O Produto Interno Bruto (PIB) do 3T23, na série com ajuste sazonal, fechou com um crescimento de 0,1%. A Indústria e Serviços apresentaram variações positivas de 0,6%, enquanto a Agropecuária teve variação negativa de 0,3%.
Para entendermos melhor o resultado apresentado pelo PIB, conversamos com três especialistas do mercado financeiro.
Claudia Moreno, economista do C6
Esse resultado veio um pouco melhor do que a nossa projeção de -0,1% e a do mercado de -0,3%. Sem a influência positiva da Agropecuária, que puxou o PIB para cima no 1S23, a economia acabou sentindo mais fortemente os efeitos dos juros altos sobre a atividade no 3T23. Enquanto o setor de Serviços e a Indústria cresceram 0,6%, a Agropecuária teve uma queda de 3,3%.
A contração na Agropecuária já era esperada. O setor cresceu expressivos 12,5% no 1T23 e depois desacelerou para 0,5% no 2T23. Nossa projeção é que a Agropecuária termine o ano com uma expansão próxima de 16%, número compatível com uma contração no 4T23.
O crescimento de Serviços dialoga bastante com o aumento no Consumo das Famílias, com ambas as séries se encontrando nas máximas históricas. Esse consumo pode estar relacionado com o crescimento da massa salarial. Por outro lado, os investimentos confirmaram a retração esperada no 3T23, reforçando a tendência negativa. A Formação Bruta de Capital Fixo registrou uma queda de 2,5%, a quarta consecutiva.
Outro destaque pelo lado da demanda foram as Exportações. O setor apontou um crescimento de 3% em relação ao 2T23, impulsionado pelas fortes safras agrícolas. Para 2023, nós projetamos um crescimento de 8,2% para as Exportações.
Na nossa visão, o 4T23 também deve registrar uma desaceleração do crescimento, com o PIB encerrando 2023 em 3%, com leve viés de baixa. Já em 2024, a queda da Selic, que se iniciou em agosto deste ano, deve voltar a dar um estímulo à economia e contribuir para um PIB de 1,5%.
Carlos Lopes, economista do banco BV
Como é habitual, nós tivemos revisões da série no 3T23 e no ajuste sazonal, o que faz com que fique complicado dizer se o PIB veio em linha ou não. Na avaliação de ano x ano, veio exatamente o nosso número de 2%, mas o crescimento de 0,1% na variação trimestral foi diferente da nossa expectativa de uma queda de -0,2%.
Qualitativamente, nós não vimos o PIB com grandes surpresas. Ele veio dentro do esperado, com o crescimento do Consumo e dos Serviços contrapondo um pouco a queda dos Investimentos e a fraqueza da Indústria. O PIB mantém a tendência de desaceleração, pelo menos em relação ao 1S23, já que os resultados do 1T23 e do 2T23 foram muito fortes. Esse resultado também não muda a nossa expectativa para o 4T23, pois nós continuamos esperando uma relativa estagnação da economia para o próximo trimestre.
Contabilizando tudo, com as revisões das séries e dos resultados até agora, nós devemos ter um crescimento em 2023 mais próximo de 3%, sendo que a nossa projeção era de um crescimento de 2,8%. Para 2024, nós temos a expectativa de um PIB mais fraco, com um crescimento de 1,5%, mas que, embora seja metade do crescimento deste ano, ainda implica num crescimento moderado a cada trimestre.
Nós não devemos ver uma recessão em 2024 ou uma desaceleração muito profunda. Pelo contrário, nós devemos viver o pior momento para a atividade econômica agora no final de 2023, sendo que ao longo do próximo ano nós devemos ver uma melhora gradual.
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas
Como o mercado esperava uma queda de -0,3% para o 3T23 e um crescimento de 1,7% no ano x ano, o resultado do 3T23 acabou surpreendendo positivamente. O carry, ou seja, a transferência estatística que temos para o crescimento de 2023 ficou em 3%, e para 2024, em 0,3%. Outro ponto a se ressaltar é a revisão da série feita, usualmente, pelo IBGE no terceiro trimestre, o que ajudou a manter o PIB de 2023 bastante positivo.
Do lado da demanda, o Consumo das Famílias surpreendeu positivamente, com uma alta de 1,1% no 3T23 e de 3,3% no ano. Também como destaque positivo, nós tivemos a Balança Comercial, com um aumento das Exportações e queda das Importações. Como destaque negativo, nós temos a Formação Bruta de Capital Fixo, a conta de investimentos, que caiu 2,5% no 3T23 e 6,8% no ano x ano, com uma retração muito grande tanto de Bens de Capital quanto do setor de Construção Civil. Fechando a demanda, nós tivemos o Consumo do Governo aumentando 0,5% no 3T23.
Do lado da oferta, é importante falarmos sobre o Agro, que no 1S23 registrou uma alta de quase 13%. No 3T23, veio uma queda de 3,3%, com uma alta de 8,8% no ano. Esse payback do Agro, com um super desempenho no 1S23 e um desempenho não tão bom no 2S23, já era esperado. Inclusive, esse resultado veio um pouco menor, pois esperávamos um payback um pouco maior, ou seja, o Agro continua desempenhando um papel bastante positivo para o PIB de 2023.
Adicionalmente, é importante falarmos do bom desempenho da Indústria, com destaque para a Indústria Extrativa, e dos Serviços, com destaque para Serviços Financeiros, com os dois setores crescendo 0,6% no 3T23.
Comparando 2023 com 2022, nós devemos ter dois anos muito parecidos, pois depois do PIB ter crescido 3% em 2022, nós projetamos um crescimento de 3,1% para 2023. Essa projeção está embasada na confirmação do Agro um pouco mais resiliente no 2S23 e no melhor desempenho da Indústria e dos Serviços. Para o 4T23, nós esperamos um crescimento de 0,1% na margem, puxado, pelo lado da oferta, por Serviços, e pelo lado da demanda, pelo Consumo das Famílias.
Para 2024, o bom desempenho do mercado de trabalho, atrelado a continuidade do ciclo de corte de juros, deve continuar beneficiando o PIB de Serviços, além de ajudar o Consumo das Famílias pelo lado da demanda. Um ponto de atenção é o Agro, pois nós não esperamos que ela tenha o mesmo desempenho deste ano, o que faz com que o PIB de 2024 seja menor em comparação a 2023. Para o próximo ano, nós estamos esperando um crescimento de 1,8% do PIB.