Política é busca de harmonia coletiva, não isso que taí

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Entendo política como busca de harmonia social, mas o que vejo com esse nome é quase o contrário disso, basta comparar a realidade da maioria e a desse grupo que se põe como “representante do povo”. A hipocrisia é uma evidência exposta na realidade. O aparato público se aplica a servir os interesses econômico-financeiros de um punhado e manter a população sob controle, ignorantizada, desinformada, mão de obra barata contida em qualquer manifestação de inconformação, de protesto ou reivindicação, por mais justa que seja, pelos agentes da “segurança pública”, na verdade da repressão geral, sobretudo ao povo mais pobre.

Estou na política há mais de 40 anos, mas no que entendo por política. Inconformado com as injustiças sociais flagrantes, fiz da observação, absorção, entendimento e intuição da minha realidade social a minha vocação, colocando em meu trabalho artesanal e artísticos, pensamentos, reflexões, críticas, sugestões, ironias, desenhos, símbolos que me pareciam úteis pra estimular o questionamento, a busca de razões, de caminhos, o enxergar da realidade além do que nos é mostrado ou permitido.

Minha política é na rua, na atitude, na busca das raízes dos desequilíbrios – sociais, pessoais, profissionais, vivenciais, espirituais. É a busca do entender o que acontece, como acontece e por quê acontece a partir do que se vê e do que se vive. A descoberta do que quero e do que fui pressionado, induzido ou seduzido a querer. Do que vejo em volta e do que era levado a ver. Da escolha dos meus valores e do meu comportamento diante de tudo isso, em vez de ter valores e comportamentos impostos por uma sociedade que deixei de respeitar, social e moralmente.

Por isso mesmo recuso a política partidária, por não ver ali política de verdade, mas simulação, traição, encenação, fingimento, na defesa de interesses econômicos e, sobretudo, financeiros. Aquilo não é a boa política, embora o massacre cultural, midiático, publicitário e ideológico faça a maioria não ver política fora dessa farsa – que produz inclusive o modelo de educação mercadológico e cria mentalidades frágeis, sem capacidade crítica, fácil de se enganar, de se conduzir e formar mentalidades de acordo com aqueles interesses parasitas.

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Claro que há exceções, pessoas minimamente bem intencionadas, nesse meio. Mas isso por razões estratégicas. É preciso, a bem da encenação, que existam vozes dissonantes, pra manter a imagem, legitimar as instituições – infiltradas e dominadas – e “provar” que essa fraude é uma democracia. São “dons quixotes” lutando contra moinhos – valiosos na exposição das falcatruas institucionais, embora em língua restrita que não chega à massa da população, boicotados e omitidos pela mídia empresarial dominante.

Uma democracia só pode existir, a meu ver, com um povo bem nutrido, bem instruído, conhecedor da sua história, da formação do povo, bem formado e bem informado, capaz de perceber e escolher por conta própria, conhecedor dos seus direitos e dos mecanismos coletivos de controle dos que se dizem seus representantes. Mas a estrutura social é formada minuciosamente pra impedir isso de acontecer.

É preciso construir sem contar com o Estado. Ou contando o mínimo possível. Parece que a estrutura pública tem uma peste. E tudo o que toca, é contaminado. A vacina pra essa peste é consciência coletiva. E essa é uma grande conquista individual que chega devagar, aos poucos, vai se formando, na prática do dia a dia, no cotidiano das relações pessoais, na observação da coletividade sem fim que é a humanidade.

E afinal, no sentimento de infinitas e diferentes humanidades pelo universo afora. Ou adentro.

Pouco a pouco, percebemos. Temos tempo, pra trás e pra frente.

Eduardo Marinho

Artista de rua e escritor, mantém o site observareabsorver.blogspot.com

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