Pix é o meio de pagamento mais utilizado no país, segundo a Febraban

Operações financeiras do varejo são alternativa de acesso ao crédito para classes C, D e E, que somam 76% da população; e desbancarizados

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Pix (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)
Pix (Foto: Marcello Casal Jr./ABr)

De acordo com a pesquisa The Global Payments Report, realizada pela Wordplay, o pagamento em dinheiro físico tem sido cada vez mais deixado de lado pelos brasileiros: o dinheiro em espécie representava 48% dos pagamentos em 2019. Entretanto, em 2023, o número caiu para 22%, e a projeção é que, em 2027, seja ainda menor: apenas 12%.

O estudo revelou que o Brasil está mais avançado do que o Japão e a Alemanha na digitalização de pagamentos. Entre cartões de crédito e débito, carteira digital, Pix e código QR, são várias as formas de pagamento disponíveis que não exigem a troca de cédulas e moedas.

Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o Pix foi o mais utilizado no país em 2023, correspondendo, aproximadamente, R$ 42 bilhões em transações.

Diante do novo cenário, a Febraban confirmou a extinção do sistema de transferência de Documento de Ordem de Crédito (DOC) e da Transferência Especial de Crédito (TEC). Nenhum banco processa mais essas operações. Já a emissão de boleto online segue como uma alternativa para os consumidores, que podem escolher entre concluir a transação de forma digital ou imprimir o documento e realizar o pagamento por meios não digitais. A Wordplay constatou que a forma de pagamento foi responsável por 2,9% dos pagamentos para e-commerce em 2023.

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Segundo o BC, o ano de 2023 encerrou com mais de 212,305 milhões de cartões de crédito ativos no país. O número representa o crescimento de 3,3% com relação ao ano anterior.

De acordo com a Serasa, nove entre cada 10 brasileiros usam mais de um cartão de crédito para fazer compras. Muitas bandeiras e instituições incentivam o uso por meio da oferta de prêmios e vantagens, como a soma de pontos ao realizar compras no cartão de crédito que podem ser trocados por passagens aéreas, produtos, entre outros benefícios.

O levantamento da Wordplay registrou que 35% dos pagamentos das compras virtuais na América Latina são realizados com cartões de crédito, seguidos das carteiras digitais (21%). Entretanto, muitas dessas carteiras são atreladas a um cartão cadastrado e oferecem a possibilidade de utilizá-lo para pagar boletos e fazer transferências.

Em alguns países, como a Suécia e a Holanda, é permitido que as lojas recusem o pagamento em dinheiro físico. A realidade já está sendo discutida no Brasil e, em 2023, ao menos quatro projetos de lei para acabar com a circulação de dinheiro em espécie estavam em andamento na Câmara dos Deputados.

Um deles é o PL 4.068/20, proposto pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que visa tornar obrigatório o uso de meios digitais para pagamentos, abolindo o uso de dinheiro em espécie em todas as transações financeiras do país.

A digitalização dos meios de pagamento apresenta vantagens, como a praticidade e a diminuição dos custos de produção. Porém, garantir que o processo aconteça sem excluir uma parcela da sociedade ainda é um desafio.

A pesquisa TIC Domicílios, divulgada em 2023 ,pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), relata que há cerca de 36 milhões de pessoas offline no país. O índice de brasileiros sem internet chega a 53,3% em áreas rurais. Para essas pessoas, o pagamento por meios físicos é uma necessidade.

Estudo do Instituto Locomotiva mostrou, ainda, que os brasileiros de baixa renda, das classes D e E, são os que mais usam dinheiro físico. Para 65% das pessoas nessa faixa, ele é a principal forma de fazer compras.

Já a pesquisa Mercado da Maioria, realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com a PwC, reuniu dados sobre o comportamento de consumo e poder aquisitivo das classes C, D e E no Brasil, consideradas a base da pirâmide social no país. De acordo com o estudo, elas representam 76% da população brasileira e respondem por quase metade do consumo do país, mas, ainda assim, têm um potencial de compra reprimido, em parte, pela falta de acesso ao crédito: 56% das pessoas da classe C já deixaram de comprar algo por falta de crédito; nas classes D e E, este número sobe para 72%. Uma alternativa para esse gargalo está nas operações financeiras realizadas pelo varejo, que conseguem abarcar também os desbancarizados, pessoas que não têm conta no banco.

Essas operações são realizadas pela própria varejista, quando a rede de lojas oferece um programa de financiamento, concessão de crédito ou empréstimo, por exemplo, sem depender de um banco, pois ela mesma é dona da operação ou conta com uma empresa parceira que possui todo um ecossistema financeiro pronto para uso, sempre em conformidade com o Banco Central. Em um cenário positivo, esse tipo de programa ajuda na fidelização do cliente, que consome mais dentro da companhia e ganha poder de compra, mesmo que por um curto período de tempo.

Segundo ele, os bancos também têm um gargalo, porque quando dão crédito para as classes C, D e E, também aumentam a inadimplência.

Ainda de acordo com a pesquisa do Instituto Locomotiva, 87% das pessoas das classes C, D e E consumiriam mais se tivessem mais acesso a crédito. Eles têm dificuldades, por exemplo, com aumento de limite no cartão: 79% já solicitaram aumento de limite, mas 38% deles nem sempre conseguiram.

Outro dado que surge na pesquisa é sobre o uso do Pix como principal meio de pagamento do dia a dia, atingindo 66% da população do mercado da maioria, já que ele apresenta descontos para quem o utiliza, ausência de taxas e transação instantânea. Por sua vez, o mercado da maioria é como se identifica a população das classes C, D e E, sendo que 52% são mulheres; 62% se identificam como pessoas negras; 9% são LGBTQIA+, entre os adultos; e 9% tem algum tipo de deficiência.

Para este público, o uso dos cartões private label, aqueles emitidos por uma marca que só podem ser utilizados dentro da própria rede de lojas e que não têm bandeira, representa apenas 9% do total. Mesmo assim, 15% das pessoas ainda não o utilizam como meio de pagamento, mas gostariam. Segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva, a integração das formas de comprar online e offline pode ajudar os meios de pagamento a se integrarem, tornando-se uma alternativa menos complicada aos consumidores.

Hoje, 28% dos brasileiros já utilizaram pagamento por uso de reconhecimento facial ou biometria, o que mostra um grande potencial de crescimento para a modalidade.

Ainda de acordo com o estudo, mesmo com a transformação digital, as lojas físicas ainda têm relevância. Para compras de supermercado, por exemplo, 46% das pessoas das classes C, D e E usam somente os espaços físicos. A maioria opta em comprar mais pela internet os artigos eletrônicos, cursos diversos ou cursos de idiomas. Para o varejo continuar se destacando e tendo relevância para esse público, será preciso criar experiências envolventes e personalizadas para conquistar o consumidor, de acordo com as preferências dele. Por exemplo, alternativas que levem em conta a sustentabilidade, a diversidade e a responsabilidade social. Aos poucos, as preferências de consumo estão mirando em um bem-estar coletivo, levando em consideração um propósito. E é dessa forma que o consumidor consegue se engajar no processo e também participar dele, se tornando protagonista.

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