População brasileira ou minoria especulativa

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símbolo BR Petrobras (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Petrobras (Foto: Tânia Rêgo/ABr)

A substituição do presidente da Petrobras, anunciada dia 19, colocou a nu a manipulação que as finanças, nacionais e estrangeiras, cometem na pouco volumosa Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Os grandes capitais sempre buscam os mercados mais fracos, onde as manipulações são mais fáceis e podem render maiores ganhos, além de melhores controles. Isto ocorre em todo mundo, não só em bolsas de valores e de mercadorias, como na fixação de preços de referência em contratos.

Temos como exemplo o pouco negociado petróleo ANS (produzido no Alasca), em relação ao WTI ou ao Brent, negociados nas bolsas de Nova York e Londres. Qual preço o caro leitor imagina que uma refinadora da costa oeste estadunidense escolherá como referência contratual? O manipulável ANS ou o muito negociado Brent?

Por todo mês de fevereiro, até surgir como boato a troca do Roberto Castello Branco, as ações da Petrobras na Bovespa movimentaram, em nove dos 13 pregões, menos de R$ 1,83 bilhão/dia, oscilando os preços entre R$ 27 e R$ 29. E foi das ações mais negociadas.

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A partir de 18/2 até 26/2, a menor movimentação foi R$ 3,80 bilhões (24/2) tendo atingido, no dia chave da notícia (segunda-feira, 22/2), 25% do movimento total, ou seja, R$ 10,82 bilhões.

No quadro que segue, das ações da Petrobras, a mais negociada (PETR4), fica clara a manipulação que os analistas amestrados, defensores dos especuladores e inimigos dos brasileiros, disseram ser o governo contra o investimento no país, ou contra o mercado (que mercado?).

DATA

ABERTURA (R$)

FECHAMENTO (R$)

VOLUME TOTAL (R$ bilhões)

18/2

30,38

29,27

3,15

19/2

28,03

27,33

5,98

22/2

22,80

21,45

10,82

23/2

23,05

24,06

6,89

24/2

24,55

24,40

3,80

25/2

25,00

23,19

4,12

26/2

23,20

22,24

3,59

Veja que curioso, nos dias 18 e 19 foram negociados R$ 9,13 bilhões, na segunda-feira, 22/2, R$ 10,82 bilhões, e no restante da semana (23 a 26) R$ 5,11 bilhões na média. Para esta ação que rarissimamente negociara, no mesmo mês de fevereiro, R$ 2 bilhões/dia até então, e, na média diária, de 1º até 17/2, tivera volume total de R$ 1,88 bilhão.

Claras estão duas conclusões. A primeira, mais geral e ampla, que as movimentações na Bovespa nada têm a ver com a economia e muito menos ainda com as perspectivas de investimento, emprego e renda no Brasil.

Segundo, que a iniciativa privada no Brasil, nestes últimos anos, passou a ser meramente especulativa. Os investimentos de risco desapareceram como o empreendedor brasileiro.

A bem da verdade, não só brasileiros, mas de qualquer nacionalidade. Desde os anos 1980, quando as finanças passaram a dominar os poderes nacionais no ocidente, nenhum investimento foi realizado sem a presença majoritária do Estado. Isso vale para os Estados Unidos da América (EUA), para o Reino Unido, para a Alemanha unificada e, principalmente, para os países que mais se desenvolveram: a Rússia e a China.

Estamos, salvo em poucos países ou sociedades, regredindo ao início do século XX. É curioso notar que há 100 anos, o mundo iniciava um processo de desenvolvimento, que não dependia de ideologia: nele estavam os capitalismos liberal e totalitário e o socialismo. Economistas franceses de meado do século XX denominaram o período de 1945 a 1975 dos “30 anos gloriosos”, pois o país cresceu e distribui riqueza; havia emprego, havia lucro e renda. Hoje, só há concentração da renda financeira.

Foi com a derrota do financismo colonial inglês, na I Grande Guerra, que surge o novo poder econômico, social e político do industrialismo. Este será o condutor das duas potências que disputarão a ideologia dominante: capitalista e socialista. Mas, no capitalismo, as finanças buscam reconquistar seu poder, com campanhas ecológicas, conservadoristas, lançando no mundo industrial, principalmente petroleiro, as mazelas da civilização. Também difundindo uma liberdade individual, extrema, que a própria sociedade financista não aceitará, e terá como vitrine o movimento de maio de 1968, em Paris.

As mudanças que retiraram poder dos ganhos do trabalho (salários), dos lucros (produção) e concentraram nas especulações financeiras o poder – desregulações dos governos Thatcher e Reagan – construíram a sociedade de hoje, onde a farsa é a comunicação de massa, e os engodos, as propagandas financeiras.

Precisamos voltar a olhar para o Brasil, para os ganhos nacionais, pois os financeiros não trazem benefícios para o povo brasileiro.

 

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.

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