Petrobras (PETR4): resultado do 1T25, perspectivas e futuro

Segundo Pedro Galdi, a Petrobras teve um bom resultado no 1T25, mas por conta da queda do preço do petróleo, ele não foi tão surpreendente.

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Pedro Galdi (foto divulgação AGF)
Pedro Galdi (foto divulgação AGF)

Conversamos sobre o resultado da Petrobras no 1T25 com Pedro Galdi, analista CNPI do AGF.

Qual a sua avaliação sobre o resultado da Petrobras no 1T25?

No 1T25, a Petrobras teve uma receita líquida de R$ 123 bilhões, 5% acima do 1T24 e 1,5% acima do 4T24. O Ebitda foi de R$ 61 bilhões, 2% acima do 1T24 e 49% acima do 4T24, e a margem Ebitda de, praticamente, 50%, o que é excelente, sendo no 4T24 ela havia sido de 34%. Cabe mencionar que no 4T24 o Ebitda e a margem Ebitda haviam sido prejudicados por eventos não recorrentes. Com relação à margem líquida, ela teve um belo resultado de 29%. Por fim, a Petrobras teve um lucro de R$ 35 bilhões, 49% acima do 1T24, sendo que no 4T24 a companhia havia tido um prejuízo de R$ 17 bilhões por razões contábeis.

Um ponto importante é que o preço do petróleo Brent girou na faixa de US$ 70 no 1T25. Quando o balanço do 1T25 foi divulgado, o preço já estava em US$ 65 e a presidente da Petrobras disse que a companhia teria que apertar os cintos. Pouco tempo depois, estava em US$ 63. Segundo a companhia, nesse nível de preço os seus números do 2T25 podem não ser tão bons, mas por mais que tenhamos que acompanhar essa questão, um evento pontual de um trimestre não tira os fundamentos de médio e longo prazo da Petrobras.

Outro ponto é que a Petrobras teve um ganho cambial no 1T25 devido a atualização da sua dívida em dólar. Olhando a dívida da Petrobras, ela está em 1,45x o seu Ebitda, sendo que no passado, essa relação chegou a bater em 5x. Para o mercado, 3x é a linha a ser observada. Passou daí, começa a ficar perigoso, pois a empresa está alavancada, mas não é esse o caso.

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A Petrobras teve um bom resultado no 1T25, mas por conta da queda do preço do petróleo, ele não foi tão surpreendente.

Como se deu a reversão do prejuízo do 4T24 para o lucro do 1T25?

O que aconteceu foi a questão cambial. Como no 4T24 o dólar subiu, a dívida da Petrobras em dólar também subiu e a companhia teve que reconhecer isso na sua dívida nominal em reais, que também subiu. Esse efeito é contabilizado como variação cambial, impacta o resultado, mas não afeta o caixa, ou seja, o seu impacto é puramente contábil. No caso da Petrobras, o que aconteceu no 4T24 não afetou o seu dividendo, pois ele não é calculado com base na linha final, mas sim pelo seu fluxo de caixa livre.

Quando sai um resultado da Petrobras quais são os primeiros números que você analisa?

O preço do petróleo e o câmbio são os dois primeiros fatores a serem observados. Em cima deles, você vai projetando as contas até chegar ao Ebitda, que, para mim, é a grande linha do demonstrativo da Petrobras, pois, em cima dele, você vê a saúde da geração de caixa da empresa e a variação da relação dívida/Ebitda. Esses são os grandes números, mas nós também olhamos o conjunto, os investimentos e a cabeça da companhia sobre os próximos passos.

Como você tem visto o desempenho das unidades Refino, Transporte e Comercialização e Gás & Energias de Baixo Carbono?

Empresas de commodities como a Vale e a Petrobras têm que buscar eficiência operacional e reduzir constantemente o custo, pois elas não têm domínio sobre o preço da commodity na linha de receita. Se essas empresas tiverem um custo baixo, elas suportam as oscilações dos preços das suas commodities. É por isso que elas anunciam, constantemente, melhorias na parte de custos e despesas operacionais, tanto que a Petrobras disse, na sua teleconferência de resultados, que ia começar a apertar o cinto e a rever a fila de projetos a serem desenvolvidos. Não é que a Petrobras vai postergar os projetos ou deixar de investir, mas, em linhas gerais, eu acredito que a companhia vai mudar a ordem da fila dos projetos. Assim, se um projeto tiver um custo mais alto, mesmo que tenha um bom retorno, a Petrobras vai optar por projetos que tenham um custo menor para melhorar a sua margem.

Como a Petrobras é uma empresa de petróleo, ela precisa ter reserva e produção. Ela não vai deixar de fazer um projeto que vai lhe entregar petróleo e combustíveis, pois se ela parar, ela vai perder market share. Nesse caso, nós teríamos um caos. Por exemplo, como o Brasil possui um desbalanceamento de diesel, ele precisa importá-lo, pois não tem capacidade para atender a demanda.

Se a Petrobras deixar de investir, ela pode gerar esse descasamento em outros produtos, e não apenas na gasolina, diesel ou álcool. Existe uma série de subprodutos dentro do petróleo que atendem, por exemplo, as cadeias petroquímica e de celulose.

Qual a sua avaliação sobre os investimentos da Petrobras?

