Níveis adequados de Conteúdo Local em plataformas de petróleo não significam a adoção de reserva de mercado. O baixo nível de produção no Brasil atualmente é um retrocesso, com consequências danosas para a indústria brasileira e seus trabalhadores, denuncia Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval (sindicato da indústria naval).
Em nota, a entidade rebate afirmações feitas na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pelo gerente de Conteúdo Local da Petrobras, Edival Dan Junior, nesta segunda-feira. Ele atribuiu à exigência de produção nacional atraso médio de 32 meses na entrega de plataformas, que teriam gerado impacto na arrecadação de US$ 12,6 bilhões, 7 mil empregos diretos e 70 mil indiretos.
O Sinaval estranhou que a Petrobras não informou aos deputados estaduais os atrasos e problemas em encomendas feitas no exterior. Citou o caso de plataformas feitas na Ásia que ficaram ancoradas na Baía de Guanabara por longos períodos para reparos e complementações por empresas brasileiras. “A qualidade desses produtos mostrou-se deficiente, e as plataformas deixaram de produzir petróleo e gás por meses”, afirma nota do Sindicato.
Cita o caso da P-67, unidade do tipo FPSO, que chegou da China em julho de 2018 e passou por reparos demorados no Rio antes de entrar em serviço no campo de Lula Norte, na Bacia de Santos. “O prejuízo com o adiamento da produção de petróleo em mais de seis meses por essa plataforma nunca foi divulgado”, salienta a entidade.
“Ainda na questão dos prazos de entrega, a manifestação da Petrobras não menciona que muitas plataformas foram entregues por estaleiros brasileiros dentro do prazo contratado e, em alguns casos, até mesmo com adiantamento em relação às datas contratuais, tendo alguns estaleiros até recebido da Petrobras prêmios de desempenho e cumprimento de prazos.”
O Sinaval reconhece que ocorreram atrasos em alguns contratos, “mas, em inúmeras oportunidades, esses atrasos foram devidos a modificações nos projetos por parte da própria Petrobras (que também nunca são admitidos publicamente pela Petrobras). Ressaltamos que os estaleiros estrangeiros dificilmente aceitam o grau de alterações durante a execução das obras que a Petrobras pratica”.
O Sinaval ressalta que a estatal prefere ignorar os benefícios ao país e à sociedade brasileira em termos de geração de renda local nos estados onde as obras foram executadas e de geração de empregos de qualidade proporcionados por essas obras.”
Até Japão reclama de subsídios dos concorrentes
Quanto a valores, o Sindicato lembra que nenhuma indústria brasileira consegue ser competitiva com os preços praticados na Ásia, sobretudo na China, e isso ocorre por diversos fatores: o “custo Brasil”; a participação de governos asiáticos em favor de suas empresas nas concorrências internacionais; a carga de impostos diretos e indiretos que prejudica a indústria brasileira.
No caso da indústria naval, os governos asiáticos oferecem subsídios aos estaleiros. Nesta terça-feira, a Associação dos Construtores Navais do Japão reclamou do forte apoio que chineses e coreanos recebem. Em maio, o Parlamento japonês aprovou lei que aumenta o apoio à construção naval do país.
O Sinaval afirma que uma demanda perene contribuiria para a redução progressiva dos custos brasileiros. A indústria local teve seu progresso interrompido após 2014, depois de um período de cerca de 15 anos, muito mais curto do que o tempo que a indústria naval da Ásia teve para se desenvolver.
A virtual paralisação dos estaleiros levou a perda de cerca de 70 mil postos de trabalho só nos estaleiros e de 300 mil nas indústrias que compõem sua cadeia produtiva. “Ao mesmo tempo que nossos empregos estão sendo exportados para a Ásia, as instalações dos estaleiros, muitas delas equiparadas às melhores do mundo, estão ociosas. Corre-se o risco de ver perdidos os bilhões de reais investidos nos estaleiros, com estímulo e apoio do governo brasileiro, para atender, principalmente, às demandas previstas pela própria Petrobras”, alerta a nota do Sinaval.
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