PIB do 1T22 – avaliações sobre o crescimento de 1%

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Conversamos com quatro especialistas sobre suas avaliações sobre o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre de 2022. O crescimento acumulado nos últimos quatro trimestres é de 4,7%.

Com relação aos setores, Serviços teve um crescimento de 1%. A indústria ficou estável com um crescimento de 0,1%. Já a Agropecuária teve um recuo de 0,9%.

Juliana Inhasz, professora e coordenadora da graduação em economia no Insper

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O resultado trouxe poucas surpresas. O primeiro trimestre já começa a pegar uma volta da circulação de pessoas, bem mais intensa do que no ano passado, o que faz com que tenhamos uma economia crescendo mais. Os serviços estão sendo mais demandados por conta dessa circulação.

O crescimento de 1% surpreendeu muita gente, especialmente os economistas que achavam que ele seria menor. O mercado, por sua vez, apostava num crescimento maior. Particularmente, eu não vi surpresa nesse número. Nós estamos falando de uma economia que tem uma quantidade maior de pessoas circulando e com um desemprego consistentemente menor. O problema é que a renda não cresce, e com isso os serviços crescem pouco.

Quando olhamos o consumo, nós vemos que ele tem um comportamento que reflete uma economia com crescimento baixo. Nesse momento, nós esperaríamos um consumo das famílias crescendo mais forte, mas o que vemos é um crescimento de 0,7% no trimestre.

Fica evidente que estamos num caminho de retomada, mas com o freio de mão puxado. A retomada é lenta, custosa e difícil. Ela está refletida numa tentativa da população de voltar a ter padrão de consumo e de voltar a produzir, mas, ao mesmo tempo, com muitas incertezas e com condições que não são adequadas: inflação e taxa de juros altas, renda mais baixa e incertezas sobre a condução da política econômica daqui para a frente. Nós também não podemos nos esquecer de todo o cenário político, que dá ainda mais uma dramaticidade aos riscos que hoje fazem com que a economia brasileira não consiga decolar.

Dentro dos resultados da retomada, eu destacaria, além dos serviços, a indústria andando de lado, o que já é uma percepção antiga. Depois de três trimestres com resultados negativos, esse foi o primeiro trimestre com resultado positivo, apesar de ter sido praticamente nulo. Além disso, nós tivemos o agro com um resultado triste, pois nós vínhamos de um quarto trimestre de 2021 muito bom, com uma recuperação de 6%. Contribuíram para a queda a condição climática no sul e no sudeste, e a subida dos custos de produção, que não foi mencionada pelo IBGE, como fertilizantes, energia elétrica e combustíveis, além dos custos naturais de logística e distribuição que fazem com que essa produção fique mais cara.

Quando olhamos o PIB pela decomposição da demanda, nós temos mais dois resultados importantes para serem mencionados. Um é o investimento, que continua sendo o nosso calcanhar de aquiles com uma queda de 3,5%. O investimento é um indicador antecedente. Ele mostra que o empresariado está vendo tantos riscos na economia brasileira, que ele não está apostando nela.

Por fim, apesar dos pesares, as exportações estão, relativamente, elevadas com um crescimento de 5%. Esse total de exportações um pouco maior, que vem na contra-mão dos últimos dois trimestres de 2021, vem muito em cima desse novo ciclo de commodities que estamos vivendo. O Brasil é um país agro-exportador e a Guerra Rússia x Ucrânia puxou os preços para cima. Isso nos beneficia, em conjunto com uma queda nas importações. Somando esses dois elementos, o setor externo tem contribuído bastante para que não tenhamos resultados ainda piores.

Pedro Ramos, economista-chefe do Sicredi

O crescimento foi elevado para os nossos padrões. Vale ressaltar que entre 2017 e 2019, a economia cresceu por volta de 1% ao ano. Se esse resultado fosse repetido por quatro trimestres, nós estaríamos falando de um crescimento anual de 4%.

Quando abrimos os indicadores, nós vemos que o setor de serviços foi o carro chefe pelo lado da oferta. Pelo lado da despesa, o consumo das famílias cresceu em torno de 0,7%. Isso é efeito da reabertura, com as pessoas voltando para o seu comportamento normal de consumo.

