Pobreza e dívida interna x petróleo

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A visibilidade da pobreza atual do país é tal que até os políticos abandonaram-lhe o ataque, pela impossibilidade de seu resgate, o que lhes dificultaria a reeleição. Dispensa a narração intelectual de Portinari ao Cinema Novo. Asa Branca, hino nacional do irmão Luiz Gonzaga, não pára de tocar. E daí?
De recessão em recessão, ao longo de duas décadas em que as taxas médias de crescimento do PIB cederam, a pobreza se esparramou pelo país, não só em números absolutos, por força do crescimento populacional (em desaceleração), mas também através de falência dos mecanismos naturais de sua redução, como: frentes de trabalho em saneamento básico, estradas e habitação.
No limite da recessão e do aumento da criminalidade, igualmente não consegue sequer o governo, paradoxalmente, otimizar as condições de repressão policial e carcerária.
Pois é de seleção natural da espécie humana econômica (do “homo faber”) que se trata quando, em última instância, se inicia o processo aparentemente simplista de um monetarismo que elege a moeda como mercadoria fundamental.
Cavalo da Tróia de Chicago, a ideologia monetarista foi penetrando em inglês, mal traduzido, enterrando o desenvolvimentismo dos anos 80.
Desde então, após a consolidação do open market, deslocamo-nos de um capitalismo financeiro ao especulativo, de tendência mundial – não menos seletivo – culminando com o recente refrão de “juros altos para atrair recursos externos”, cujos resultados são a dívida líquida de R$ 500 bilhões, a freiar o crescimento da renda, da saúde, da escolarização e da própria população, auto-limitada sobretudo na classe média, temendo a empregabilidade futura de seus filhos.
A leitura sociológica inexistente, entre os economistas, impede-lhes descobrir que as continuas recessões de curto prazo, ao comporem uma de longo prazo, alteram o percurso sociológico de uma população. O esvaziamento econômico do Rio de Janeiro além de infletir sua taxa de crescimento populacional, empurra cada vez mais sua população economicamente ativa para atividades marginais, que se iniciam na infância.
Juros altos são ingredientes sociológicos maiores quando adotados a longo prazo, ao elevarem a dívida líquida brasileira, drama da próxima geração.
Pois além da desorganização sociológica que tal dívida introduz, o esforço de sobrevivência da nação e sua readaptação a esta nova condição hostil imposta, transforma-se num desafio antropológico, muito além de qualquer equação econômica.
Todos ao trabalho, 12 a 14 horas por dia, sem lazer. Guerra e castigo imposto pela nova dívida, oriunda da cultura financeira de Chicago, anglo-saxã, despreocupada quando à zona equatorial do sol a pino, problema planetário e não nacional. As escolas dos barões do Nordeste nem de longe ensinam tal realidade. O sol é praga quando já poderia ser, neste fim de século, desenvolvido e industrial, matéria prima para energia solar em todo o Nordeste, caros que fossem seus equipamentos, mas superando os diversos investimentos a fundo perdido e melhorando as condições de vida daquela região.
A dívida de R$ 500 bilhões que se abateu sobre o país é o próximo desafio geracional: seleção imposta à espécie brasileira. A par de estigmatizar seus autores, lançando-os num livro negro da dívida interna brasileira, ou mesmo inscrevendo seus nomes em monumento de granito negro, a par disto, cumpre bramir as ferramentas para sua superação. José Carlos Assis, na coluna ao lado, já exaustiva e continuamente vem atacando a equação monetarista anglo-saxã, amplificada no país com o recolhimento compulsório bancário recorde de 65%, contra 12% nos anos 60, e abaixo de 10% na maioria dos países.
Mas tudo isto ainda é o consenso de Washington e Chicago, o novo capitalismo especulativo que a partir de lá se desenvolveu por força da expansão das especulações em diversas commodities, incluindo títulos públicos e moedas no Chicago Board of Trade.
A pressão nacional contra a dívida interna, juros elevados e seu alongamento serão os novos aglutinadores políticos a envolver do FMI ao PT, para a retomada do desenvolvimento.
E, aqui, será necessário uma frente de debate, como a vem sustentando o MONITOR MERCANTIL, de modo a evitarmos a marginalização da espécie humana brasileira, para onde nos empurram os teóricos do branco mundo saxão e seus iludidos representantes no Brasil, que crêem que mal falar inglês lhes dá cidadania de gente desenvolvida, ou mesmo imortalidade acadêmica.
Mas além desta superestrutura financeira, temos uma ferramenta real capaz de acelerar o desenvolvimento: o negro petróleo, velho sonho de Vargas, o melhor conhecedor do País até hoje.
Graças ao esforço sobre-humano dos técnicos da Petrobras, contra o veredicto de Link em seu conclusivo relatório final e de seus muitos seguidores por demais conhecidos entre os quais a mídia oficial, o petróleo está brotando por todos os poros do país, sangue de suas veias, sangue de Vargas, mito fundador do Brasil moderno.
Mais petróleo, menor dívida, menos pobreza: aqui a essência deste novo Brasil que nasce deste esforço anônimo de milhares de trabalhadores da Petrobras, trabalhadores do Brasil, construtores de um novo país, do Brasil de Vargas. Mas é preciso extraí-lo velozmente.
O planejamento estratégico da Petrobras para 2005, recém-apresentado aos analistas a 21/10/99, aponta para o vigoroso crescimento da produção em 80%, de 1,1 milhão b/d para cerca de 2 milhões, de petróleo e gás, contra um consumo de 2,2 milhões de b/d, não se longrando ainda a auto-suficiência, em virtude certamente das dificuldades interpostas pelo acionista majoritário, que interfere e retarda programas de investimentos, classificados, estupidamente, como despesas.
Relações de troca já estão ali definidas como a exportação de 300 mil b/d e, como inferência, a importação de 500 mil b/d.
Se as importações privilegiarem a América Latina, e as exportações, países com moeda forte, já teremos ganhos expressivos de divisas. Mas sobre este item não fala o planejamento estratégico. E, ainda, se na América Latina (Mercosul e não Alca), a Petrobras se utilizar de suas conhecidas ferramentas de “barter” e de contrapartida, abrirá expressivo espaço para a exportação de bens e serviços brasileiros. Afinal, somente nos tempos da Interbrás, o país sustentou taxas de exportação próximas a 1,5% do PIB contra 1% no antes e no depois de sua existência.
Mais petróleo contra  a pobreza e contra Dívida 500, pilhagem histórica deste governo ao País. Historiadores do Oriente Médio não esquecem o saque dos templários à Constantinopla no século XIII, acusados ainda hoje pelo terrorista Bin Laden. Saques permanecem na História. Que deste nos resgate o petróleo, enquanto é tempo e que seja este o compromisso da cúpula da Petrobras e não apenas de seus conscientes trabalhadores.

Paulo Guilherme Hostin Sämy
Diretor da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais do Rio de Janeiro (Abamec-Rio), especialista em bancos e comércio exterior.

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