservar a existência de biomas ameaçados pelas atividades humanas.

Além disso, essa é uma ação que promove o combate às mudanças climáticas, uma vez que as florestas são fundamentais para regulação do clima, fixação de carbono no solo e manutenção do ciclo da água. Serve para impedir a erosão e os deslizamentos de terra em períodos de chuvas, bem como, garante a manutenção da vida de micro-organismos decompositores, que promovem a fertilização do solo. O reflorestamento também diminui o risco das epidemias e pandemias, tendo em vista que mantém a biodiversidade protegida e em equilíbrio. Além disso, o reflorestamento melhora a qualidade do ar das cidades, pois as árvores resgatam o CO2 liberado pelos carros no tráfego. Já em áreas rurais, o objetivo é conservar a vegetação nativa, proteger e restaurar uma área desmatada ou queimada, ou ainda criar uma agrofloresta produtiva.

Na COP 26, realizada em 2021, os representantes do governo anunciaram a meta de zerar o desmatamento ilegal de 2030 para 2028, e prometeram alcançar uma redução de 50% até 2027. A preservação da Amazônia é essencial, pois captura uma grande quantidade de gases do efeito estufa, estocando o equivalente a cinco anos das emissões globais desses gases nas árvores e no solo.

A importância do reflorestamento se dá simplesmente porque as florestas são fundamentais para absorção de gás carbônico atmosférico, na recomposição da biodiversidade, na manutenção dos lençóis freáticos. Dentro dessa necessidade, o plantio de eucalipto é o mais comum: estima-se que atualmente no Brasil 70% das florestas plantadas sejam de eucalipto mais rentáveis ao produtor porque não apresentam tantas exigências na cultura e manejo e pela sua capacidade de adaptação.  

O reflorestamento gera um menor consumo de água e é capaz de absorver mais água na época de chuva e menos em época de escassez, as florestas de eucalipto também consomem menos água do que plantações de soja, arroz e cana-de-açúcar. Ele pode ser natural ou intencional, sendo que o segundo tipo é realizado pelos humanos e tem o objetivo de ajudar na manutenção de mata ciliares, contribuir para a restauração de ecossistemas e absorver gases do efeito estufa. Já o intencional não somente foca no plantio, mas também na manutenção da vegetação dessas áreas que foram degradadas ou destruídas.

O reflorestamento gera centenas de benefícios para o planeta e meio ambiente, por isso deve ser incentivado por todas as nações. Um dos benefícios do reflorestamento é a reposição da madeira dura tropical que, infelizmente, existe em quantidades cada vez menores no Brasil.

Conhecida principalmente por suas densas florestas tropicais, a bacia amazônica mantém cerca de 40% das florestas tropicais remanescentes do mundo. É de importância global como provedor de serviços ecossistêmicos, como remoção e armazenamento de carbono da atmosfera, e desempenha um papel vital na regulação do clima da Terra. A área também é um enorme reservatório da biodiversidade do planeta, fornecendo habitats para uma em cada 10 das espécies conhecidas do planeta. Estima-se que, na Amazônia, 1.000 espécies de árvores podem povoar uma área menor que meia milha quadrada.

Desde 1960, a Amazônia perdeu cerca de 20% de sua cobertura florestal devido aos desmatamentos e incêndios. Prevê-se que a perda de floresta chegue a 21% a 40% até 2050, e essa perda de habitat terá grandes impactos sobre a biodiversidade da região.

As políticas para proteger a biodiversidade amazônica devem incluir o reconhecimento formal das terras indígenas, que são mais de um terço da região amazônica, já que, como é sabido, terras possuídas, usadas ou ocupadas por povos indígenas têm menos declínio de espécies, menos poluição e recursos naturais mais bem administrados.

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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