O Produto Interno Bruto (PIB, indicador da economia de um país) dos Estados Unidos cresceu a uma taxa anualizada de 2,3% no quarto trimestre, segundo o Departamento de Comércio. Foi uma forte desaceleração frente o trimestre anterior, quando a economia cresceu 3,1%. Em 2024, o PIB dos EUA cresceu 2,8%, pouco abaixo de 2023 (2,9%).
“Ao mesmo tempo, o índice de preços do PIB acelerou para 2,2%, acima dos 1,9% anteriores, mas ainda aquém dos 2,5% esperados pelo mercado. Esse quadro reforça o dilema do Fed [Federal reserve, o Banco Central]: a atividade enfraquece, mas a inflação segue resiliente. Embora os dados não pressionem o Fed imediatamente por aumento de juros, também não sustentam novos cortes no curto prazo, sugerindo que a política monetária permanecerá estável por mais tempo nos EUA”, opina Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
Para João Kepler, CEO da Equity Fund Group, o crescimento do PIB dos EUA no quarto trimestre de 2024, abaixo da previsão do mercado, “reforça os sinais de desaceleração econômica, especialmente em meio a uma política monetária restritiva e ao enfraquecimento do consumo interno”.
Kepler concorda que esse dado “pode ser determinante para a manutenção dos juros pelo Federal Reserve, já que o crescimento moderado alivia a pressão sobre uma nova elevação das taxas. No entanto, o Fed deve monitorar outros indicadores, como o mercado de trabalho e a inflação, antes de adotar uma postura de cortes”.
Em relação ao Brasil, o CEO da Equity Fund Group acredita que a manutenção das taxas de juros norte-americanas pode ser benéfica ao atrair fluxo de capital estrangeiro, “mas o cenário requer cautela, pois qualquer mudança inesperada nos dados americanos pode redirecionar os fluxos globais, afetando o câmbio e os investimentos externos no país. Além disso, há a possibilidade de Trump tentar interferir e pressionar nas decisões sobre os juros do Fed”, alerta.
“Se o real se desvalorizar muito diante do dólar, o Copom [Conselho de Política Monetária do Banco Central do Brasil] pode ser forçado a manter a Selic mais alta por mais tempo, segurando a queda dos juros para evitar maior volatilidade cambial e impactos na inflação. Portanto, a política monetária americana pode sim influenciar o rumo da Selic no Brasil, tornando os cortes mais graduais ou até postergando decisões que antes pareciam mais prováveis”, analisa Pedro Ros, CEO da Referência Capital.