Pesquisa: 47% das mulheres sofreram assédio sexual no trabalho

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Estudo feito pela Think Eva com a LinkedIn, chamado “O ciclo do assédio sexual no ambiente de trabalho”, mostra que 47% das mulheres entrevistadas sofreram assédio sexual no local de trabalho. Os dados do estudo foram divulgados nessa terça-feira.

O crime de Assédio sexual pode ser punido com 1 a 2 anos de detenção, entretanto ainda é tabu dentro das empresas e os assediadores se valem da impunidade. Este é principal motivo alegado por 78,4% das mulheres pesquisadas como barreira para a denúncia. Outras 63,8% alegaram políticas ineficientes para combater o assédio e o medo foi maior para 63,8% delas.

A sensação de impotência faz com que o silêncio e a solidão sejam os resultados mais recorrentes. O constrangimento e a impunidade do agressor levam a mulher a ser a única a sofrer as consequências – uma em cada seis vítimas de assédio sexual no local de trabalho pede demissão.

A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, questiona: “Num país onde o desemprego bate recorde todo mês como as mulheres vão denunciar um crime de um chefe dentro de um ambiente que não tem um protocolo que proteja esta mulher, tanto em relação ao emprego quanto ao próprio assediador?”

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De acordo com Juneia, é fundamental que as empresas criem estratégias para que os locais de trabalho sejam lugares livres de violência, que reafirmem esse posicionamento em suas políticas de Recursos Humanos e que realmente protejam as mulheres. “Falar mais sobre o assunto e demonstrar que o meio ambiente do trabalho se preocupa com a proteção da mulher acabam inibindo o assediador e fortalece a mulher para ir atrás dos seus direitos. É preciso receber as denúncias, ouvir as partes, punir, caso se confirme o crime, e só assim as mulheres poderão viver num local de trabalho livre de assédio”, afirma.

A pesquisa também apontou que o racismo é um dos fatores que agravam a condição das mulheres negras, porque 52% das mulheres que afirmaram sofrer assédio sexual no trabalho são negras. A desigualdade social também se destaca no estudo, 49% das assediadas recebem entre dois e seis salários mínimos e o Norte (63%) e Centro-Oeste (55%) têm uma concentração maior de relatos do que as outras regiões.

“Estabelecer políticas que combatam o assédio precisa caminhar junto com a construção de organizações que vislumbrem um futuro antirracista, antissexista e mais igualitário para todas as mulheres”, diz outro trecho da pesquisa. “Não tenho dúvidas que a escravidão deixou esta herança para as mulheres negras, que sempre foram vistas como objetos sexuais. Elas são sempre as mais afetadas, tanto no quesito violência, feminicídio, desemprego e também no assédio sexual e nós precisamos mudar esta realidade. E, é para isso que lutamos todos os dias”, ressaltou Juneia.

Jornalistas

De acordo com a secretária de Comunicação do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Priscilla Chandretti, na categoria o problema vem de todos os lados. Chefes, colegas de trabalho e fonte, as pessoas que são as entrevistadas, são os sujeitos que cometem este tipo de crime.

Ela conta que um em cada dez jornalistas já sofreu assédio sexual e quando se trata de fontes, seis a cada dez já viveram esta situação nas redações. E desde 2016, segundo a dirigente, a entidade tem feito uma série de iniciativas para combater o problema.

“Só conseguimos conquistar no Acordo Coletivo de Trabalho de Jornais e Revistas a questão dos dados, mas o restante ainda está sendo difícil. Nos últimos anos a gente tem tentado proteger mais o que temos para não perder mais direitos, com este governo. E quando se trata de avanço fica mais difícil. As jornalistas precisam se aproximar do sindicato e lutar conosco contra este crime, só assim as empresas poderão ter melhores práticas e proteger melhor as vítimas de assédio sexual”, finaliza Priscila.

A pesquisa foi a primeira realizada sobre o tema em ambientes profissionais on e offline. O estudo estava previsto para ser feito de forma física, mas com a pandemia precisou ser adaptado. “O assédio ultrapassou a barreira imposta pelo distanciamento social. Durante conversas e reuniões online, o crime continuou acontecendo”, diz trecho da pesquisa, na qual foram entrevistadas 381 mulheres.

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