Entre os aspectos negativos, nós vimos uma queda de 0,9% do setor agropecuário. Esse resultado foi impactado pela seca do verão, com quedas de safra nas culturas de soja e milho no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, o que pegou em cheio o primeiro trimestre do ano. A surpresa ficou por conta da Indústria. Nós esperávamos um crescimento de 1% contra o crescimento efetivo de apenas 0,1%. Quando abrimos esses números, nós vemos que o destaque positivo que ajudou para cima foi a indústria extrativa, como minério de ferro e petróleo.

Do lado da demanda, a parte negativa foram os investimentos, que vieram mais baixo do que imaginávamos.

Outro destaque foi o alto crescimento das exportações, puxado pela forte demanda global de bens. Isso tem sido favorecido pelos fortes estímulos fiscais e monetários, como as taxas de juros muito baixas e as transferências dos governos muito fortes. Isso favorece o aumento das exportações, que estão sendo feitas com preços mais atrativos. Além disso, o câmbio brasileiro está depreciado em 30% quando comparado a 2019, o que faz com que as empresas tenham uma grande vantagem na hora de exportar.

Para o resto do ano, acreditamos que a economia brasileira terá um crescimento de moderado para alto. Não um alto que se possa orgulhar, mas um crescimento maior do que tivemos nos períodos anteriores.

Roberto Simões, diretor de Atacado e Tesouraria do Bmg

Apesar de 0,20% abaixo do esperado, o resultado positivo já era sinalizado pelo mercado, principalmente, devido ao aumento da arrecadação impulsionada pela alta inflação e pela retomada da atividade econômica com o relaxamento das medidas restritivas impostas pela pandemia, assim como medidas de transferência de governo. Um ponto de atenção no anúncio foi a queda de 3,50% da Formação Bruta de Capital Fixo (Investimentos) e a queda nas importações, provavelmente sinalizando uma atividade doméstica mais fraca.

Contudo, a previsão do mercado é de que este crescimento do PIB não deva ser sustentável ao longo do ano. Isso deve acontecer pelo forte impacto das condições financeiras mais restritivas, principalmente pelo aumento da Selic, que deve ter efeito maior no segundo semestre deste ano, além de um ambiente onde os grandes Bancos Centrais retirem estímulos.

Por fim, a política monetária contracionista para tentar conter os efeitos inflacionários também deve impactar negativamente no PIB no quarto trimestre.

Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria

O PIB do 1º trimestre cresceu 1% em relação ao 4º trimestre de 2021, em termos dessazonalizados, e 1,7% ante o 1º trimestre do ano passado. Com isso, o nível atual do PIB está 1,6% acima do registrado no período pré-pandemia (4º trimestre de 2019). A desagregação do resultado fornece novos sinais do desempenho desigual entre os grandes setores, uma vez que contrasta a expansão de Serviços com a estabilidade da indústria e a queda da agropecuária.

Pelo lado da oferta e em termos dessazonalizados, a principal contribuição positiva partiu de Serviços (1%). O resultado foi impulsionado por ‘Outros Serviços’ (2,2%) que se beneficiou da fase final de normalização das condições de oferta e demanda dos serviços presenciais privados, como hotéis, bares e restaurantes, devido à estabilização do quadro sanitário.

Pelo lado da demanda, ainda em termos dessazonalizados, o consumo das famílias registrou o terceiro crescimento consecutivo (0,7%), captando a maior demanda por serviços presenciais. Os investimentos registraram perda de 3,5%, uma vez que a queda do consumo aparente de bens de capital foi mais do que suficiente para compensar a alta do PIB da Construção Civil no período (0,8%).

O atual cenário básico, contudo, ainda contempla a insustentabilidade do maior ritmo de crescimento no 2º semestre. Essa perspectiva está calcada na combinação de fatores predominantemente negativos esperados para o período, como (a) a redução das transferências governamentais (encerramento da liberação extra do FGTS, antecipação de 13º salário e aposentadorias), (b) a expectativa de que os maiores efeitos do aperto monetário sejam sentidos pelos setores mais cíclicos, (c) a inflação ainda pressionada e (d) o contexto global de desaceleração do crescimento e aperto monetário.

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