Hoje, o conjunto da obra na terra da jabuticaba é o seguinte:
A economia encontra-se em frangalhos – estagnação antes da pandemia e recessão depois, desemprego alarmante, inflação da cesta básica, queda dos rendimentos, crescimento da pobreza extrema (12,8% da população) e precarização de todo tipo. E destruição de cadeias produtivas, como a do petróleo, aprofundando o processo de desindustrialização do país.
Ameaça real e permanente em relação ao Estado de Direito – bem como, estímulo à arbitrariedade e violência policial (contra pobres, negros, mulheres e LGBT) e maior facilidade de aquisição de armas. Cresce a militarização da vida cotidiana.
Desestruturação (e boicote) de todos os órgãos de fiscalização do Estado – em especial no que se refere ao meio ambiente e às comunidades indígenas (Ibama e Incra), e agressão à floresta amazônica, com estímulo às atividades de garimpo, pecuária e extração de madeira.
Política externa errática, alinhada de forma subalterna com agressões injustificadas contra parceiros comerciais importantes do Brasil (China, países árabes, Argentina e outros) e entrega de riquezas e empresas nacionais ao capital internacional.
Uma política genocida de não combate à pandemia – com a negação, desde o início, da gravidade da doença, recomendação de remédios desacreditados e condenados pela OMS e cientistas de todo o mundo, boicote a todas as medidas sanitárias recomendadas (uso de máscara, isolamento social, lockdown ou qualquer tipo de restrição) e, inacreditavelmente, uma ação explícita contra a vacina e a vacinação, fazendo “corpo mole” e “enrolando” na compra de vacinas. Nesse contexto, o sistema de saúde do país está inegavelmente entrando em colapso.
Ao longo da última semana, sofreu mudança aguda o quadro político e o campo popular voltou ao jogo eleitoral de 2022. É impossível compreender esse novo tempo sem considerar, também, a revolta popular da juventude no vizinho Paraguai, a luta de poder entre militares e o alto judiciário nacional, as críticas duras do NY Times à operação Lava Jato e a mudança (temporária) da maior rede nacional de TV, em relação ao líder popular, oriundo do movimento sindical e social, Lula da Silva. O quadro embolou.
O tempo presente lembra o poeta Cazuza, que dizia: “Mas, se você achar que estou derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo não pára. Afinal, as ideias não correspondem aos fatos, e o tempo não pára.”
Ranulfo Vidigal é economista.