O Produto Interno Bruto (PIB) do 2T23, na série com ajuste sazonal, fechou com um crescimento de 0,9%. A Indústria e Serviços apresentaram variações positivas de 0,9% e 0,6%, respectivamente, enquanto a Agropecuária teve variação negativa de 0,9%.
Para entendermos melhor o resultado apresentado pelo PIB, conversamos com três especialistas do mercado financeiro.
Giovanni Bianchi, trader do BR Partners
O PIB do 2T23 surpreendeu positivamente os economistas, pois as expectativas de mercado apontavam para um aumento de 0,3%. O consumo das famílias e do governo tiveram influência positiva, com alta de 0,9% e 0,7%, respectivamente.
Do lado da oferta, a agropecuária continuou sendo o destaque, apesar da retração de 0,9%, um movimento tímido em comparação à expansão de 21% no 1T23. A impressionante colheita de soja no 2T23 foi um dos principais fatores que contribuíram para o bom desempenho do setor.
O setor de serviços continuou apresentando números positivos e crescentes, o que é de suma importância para o crescimento do país. Já a indústria, mesmo apresentando crescimento, não conseguiu mostrar números satisfatórios.
Os investimentos, pelo segundo trimestre consecutivo, apresentaram dificuldades e crescimentos abaixo das expectativas.
Para o 2S23, acreditamos que o crescimento do PIB deve desacelerar, podendo inclusive registrar contração na comparação trimestral. O principal fator, que deve contribuir para isso, é o ambiente de desaceleração global (Soft Landing), que está levando a uma redução do comércio e dos investimentos. Além disso, os juros altos no Brasil devem continuar a pesar sobre o consumo e a produção.
A atividade resiliente do setor agrícola, que puxou o crescimento do PIB no 1S23, deve apresentar uma desaceleração no 2S23. Isso porque as safras já atingiram seu pico e não devem apresentar mais crescimento significativo. O mercado de trabalho também deve apresentar números mais brandos no 2S23, com a criação de empregos mais lenta.
Diante dos números de hoje e de acordo com a expectativa de desaceleração global das principais economias desenvolvidas do mundo, acreditamos que o PIB deve fechar 2023 em 2,8%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho
O resultado surpreendeu, pois tínhamos uma projeção de crescimento de 0,4% na margem. Pelo lado da oferta, nós vemos que foi o setor industrial que alavancou o crescimento no 2T23, principalmente o setor de mineração, que performou bem nesse período, mas quando olhamos o setor manufatureiro, vemos que ele continua com dificuldades para crescer.
O setor agrícola, que foi o grande propulsor do crescimento econômico no 1T23, até que surpreendeu, em certa medida, no 2T23 pelo fato de que houve uma pequena queda se comparada ao forte crescimento do trimestre anterior. Isso porque, dada a base elevada de comparação do 1T23, havia a expectativa de que o setor agrícola contraísse mais no 2T23. Nós esperávamos uma contração em torno de 7%, mas ela foi de apenas 0,9%. Já o setor de serviços continuou crescendo de forma moderada, sendo que essa é a tendência para os próximos trimestres.
Do lado da demanda, nós percebemos, basicamente, o consumo das famílias e o consumo do governo. Os investimentos, depois de uma sequência de trimestres bastante negativa, cresceram muito pouco, o que mostra que nós estamos com uma economia que está operando mais na esteira do consumo, dos programas de transferência de renda e de uma política fiscal expansionista, do que numa perspectiva mais favorável, com um otimismo por parte do empresariado em relação à economia.
Para o 2S23, nós devemos ter um 3T23 fraco, com o setor de mineração devendo perder força, com serviços crescendo com taxas moderadas e com a agricultura sem a performance vista no 1T23. Outro fator importante a ser mencionado é que as altas de juros promovidas no passado vão continuar exercendo uma pressão baixista para a atividade econômica nos próximos trimestres.
De qualquer forma, se olharmos o carrego estatístico da série dessazonalizada, nós já temos um crescimento contratado para 2023 de, pelo menos, 3%.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master
O crescimento do PIB foi bem maior do que o mercado esperava, que era algo como 0,2%, 0,3%. Isso já garante um crescimento de 3% para 2023, podendo até ser mais. Todos os subsetores cresceram, com exceção do agro, mas já era esperada uma leve queda no 2T23 depois do crescimento do 1T23.
Os destaques ficaram por conta do setor de indústria extrativa e de serviços financeiros. A parte extrativa está ligada, principalmente, a petróleo e gás. O Brasil já está entre os maiores produtores de petróleo do mundo com mais de 3 milhões de barris/dia, sendo que 20 anos atrás nós não produzíamos nem 1 milhão de barris/dia. Também temos o destaque do setor de extrativismo. O Brasil virou uma espécie de “Meca” da transição energética mundial, já que possuímos todos os minerais necessários para fazermos baterias elétricas, fertilizantes limpos, biometano, amônia verde e hidrogênio verde. Além dessa produção exuberante de mineração, petróleo e gás já aparecer nos números das Contas Nacionais, como o grosso disso é para exportação, temos como reflexo o superávit gigante na balança comercial, que deve bater, pelo menos, US$ 70 bilhões neste ano.
O conjunto dos resultados do PIB foi muito positivo e traz uma perspectiva bastante interessante para o 2S23.