Perspectivas do mercado de data centers no Brasil

Segundo Antonio Toledo, ao mesmo tempo em que o Brasil possui vantagens competitivas para data centers, possui dificultadores

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Antonio Toledo, CEO da Timenow
Antonio Toledo (foto divulgação Timenow)

Conversamos sobre as perspectivas do mercado de data centers no Brasil com Antonio Toledo, CEO da Timenow.

Qual a sua avaliação sobre as perspectivas do mercado de data centers no Brasil?

Existe uma demanda global por data centers, e o Brasil pode sim ser um player por possuir vantagens como energias renováveis e o crescimento interno da demanda por serviços digitais. Até 2030, a expectativa é que os investimentos em serviços digitais, e por trás disso estão os data centers, seja da ordem de R$ 60 bilhões, sendo que até 2026 a demanda por serviços digitais vai aumentar de 40% a 50% no país, ou seja, há muito mercado de data center apenas olhando para o Brasil. Por exemplo, muito do que é utilizado hoje do sistema bancário, é feito de forma digital, como o Pix, que precisa de todo um sistema de data centers para suportá-lo, e os próprios bancos digitais. É por isso que existe uma boa perspectiva para o mercado de data centers no Brasil.

Se esse mercado já existe, por que ele está chamando tanto a atenção?

Nós temos a questão da exponencialidade da demanda por serviços digitais. O Pix vai completar 5 anos em out/2025 e o e-commerce teve um aumento de demanda enorme nos últimos 10 anos. Olhando para as empresas, por exemplo, o nível de digitalização das operações da própria Timenow é infinitamente maior do que há 5 anos, sendo que 5 anos atrás foi ontem. Hoje, os ERPs são operados na nuvem, mas há 20 anos eles rodavam na própria empresa. Outro impulsionador é o volume de demanda gerada pela Inteligência Artificial (IA), que precisa de uma potência computacional muito grande.

Esse mercado já existia, mas a própria digitalização da sociedade fez com que essa demanda aumentasse de forma exponencial nos últimos 2, 3 anos.

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Quais são os tipos de data center que mais devem ganhar importância nos próximos anos?

O mercado possui data centers especializados em armazenamento, utilização e processamento de dados, que é um perfil que está na nuvem, e data centers especializados em IA, que possuem um volume e uma demanda computacional de processamento absurda. Não é à toa que empresas como a Nvidia tem se valorizado tanto com o crescimento dessa necessidade, sendo que a Nvidia é um elemento de uma cadeia de suprimentos de uma IA. Por exemplo, a Nvidia produz chips, que se tornam computadores e que vão para um data center que consome energia.

O Brasil tem condições de se tornar um local para a instalação de data centers mundiais?

Ótima pergunta. O Brasil possui vantagens competitivas, como uma matriz energética onde 90% das suas fontes são renováveis; localização geográfica; estabilidade política; e um ambiente positivo. Por exemplo, as matrizes energéticas da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia são bem menos renováveis que a nossa, e nós não estamos próximos de países que possuem risco de guerra. Isso porque, obviamente, você não vai colocar um data center ao lado da Ucrânia, da mesma forma que você não vai colocar o data center da sua empresa em um país que não tenha estabilidade política. O Brasil também tem o Redata, que é o programa que vai ser lançado pelo Governo Federal para atrair investimentos para este setor.

Por outro lado, o país também tem fatores dificultadores, como o seu complexo sistema tributário. Isso porque como um data center provê serviços digitais em nuvem ou processamento de IA, essas duas naturezas de serviços não têm fronteira geográfica. Dessa forma, um data center que poderia ser colocado no Brasil pode ser colocado em outro país que tenha um sistema tributário menos complexo, difícil e oneroso. Outro fator é que como um data center pode estar no Brasil prestando 100% do seu serviço para fora do país, você pode ter algum nível de tributos de entrada e de saída que podem ser um complicador. 

