Com o fechamento de uma unidade da Petrobras e da venda de três das fábricas de fertilizantes que havia no país e que fazem parte do processo de desmonte e privatização da estatal em curso desde setembro de 2016, o Brasil se tornou dependente da importação de fertilizantes, cujo um dos maiores fornecedores é a Rússia.
Dessa forma, o Brasil se encontra em uma situação delicada em relação à intervenção da Rússia na Ucrânia. Em reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o embaixador brasileiro Ronaldo Costa Filho reafirmou o voto do Brasil condenando o conflito, mas alertou que sanções econômicas de Europa e Estados Unidos mais o envio de armas para a Ucrânia podem piorar a situação. Bolsonaro, defende que o Brasil adote uma posição neutra em relação ao conflito.
O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do planeta e o segundo maior exportador e precisa dos fertilizantes da Rússia.
Segundo o coordenador Geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, nesses momentos de crise, como uma guerra, fica mais evidente o alto nível de dependência do Brasil de outros mercados. “Dependemos da importação de fertilizantes principalmente da Rússia, que antes a Petrobras produzia em Sergipe, Bahia e Paraná. Da mesma forma, a política de preços dos combustíveis, a privatização e subutilização de nossas refinarias, vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo. Há alguns anos, chegamos à autossuficiência em extração e quase nos tornamos autossuficientes no refino. Cada vez mais, o consumidor e o próprio mercado interno vêm percebendo que privatizar setores estratégicos do Estado tem impacto direto na soberania nacional”.
De acordo com o petroquímico e diretor da Federação, Gerson Castellano, “sabemos que qualquer conflito internacional nestas regiões que têm petróleo e gás causam impacto no Brasil. No caso dos fertilizantes, a Petrobras arrendou a Fafen da Bahia e do Sergipe para a Unigel, que vem priorizando exportações de amônia a produzir ureia no país”, observou ele.
Castellano enfatiza – também – que a produção de fertilizantes é estratégica para o país. “Comer é algo que independe de crenças. O ex-presidente dos EUA, George Bush, disse certa vez: ‘Vocês já imaginaram um país incapaz de cultivar alimentos suficientes para sua população? Seria uma nação exposta às pressões internacionais. Seria uma nação vulnerável. Por isso, quando falamos de agricultura, estamos falando de uma questão de segurança nacional’. Esta fala é do Bush, um liberal. A questão alimentar é estratégica e extrapola ideologias”, completa o diretor da FUP.
A saída definitiva da Petrobras do setor de fertilizantes foi anunciada pelo governo Bolsonaro em 2019.
Nos últimos anos, o Brasil aumentou sua dependência de importação para suprir o mercado doméstico, enquanto suas unidades de fertilizantes permanecem desativadas. Segundo dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica da FUP, o Brasil gastou ano passado US$ 15,2 bilhões em importações de adubos e fertilizantes químicos. O valor é 90% maior do que o gasto em 2020. Foi o produto mais importado entre os itens da categoria “indústria de transformação”. O país adquiriu no exterior 41,5 milhões de toneladas de fertilizantes – incremento de 22% nas quantidades –, a preço médio de US$ 364,34 por tonelada, 56% acima dos valores pagos em 2020.
A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras no Paraná (Fafen-PR), em Araucária, está fechada desde março de 2020. Esta era responsável pela produção de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia e 65% do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas.
A Fafen-BA – cujo principal produto são amônia, ureia, gás carbônico e Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32) –, foi hibernada em 2018 e arrendada à Proquigel, subsidiária da Unigel, em 2020, bem como a Fafen-SE, produtora de ureia fertilizante, ureia para uso industrial, amônia, gás carbônico e sulfato de amônio (também usado como fertilizante). No último dia 4 de fevereiro, o grupo russo Acron comprou a fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que está com mais de 80% das obras concluídas. Essa última, quando começar a operar, terá capacidade de produzir 3.600 toneladas de ureia e 2.200 de amônia por dia.
Da Redação com Agência Brasil e FUP
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