Perspectivas do mercado brasileiro de seguros

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Claudia Eliza e Luís Ruivo (fotos divulgação PwC Br)
Claudia Eliza e Luís Ruivo (fotos divulgação PwC Br)

Conversamos com Claudia Eliza e Luís Ruivo, sócios da PwC Brasil, sobre as perspectivas do mercado brasileiro de seguros.

 

Como vocês estão vislumbrando o mercado de seguros daqui a 5 anos?

Cláudia – Hoje, o mercado de seguros possui grandes oportunidades e potencial de crescimento, já que o Brasil possui um percentual muito pequeno do PIB de seguros contratados. À medida que a população vai se educando, as pessoas vão ficando mais interessadas em seguros.

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Na pandemia, seguros como residencial, vida e saúde tiveram um crescimento absurdo, ao mesmo tempo em que vimos uma queda dos seguros de carros. Neste período, o perfil dos segurados e da busca dos produtos mudou muito, e vai mudar ainda mais no futuro.

Com o Open Insurance, as seguradoras possuem duas grandes preocupações: vender mais e reter o que elas têm agora, já que a taxa de retenção tende a cair. A seguradora que não investir em tecnologia e não aproveitar o ecossistema que está vindo com o Open Insurance, não vai conseguir se sustentar nos próximos anos.

 

Ruivo – A expansão do segmento de seguros depende da expansão de produtos. Quem vem criando novos produtos e segmentos são as startups, especialmente os microsseguros. Outro dia, eu vi uma startup que está trabalhando com orçamentação de reparos de automóveis através de fotos. O cliente bate a foto e em questão de minutos o reparo é autorizado ou não, o que permite reduzir custos e tempo de aprovação.

No futuro, o mercado poderá ser menos concentrado devido a entrada de novas empresas com novos produtos, e da oferta de seguros mais baratos gerados por operações mais baratas em decorrência do uso da tecnologia e dos benefícios gerados pelo Open Insurance.

Um ponto importante é como será a distribuição de seguros. Esse será um longo processo de transição, já que nós temos várias gerações comprando seguros. Como existem produtos complexos que não têm como serem automatizados para serem comprados com um click na internet, certamente haverá pessoas que vão continuar preferindo ligar para o corretor. Quando se fala de seguros, parece que se está falando de uma coisa só, mas não se compra facilmente um plano de previdência online. Há muito conservadorismo, pois a população prefere comprar de um banco porque associa o produto à solidez, e não de um novo entrante que não se conhece no mercado.

Inclusive, as seguradoras terão que fazer mais parcerias para tratar da distribuição, já que o Open Insurance vai gerar uma revolução nessa área. Por exemplo, uma empresa que está vendendo ingressos para um evento poderá se integrar facilmente a uma estrutura de Open Insurance para vender um seguro junto, de uma forma mais fácil do que é hoje, que depende de parcerias.

Quem souber trabalhar preço, vai ter oportunidade, mas é importante lembrar que mesmo no mercado de seguros de automóveis, que é um mercado de commodity, o principal diferencial das seguradoras não é o preço. Tem gente que aceita pagar mais caro para ter coberturas e assistências melhores ou para ter o apoio do corretor em caso de um sinistro.

 

Cláudia – É importante dizer que, infelizmente, é obrigatória a utilização dos corretores na contratação de seguros. A tendência é que a legislação mude, já que a venda direta na internet pode diminuir a necessidade do corretor. Nós não sabemos o que vai acontecer por conta dessa regulamentação, mas existem muitos países onde você não tem a obrigatoriedade de fazer com o corretor.

 

Ruivo – Como eu comentei, existem produtos de seguros que requerem assessoria. Por exemplo, você consegue investir num fundo sozinho, sem que isso seja, necessariamente, o melhor investimento. Se você tiver condições de pagar uma assessoria, talvez você tenha acesso a outros produtos. Apesar de ser fácil contratar online, muitas pessoas preferem contratar uma assessoria.

É uma ilusão achar que tudo poderá ser contratado diretamente. O mercado vai mudar, mas vai ter gente que não vai querer contratar de forma automática, online, porque vai querer uma assessoria para poder comprar produtos melhores e mais sofisticados.

As atividades com pouquíssimo valor agregado tendem a morrer, pois serão substituídas pela tecnologia. As atividades que dependem de conhecimento e especialização talvez continuem e evoluam. O Open Insurance deve facilitar a vida de quem presta esse tipo de serviço.

 

O mercado brasileiro de seguros tem um potencial que não se realiza. Isso se deve a questões econômicas, ou seja, o Brasil é um país pobre, ou de educação?

Cláudia – O principal ponto é a educação, aspecto em que estamos há anos-luz dos países desenvolvidos. As pessoas não conhecem as vantagens de ter um seguro. A nossa população sabe o que é o INSS, mas não conhece uma previdência privada. No que o país for crescendo e o povo sendo educado, a tendência é que haja mais interesse em seguros. Os países desenvolvidos têm um percentual muito maior de seguros do que o nosso. Com seguro-saúde, nós estamos batendo em 6,5% do PIB. Sem ele, 3,5%. Nos países desenvolvidos, essa participação está na casa dos 20%.

Essa questão se deve mais ao conhecimento do que à pobreza da população. Por exemplo, nós não vemos uma grande penetração de seguros na classe média, apesar de ter aumentado bastante nos últimos anos.

 

Ruivo – Eu concordo que o maior problema é a educação. Se considerarmos a relação prêmio x PIB, o Brasil fica muito atrás das economias desenvolvidas, e até mesmo de países emergentes. Num país em que grande parte da população investe em poupança, você vê que há uma questão de educação financeira.

Por outro lado, talvez isso não valha para todos os segmentos de seguros. Repare que apenas 30% da frota brasileira de automóveis tem seguro. Esse número não cresce, havendo momentos em que encolhe. As pessoas olham e acham que se pode fazer seguro para o resto (70%), mas não é bem assim. Quando se vai atrás, se verifica que boa parte da frota no Brasil não tem IPVA pago. Antes de contratar um seguro, a pessoa vai pagar o IPVA. Também existe uma parte para a qual as seguradoras não aceitam o risco devido à questões como a residência em um local com muitos assaltos ou problemas relacionados ao CPF da pessoa que quer contratar o seguro.

Outra parte é que a população não tem dinheiro para comprar seguro, o que levou ao surgimento das associações de proteção veicular. Por mais que essas associações não sejam seguradoras, elas cresceram e oferecem um produto muito parecido a um seguro, sem que ele tenha regulamentação, o que faz com que o cliente fique à mercê da honestidade delas.

Essa situação fez com que o segmento de automóveis, assim como outros, tenha virado um jogo de “rouba-montinho” nos últimos anos. Nesse caso específico, eu não sei se é a falta de educação da população, já que é um produto muito consolidado no Brasil. Talvez seja a falta de dinheiro mesmo.

 

Cláudia – O seguro de automóveis tem que ser visto à parte. Os seguros de vida, incêndio e previdência são impactados pela falta de conhecimento, mas eu concordo que os seguros de automóveis são impactados pela falta de dinheiro.

 

Ruivo – Essa análise muda de acordo com o ramo. Existe a questão da educação da população, mas olhar o aspecto população x tamanho do Brasil não é a melhor forma de analisar o potencial do mercado de seguro. Não são todos que têm condições de comprar um seguro. Por exemplo, antes de contratar um seguro de vida, a pessoa vai se preocupar em pagar as contas do mês.

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