A Petrobras anunciou no último dia 24 de novembro seu plano estratégico 2022-2026, com investimentos previstos de US$ 68 bilhões nos próximos 5 anos. O valor é 24% superior ao mesmo período do plano anterior, que tinha um orçamento de US$ 55 bilhões. Porém, é infinitamente menor que o montante investido entre 2010-2014 que chegava a US$ 230 bilhões. “Sinaliza o encolhimento que passará a empresa nos próximos anos”, prevê o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
No segmento E&P (exploração em produção de petróleo e gás natural), serão investidos US$ 57 bilhões em 2022 a 2026, sendo que 67% desse valor para o pré-sal. Em entrevista à reportagem do Monitor Mercantil, Bacelar destacou os pontos importantes que ficaram de fora do novo plano de negócio e gestão da estatal.
O aumento de 24% no orçamento da Petrobras em relação ao plano anterior é suficiente para mudanças importantes na companhia?
– Em nossa avaliação houve aumento dos investimentos sobre o plano de negócio e gestão anterior, mas é um montante inferior ao volume investido, por exemplo, de 2010-2014, de quase US$ 230 bilhões. Sinaliza o encolhimento da empresa nos próximos anos. Nos planos anteriores o investimento não ficava restrito ao pré-sal. Era direcionado também aos campos produtores e ao refino.
O que você destacaria de muito importante que não foi contemplado no novo plano?
– Os planos anteriores vislumbravam uma Petrobras mais integrada, que investia na exploração e produção de petróleo e gás natural, no refino e na transição energética. Eram feitos investimentos não só em biocombustíveis, mas também em energias renováveis como eólica, solar e em pesquisa e desenvolvimento de novas fontes de energia limpa ou renovável. Isso se perdeu nesse plano. Mostra uma Petrobras mais apequenada. Focada na exploração e produção no pré-sal e com a metade de sua capacidade de refino.
Que impacto terá essa redução de investimento na transição energética?
– Será vista como uma empresa suja, porque está cortando investimento na contramão do que as grandes empresas do setor fazem hoje. Lembro-me de uma apresentação de um CEO da Total que citou que o seu plano de negócio e gestão reservava 10% para o processo de transição energética. A Petrobras investe menos de1% nessa área. É uma vergonha. Acabam condenando o futuro da empresa. É um atraso de décadas.
Como avalia o volume de dividendos que a Petrobras promete entregar aos acionistas?
– Eles focam em um retorno de curto prazo para os acionistas e não observam que os acionistas na Europa focam em empresas que estão fazendo transição energética. As grandes companhias estão observando isso. A Petrobras prevê distribuir entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões em dividendos entre 2022 e 2026. Deste total, de R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões serão destinados à União, principal acionista da empresa. O novo plano diz que serão distribuídos no mínimo US$ 4 bilhões anualmente caso o Brent esteja acima de 40 dólares o barril. Já quando a companhia tiver uma dívida bruta menor que sua meta (como é o caso no momento), serão distribuídos 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos. A Petrobras ainda comunicou que dividendos extraordinários poderão ser distribuídos independente de seu endividamento, desde que não comprometa sua sustentabilidade financeira.
No refino, a Petrobras disse que investirá US$ 6,1 bilhões nos próximos 5 anos. Do total, US$ 1,5 bilhão serão gastos na integração entre a Reduc (Refinaria Duque de Caxias) e o GasLub Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Como a FUP analisa essa estratégia?
– Essa gestão não faz questão de investir em refino. Está se retirando do refino para investir apenas no pré-sal. Isso faz com que o país fique mais dependente da importação de derivados de petróleo. Não faz o menor sentido. Das oito refinarias da Petrobras colocadas na lista de privatização, três (Rlam, Reman e SIX) já foram vendidas.
A Petrobras diz que a venda de ativos é para reduzir sua dívida. Como a FUP avalia esses desinvestimentos?
– Não havia necessidade de vender esse monte de ativos somente no governo Bolsonaro. O faturamento do pré-sal fez o endividamento despencar abaixo de US$ 60 bilhões. Não há necessidade de a empresa continuar vendendo ativos nesse novo plano de negócio e gestão. Em dois anos desse governo foram US$ 26 bilhões de ativos privatizados.
Qual a expectativa da FUP sobre o leilão da cessão onerosa marcado para 17 de dezembro?
– Como sempre tentamos fazer com que os leilões não tenham o êxito que o governo quer. Tentamos ingressar com ações para barrar os leilões por diversos motivos. E neste caso específico da cessão onerosa nos preocupa ainda mais porque são os campos mais produtivos que nós temos (antigo campo de Lula que hoje se chama Tupi, e do campo de Búzios maiores produtores da Petrobras hoje). Depois de tudo pronto entrega para petrolíferas internacionais. Não faz o menor sentido.
Que outros pontos importantes não foram citados no plano apresentado?
– Os temas PPI (Preço de Paridade e Importação) e trabalhadores não foram citados. Se nós temos hoje essa escalada de preços dos derivados de petróleo – principalmente gasolina e gás de cozinha, esse último com mais de 200% de reajuste –mostra que essa gestão não está preocupada com a população.
Regina Teixeira – Especial para o Monitor Mercantil
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