Diretor executivo, diretor-geral ou diretor-presidente ou CEO?
Muitos nomes para um mesmo cargo, chief executive officer (CEO), diretor executivo, diretor-geral ou diretor-presidente. Apesar de a nomenclatura existir há muito tempo, apenas atualmente, com o crescimento do mercado da inovação, que passamos a nos referir ao diretor executivo da empresa como CEO. Nas estatais, bancos e empresas muito tradicionais, ainda se referem ao diretor executivo como presidente.
Contudo ainda existem controvérsias e confusões sobre as nomenclaturas. Algumas instituições se referem ao dono da empresa como presidente e ao CEO como o diretor responsável pela garantia da estratégia da companhia, que pode inclusive ser a mesma pessoa. Outras dizem que os dois são sinônimos e escolhem apenas uma nomenclatura utilizada, como a maioria das novas empresas e startups.
Já algumas poucas instituições se referem ao presidente como o responsável pela estratégia e ao CEO para a operação, o que é de certa forma incorreto, já que também contamos com o papel do COO (chief operating officer, ou diretor de operações) para coordenar a operação, enquanto o CEO fica com a parte estratégica e relacionamento.
Apesar de o CEO ser o cargo máximo da hierarquia corporativa da empresa, não quer dizer que não tenha que se reportar a ninguém. Ele é cobrado e fiscalizado pelos conselhos, que têm o papel de representar os interesses dos investidores, também possuindo seu representante, o chairman.
Em uma estrutura organizacional adequada, seguindo os padrões da governança corporativa, muito comum nas S/A, ou sociedades anônimas, é sugerido que a empresa possua um conselho administrativo, responsável por acompanhar a evolução da empresa e fiscalizar sua administração, um conselho consultivo, sem poder deliberativo, mas com o papel de propor recomendações, e um conselho fiscal.
Portanto, além de repassar aos conselhos todos os detalhes da empresa, consolidando resultados financeiros, fiscais, operacionais e estratégicos, o CEO tem o papel fundamental de representar a empresa internamente e externamente. Seu papel internamente é muito importante para servir de exemplo da cultura da empresa, já que é para o CEO que os demais diretores precisam reportar seus resultados e planejamentos. Fora da empresa ele é a ponte com o mercado, investidores, imprensa e demais parceiros.
Ele é o primeiro a ser procurado pelos acionistas e o mercado, com base no que é reportado pela empresa. Por esse motivo, as instituições mais tradicionais tendem a buscar um CEO no mercado que já tenha assumido o cargo em outras ocasiões, e a troca do profissional pode resultar em consequências importantes para a empresa, com efeitos positivos ou negativos, a depender do motivo da troca.
Temos algumas situações recentes que demonstram muito claramente estes efeitos, com consequências de escala diversa e muito diferentes entre si.
A primeira situação é a renúncia do CEO da Americanas, poucos dias após assumir o cargo, após inconsistências contábeis reportadas pela empresa. A saída gerou uma série de especulações sobre a transparência da empresa, já que o profissional que ocupava o cargo era referência no mercado, assumindo o cargo de liderança em grandes empresas, realizando um trabalho de exemplo nestas instituições. A saída relâmpago do CEO, junto aos recentes relatórios financeiros da instituição, geraram uma variação brusca no valor das ações da empresa, com um impacto direto para a instituição.
Outra situação recente é a troca do CEO da Marisa, instituição que apresentou quatro CEOs em menos de um ano, após renegociação de dívidas e renúncias no conselho administrativo. Também é uma ocasião que a troca do profissional gerou reflexos imediatos para a empresa, com uma resposta rápida do mercado. A troca constante do profissional pode refletir em problemas de cultura, falhas na contratação ou até mesmo inconsistências na transparência das instituições.
E uma terceira ocasião de troca de CEO recente, mas que envolve fatores positivos, é a troca do CEO da UAUBox. A troca envolveu a saída do fundador da empresa, que assumiu a posição de presidente do conselho administrativo, para assumir um CEO do mercado, que já participa como conselheiro de uma venture builder, a FHE Ventures, e ocupou cargos importantes em empresas como a C&A e o Grupo Pão de Açúcar.
A troca dos CEOs gerou um impacto positivo para a empresa e para o mercado, como forma de mudança de estratégia da empresa, com foco no crescimento, mas, ainda assim, mantendo o founder como peça importante na tomada de decisões.
E em 2023, novas trocas estão sendo anunciadas, como a substituição do CEO da Via, uma das maiores empresas de eletroeletrônicos e móveis do Brasil, controladora da Casas Bahia e Ponto, e também a entrada de outro CEO na Guararapes, dona da Riachuelo. Em ambos os casos, os novos CEO possuem uma longa história em grandes empresas, já assumindo cargos de C-level em empresas listadas na Bolsa.
Todas as situações demonstram a importância do CEO, não apenas na estruturação do time e na estratégia da empresa, mas também na visão que o mercado possui da instituição, com toda sua visibilidade, segurança, consistência e transparência.
Rafael Kenji Hamada é médico e CEO da FHE Ventures.