Por mais que o Brasil tenha uma economia que cresça em “banho maria”, ele precisa aumentar a oferta para atender a sua demanda. Dessa forma, a Petrobras precisa aumentar as suas reservas para acompanhar esse equilíbrio. Em termos de equipamentos, a Petrobras tem anunciado investimentos em navios-plataforma (FPSO – Floating Production Storage and Offloading) que possuem uma produtividade enorme.

Com relação à exploração, o pré-sal ainda possui campos potenciais que oferecem uma probabilidade muito grande de manter a sua participação no todo, mas por mais que o pré-sal continue por muito tempo, as reservas são finitas. Para isso, a Petrobras tem Pelotas e a Margem Equatorial, que pode ser um novo pré-sal que vai garantir uma produção por anos e anos. Além disso, a Petrobras possui outras possibilidades como a Colômbia.

Outro ponto é que a Petrobras pode desenvolver hidrogênio verde no futuro, o que pode ser interessante, apesar do custo de energia para se fazer isso hoje ser absurdo. Enfim, os investimentos da Petrobras são voltados para a redução de custos e de despesas operacionais.

Qual a sua avaliação sobre o endividamento da Petrobras?

No 1T25, a dívida líquida da Petrobras ficou em R$ 322 bilhões. Nominalmente, esse número é expressivo, mas a relação anualizada dívida líquida/Ebitda ficou em 1,45x, sendo que no 1T24 essa relação havia sido de 0,86x. Esse pulo aconteceu porque parte da dívida da Petrobras é dolarizada e pela necessidade pontual de tomar recursos de terceiros para bancar os investimentos quando necessário. Esse efeito cambial não impacta o caixa, mas o problema do câmbio alto é quando você tem que pagar a dívida. Inclusive, a Petrobras pode aumentar um pouco essa relação, pois se esse aumento estiver relacionado ao investimento na produção, o mercado vai absorvê-lo bem.

O total de R$ 322 bilhões em dívidas é um número que assusta, mas como a Petrobras é muito grande, os seus números são muito grandes. O importante é que o nível de endividamento hoje é muito confortável para ela. É só não fazerem besteira.

Qual a sua avaliação sobre os dividendos pagos pela Petrobras?

Segundo a legislação, uma empresa tem que pagar 25% do seu lucro líquido ajustado. Agora, existem empresas que pagam mais que isso, como a Vale, que paga um payout de 50%, e a Petrobras, que paga 45% sobre o fluxo de caixa livre. Isso faz da Petrobras uma boa pagadora de dividendos, com um yield de 10%, 11% ao ano. Quando uma pessoa diz que vai para a renda fixa, já que a Selic está em 14,75%, ela abre mão do potencial de valorização da ação enquanto estiver parada nesse tipo de investimento.

O que fica na dúvida é o pagamento do dividendo extraordinário, mas os grandes controladores da Petrobras, não vamos nos enganar, têm interesse nesses dividendos. A Petrobras disse que isso vai depender muito do preço do petróleo, pois ela não vai afetar a sua estrutura de capital, aumentando uma relação dívida líquida/Ebitda, que está normalizada, para criar um “problema” lá na frente.

Como reservas surgem e acabam, a Petrobras tem que descobrir novas reservas que vão substituir as reservas que já são exploradas e que vão acabar no futuro. Nesse equilíbrio de reservas, caso saia a Margem Equatorial, ela pode mexer no valor da ação da Petrobras ou ela entraria nessa questão do equilíbrio?

Se for descoberta uma reserva que seja, por exemplo, uma vez e meia o pré-sal, com certeza vai haver um impacto no papel. Da mesma forma, se não for o que se espera, o papel vai sofrer. Não podemos nos esquecer que o comportamento das ações de empresas de commodities tem muito a ver com o fluxo de notícias. Assim, dependendo do que sair da reserva da Margem Equatorial, isso pode ser um direcionador importante.

Qual a sua avaliação sobre as perspectivas da Petrobras para o restante de 2025?

Essa é aquela resposta que depende muito do preço do petróleo. Eu li que a Opep está estudando o aumento da produção de petróleo. Se ela realmente aumentar essa oferta, isso pode prejudicar o preço do Brent e atrapalhar o desempenho da Petrobras no 2T25. É o preço do petróleo que vai definir uma série de situações.

Como você vê a Petrobras daqui a 20 anos?

Por mais que se fale que o petróleo é finito, vai demorar muito tempo para que ele acabe, pois ainda vamos ter necessidade de petróleo para um monte de coisas. Pode não haver a demanda que existe hoje para transporte, mas o carro elétrico já foi tentado várias vezes e não deu em nada. A tecnologia vai evoluir, mas a demanda por petróleo e seus derivados vai continuar existindo, talvez não da forma e na quantidade que é hoje. Nesse caminho, a Petrobras vai ter que criar uma diversificação natural, o que pode passar pelo hidrogênio verde, desde que o custo de energia seja baixo, mas, no curto prazo, eu não vejo isso acontecendo.

Por exemplo, quando a Vale foi privatizada, o que dava dinheiro era a siderurgia, e não o minério de ferro. A siderurgia era o filé mignon, mas nesses descompassos do mundo, de repente ela deixou de ser lucrativa e o minério de ferro passou a ser lucrativo. Como os braços vão mudando conforme o seu momento, tudo vai da estratégia de olhar para a frente e não fazer besteira. Em 10, 20 anos, algumas coisas vão mudar na Petrobras, mas o petróleo e os seus derivados não vão deixar de ser representativos. Eles vão perder um pouco de peso, mas a Petrobras vai encontrar receitas em outros negócios, talvez no hidrogênio verde.

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