Consultoria reduz previsão de crescimento do PIB brasileiro

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Indústria máquinas
Indústria máquinas (Foto: José Paulo Lacerda/CNI)

A recuperação global está no caminho certo, embora condicionada a elementos-chave de diferenciação entre os países. A análise é do time de economistas da Euler Hermes. De acordo com o chefe de pesquisa macroeconômica da seguradora, Alexis Garatti, o PIB global deve atingir +5,1% em 2021, com 1/4 da recuperação sendo impulsionado pelos EUA, enquanto a China deve contribuir com parcela menor, adotando progressivamente uma política econômica menos flexível. Em 2022, o crescimento do PIB mundial deve alcançar +4,0%. A Europa deve recuperar suas perdas apenas neste horizonte; enquanto os EUA, no segundo semestre de 2021.

Enquanto o Brasil caminha na corda-bamba fiscal e luta para fazer avançar sua agenda de reformas, as exportações de commodities podem ajudar a controlar o estímulo moderado na luta contra a Covid-19; o país se beneficia de amortecedores externos contra crises financeiras. “A má gestão da pandemia, a implementação lenta da vacinação, as pressões inflacionárias e os riscos políticos/sociais colocam a recuperação em risco e devem criar alguma pressão sobre a moeda, aumentar os custos dos empréstimos para as empresas e levar a um crescimento das insolvências na casa de dois dígitos. Esperamos um crescimento do PIB de +2,8% em 2021, + 2,3% em 2022, após uma contração de -4,4% em 2020”, prevê o economista.

De acordo com Alexis Garatti, a corrida para a recuperação dependerá da superação de sete obstáculos: a corrida da vacinação. Os riscos de execução continuarão a ser um diferenciador fundamental entre os países, com o ritmo das campanhas de vacinação levando a uma recuperação em várias velocidades e mantendo altos níveis de divergência. No ritmo atual, os EUA e o Reino Unido alcançarão a imunidade coletiva em maio, prevê a seguradora. Embora a Europa deva ser capaz de vacinar sua população vulnerável até o verão (no Hemisfério Norte), a imunidade coletiva não deve ser alcançada antes do outono. Entretanto, a maioria dos governos está acelerando o ritmo.

O excesso de poupança ainda será 40% acima dos níveis pré-crise no final de 2021: Em um cenário relativamente otimista, esse excedente deve fornecer um vento favorável para os gastos do consumidor na ordem de +1,5% do PIB na Europa e mais de +3% nos EUA neste ano. Quase o mesmo valor pode ser adicionado para fins de investimento ou consumo no exterior, caso os efeitos da confiança se mantenham.

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Os economistas da Euler Hermes calculam que cerca de 163 bilhões de euros serão transformados em consumo privado na Zona do Euro, o equivalente a 30% do excedente da poupança das famílias. “Nos EUA, esperamos que 50% do excedente atual seja gasto em 2021, uma vez que um afrouxamento anterior das restrições e estímulos fiscais devem impulsionar o efeito confiança. A taxa de poupança das famílias dos EUA deve voltar a um nível normal, próximo a 7% da renda bruta disponível no final de 2021” explica Garatti.

A eliminação progressiva dos mecanismos de assistência não é um jogo de somar zeros e o risco de erros permanece alto:  Depois do consenso de “vamos fazer o que for preciso” em 2020, o economista afirma que a política fiscal marchará no ritmo dos tambores nacionais daqui para frente. Na China, o caminho para a normalização fiscal já foi iniciado, com metas fiscais implicando em uma clara retirada das medidas de apoio – ainda que alguma flexibilidade seja mantida para gerenciar o risco de crédito quando necessário.

A tocha da demanda global passará para os EUA, com seu gigantesco estímulo fiscal de US$ 1,9 trilhão (9% do PIB). Em comparação, a resposta fiscal da Europa empalidece: o fundo Próxima Geração (NGEU) só estenderá uma mão amiga a partir do segundo semestre de 2021 e o impacto no crescimento deve ser moderado e atrasado, dado seu foco no lado da oferta (2/3 dos subsídios de 313 bilhões de euros serão provavelmente usados para investimentos) e pagamentos prolongados.

Os efeitos de crowding-in vs. crowding-out sobre o investimento ainda não foram resolvidos: O “Build Back Better” de Joe Biden nos EUA (potencialmente US$ 2,3 trilhões), o fundo Próxima Geração da EU (725 bilhões de euros) e o plano de infraestrutura da China (+1,5 trilhão de iuanes até 2025) contribuirão para apoiar a demanda e o potencial de crescimento da economia global durante o médio prazo. Mas seu sucesso dependerá da capacidade dos governos de canalizar o excedente de suas “economias” no desenvolvimento de projetos produtivos e o aquecimento do setor privado.

“Descobrimos que 100 bilhões de euros de poupança excedente poderiam aumentar o investimento empresarial em cerca de +2% a/a na Alemanha, França e Reino Unido, mas muito disso dependerá das políticas fiscais futuras e das condições de financiamento, por exemplo, empréstimos estatais para recuperação”, explica.

Os gargalos na cadeia de abastecimento global devem empurrar o comércio para uma recessão limítrofe no segundo trimestre: O crescimento do comércio global vai se recuperar em 2021 atingindo a marca de +7,9% em termos de volume, (excluindo os efeitos de base, +5,4%). Segundo Garatti, é esperada “uma desaceleração temporária no segundo trimestre devido à interrupção da cadeia de fornecimento que pode custar -1,7pp no crescimento do comércio global. Além disso, o setor de serviços continuará prejudicado pelo atraso na reabertura dos segmentos mais afetados pelas restrições da Covid-19 e pelas barreiras contínuas às viagens internacionais”

A análise aponta ainda que é provável que um excesso de inflação seja causado por efeitos de base temporários. Portanto, o poder de precificação das empresas provavelmente permanecerá limitado, dada a dinâmica de demanda moderada: (i) excesso de poupança das famílias e NFCs que atuam como um obstáculo à velocidade do dinheiro; (ii) hiatos negativos do produto devido à menor utilização da capacidade instalada e (iii) aumento das taxas de desemprego que irão conter o crescimento dos salários (abaixo de 3%). Portanto, o economista espera que os bancos centrais façam uma reviravolta de política como uma reação à inflação.

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