O Brasil tem demanda por data centers, mas um data center instalado no Brasil, provendo serviços para fora, tem uma dinâmica tributária que dificulta essa equação, por melhor que sejam as suas vantagens competitivas.

Como devem ser organizados os data centers de Inteligência Artificial?

Naturalmente, parte dos data centers vai ficar nos Estados Unidos, já que muitos desses provedores de serviços são empresas americanas. Contudo, como disse, um data center é um provedor de serviço que não tem fronteira geográfica, pois ele pode estar em qualquer lugar do mundo. Dessa forma, é muito provável que muitos desses data centers operem de forma descentralizada em outras geografias.

É claro que, do mesmo jeito que o governo brasileiro está fazendo o Redata, o governo americano também está criando mecanismos para atrair e manter os data centers nos Estados Unidos. Por exemplo, a nossa parceira, a RLB (Rider Levett Bucknall), tem uma forte atuação nos Estados Unidos e um portfólio gigantesco de estudos de investimentos em data centers no país, muito maior do que os números que eu mencionei referentes ao Brasil.

Um ponto importante é que há um limitante para a quantidade de data centers que podem ser colocados em um país, o volume de energia produzido pelo próprio país, já que os data centers são muito intensivos no consumo de energia. Essa variável, por si só, faz com que seja impossível que todos os data centers do mundo fiquem nos Estados Unidos.

O que é mais complexo em um data center: os equipamentos ou o consumo de energia?

A questão da energia é um limitante. Isso porque o consumo de energia nos data centers é tão exponencial que isso, em um determinado momento, pode gerar uma limitação, pois será necessário escolher se a energia será utilizada para os data centers, para a indústria ou para o consumo. Com isso, você vai entrar em um trade-off de tomada de decisão sobre onde será alocada a energia.

Como a velocidade de desenvolvimento de alternativas de geração de energia é mais lenta que a velocidade de desenvolvimento da capacidade computacional dos equipamentos, pode chegar um momento em que o limitante não será a capacidade computacional, mas a energia.

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O governo brasileiro deveria se preocupar em montar uma estrutura de data centers para o seu atendimento ou isso é indiferente?

Dado o atual momento e todas as questões geopolíticas, seria recomendável que, em alguma medida, o governo brasileiro tivesse algum nível de controle dos dados sensíveis que são usados, organizados e processados para melhor tomada de decisão do próprio governo. Por melhor que seja a governança das empresas que prestam serviços digitais, isso está relacionado a toda questão de segurança nacional.

Como eu conheço pouco a estrutura do governo com relação a questão de dados, talvez ele já tenha alguma estrutura de data centers próprios, mas seria importante que ele investisse na sua evolução e para que essa estrutura estivesse no limite daquilo do que há de melhor em termos de tecnologia, mas sempre mantendo o controle do próprio governo, pois, como disse, são dados que se referem à segurança nacional.

Considerando a conversa que tivemos, você gostaria de acrescentar algum ponto à sua entrevista?

É preciso que haja uma política pública bem estruturada, pois um data center não pode ficar em uma geografia que cria complexidades para que se tenha profissionais trabalhando nele. É preciso que haja uma inteligência pública por detrás se de fato entendemos que os data centers são importantes para o futuro do país em termos de crescimento da sua economia.

Por mais que o Redata esteja vindo nesse sentido, é preciso que se defina as geografias onde vão ficar os data centers e os seus contornos tributários para a construção desses data centers. Por exemplo, faz sentido colocar um data center em uma ZPE (Zona de Processamento de Exportação), já que, no final do dia, ele vai exportar serviços? O Redata vai nesse sentido, mas como as coisas precisam estar bem amarradas, é preciso dar mais profundidade para que se possa impulsionar e criar um mercado de data centers no Brasil. Como você disse, esse mercado já existe, mas ele é muito pequeno para o tamanho da demanda atual e, principalmente, da demanda futura.

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