As Bolsas internacionais operam em leve queda, em dia de volta do mercado americano, após o feriado em homenagem a Martin Luther King. Os investidores estão cautelosos com a divulgação dos balanços de bancos nos EUA, que terão Goldman Sachs e Morgan Stanley. A preocupação diz respeito aos impactos da desaceleração da economia sobre os balanços corporativos do último trimestre de 2022. O futuro do S&P 500 cai 0,27%; o Nasdaq, 0,34%; e o Dow Jones, 0,19%. As taxas de juros subiram um pouco, batendo 4,24% para dois anos e 3,55% para 10 anos (5 pontos base). O índice VIX, que mede a volatilidade do índice S&P 500, subiu para 20,05%, com alta de 60 pontos, indicando um movimento mais defensivo dos investidores.
Na China, foi divulgado o PIB do ano passado e ele veio melhor que o esperado, com 3%. Apesar de vindo acima do esperado, o crescimento chinês é um dos mais baixos em décadas, exceto pelo de 2020, ano do estouro da pandemia. A desaceleração da China é consequência direta da política de Covid zero, adotada pelo governo Xi Jinping, que associou a ausência de vacinas à política de isolamento social. A título de comparação, na série histórica de taxas de crescimento chinês, apenas em 1989 e em 1990 a taxa foi inferior a 5%. Com isso, as Bolsas reagiram modestamente, com quedas de 0,1% em Xangai e 0,02% em Shenzhen. O minério de ferro recuperou um pouco da queda de ontem e subiu 1,22%, para US$ 121,15, em Singapura. O petróleo também retoma uma alta leve, com o barril do tipo Brent sendo negociado a US$ 85,50, com alta de 1,16%.
Na Europa, as Bolsas estão com queda modesta, de 0,1% em Frankfurt, 0,2% em Paris e 0,3% em Londres. O indicador de expectativas do Instituto ZEW veio melhor que o esperado, mostrando expectativas mais otimistas em relação à atividade na Zona do Euro. O euro está operando perto da estabilidade a US$ 1,0832.
No Brasil, a falta de calendário econômico deixa o foco dos investidores sobre Americanas e a continuidade de eventos relacionados à divulgação do buraco de R$ 20 bilhões em seu balanço. Ontem as ações da empresa fecharam a R$ 1,94, marcando uma queda de 40%, após as disputas judiciais assumirem o protagonismo.
Tanto a iniciativa do BTG em antecipar os resgates de seus créditos como a concessão da tutela antecipada pela Justiça colocaram em evidência que o processo será disputado e tenso. Os detentores de dívida da empresa passaram a sentir mais de perto suas perdas, após a marcação a mercado das ações e debêntures em fundos de investimentos, aumentando o temor em relação à quebra da empresa.
O rebaixamento da nota de crédito da Americanas pela Moody’s e pela S&P acabaram por afundar ainda mais o humor dos acionistas e credores. A S&P, em particular, rebaixou a nota para D, pior nota de crédito. A piora da percepção em relação ao risco da empresa piora não apenas o valor de mercado das ações e títulos, como passa a limitar a capacidade operacional da mesma.
Hoje, o “Valor Econômico” informa que fornecedores e lojistas passaram a restringir o fornecimento de produtos e as operações na plataforma, o que tem forte potencial de reduzir as receitas e, por consequência, o Ebitda e o resultado líquido. Essa dinâmica sinaliza a piora progressiva das condições financeiras e da solvência da Americanas, além de pôr em risco qualquer possibilidade de reversão da Recuperação Judicial e, o que é pior, da posterior falência da empresa. É de se esperar que os atores envolvidos tenham disposição de brigar pela manutenção de seus interesses, mas a demora nessa briga pode tornar a situação da empresa insustentável.
Também nesta terça-feira, a FGV divulgou o IGP-10 e ele veio melhor que o esperado, em 0,05%, acumulando 4,27% em 12 meses. O grande impulso para a desaceleração veio da queda de combustíveis. O IPC, indicador importante, veio em 0,47% e acumula 4,47% em 12 meses.
Ontem o mercado reagiu negativamente à piora das expectativas com relação à inflação e à Selic para 2023 e 2024, fazendo juros e dólar subirem e acelerando a queda do Ibovespa. Hoje o mercado ensaia uma melhora e deve continuar assim, a menos que o governo sinalize a confirmação de aumento do salário mínimo acima do já divulgado. Com Haddad em Davos sinalizando a reforma tributária e com a recuperação do minério de ferro e do petróleo, o índice Ibovespa pode ter um dia de recuperação.
.
Pedro Paulo Silveira
Nova Futura Asset
















