A primeira semana após o reajuste anual de medicamentos, que entrou em vigor em 1º de abril em todo o país, registrou variações superiores a 200% no preço de um mesmo remédio. O dado é da plataforma Clique Farma Afya.
O vice-presidente de Soluções para Prática Médica da Afya, Lélio Souza, explica que o reajuste médio de 3,83%, aprovado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), incide sobre o Preço Máximo ao Consumidor (PMC), um valor que serve como teto para o mercado, mas que não determina o preço final praticado pelas farmácias.
Isso acontece porque os estabelecimentos têm liberdade para adotar suas próprias estratégias comerciais, aplicando descontos e promoções. Por isso, mesmo com a alta autorizada, é comum encontrar variações expressivas nos preços dos medicamentos entre diferentes redes.
“Em 2024, por exemplo, dados da Clique Farma Afya mostraram que alguns medicamentos registraram variações superiores a 300% ao longo do ano. Um exemplo é a Rivaroxabana, anticoagulante cujo preço variou até 359% entre diferentes farmácias”, explica Souza.
Já em 2025, logo na primeira semana após o reajuste, a Clique Farma Afya identificou oscilações superiores a 200% nos preços de alguns medicamentos. Um caso é o Letrozol, utilizado no tratamento oncológico: em 31 de março, o medicamento era vendido a partir de R$ 31,90, mas chegou a custar, no mínimo, R$ 100,99 a partir de 1º de abril – uma diferença de 216,58%. Neste caso, embora o aumento sentido pelo consumidor tenha sido maior, o valor ainda está dentro do Preço Máximo ao Consumidor definido pela CMED.
O levantamento realizado pela Clique Farma Afya considera o valor mínimo de cada produto nas principais redes de farmácia do país, antes e após o reajuste.
Na avaliação de Lélio Souza, os novos preços podem comprometer a continuidade de tratamentos médicos, especialmente em populações de baixa renda. “O aumento nos custos pode levar à interrupção de terapias essenciais, impactando a saúde. E, em alguns casos, gerando uma maior demanda por atendimentos médicos devido ao agravamento de doenças”, afirmou.
Já no dia a dia das farmácias, ele observa que uma possível tendência é o consumidor buscar alternativas mais acessíveis, como genéricos e similares, o que pode afetar as vendas de medicamentos de marca e exigir ajustes na precificação e nas políticas de desconto.
Já o Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), resultado de uma parceria entre a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a Bionexo apresentou um avanço de 0,36% em março de 2025, desacelerando em relação à alta de 1,13% registrada no mês anterior. Com esse resultado, o IPM-H acumulou uma variação positiva de 1,15% no primeiro trimestre de 2025, enquanto a variação acumulada nos últimos 12 meses atingiu 4,24%.
Comparativamente, a prévia da inflação ao consumidor no mês de março, medida pelo IPCA-15 do IBGE, apontou uma variação de 0,64%, enquanto o IGP-M/FGV, registrou uma deflação de 0,33% no mesmo período. Além disso, dados do Banco Central indicaram uma apreciação de 0,33% da moeda brasileira em relação ao dólar no período1.
De acordo com Bruno Oliva, economista e pesquisador da Fipe, “os resultados de março vieram próximos de nossa expectativa. Considerando a sazonalidade, a alta mensal de 0,36% foi similar àquela observada em março de 2024, mantendo-se pouco abaixo da média observada para esse mês entre 2015 e 2024 (0,70%), que sofreu influência da alta dos preços durante a pandemia. Considerando a alta acumulada pelo IPM-H em 12 meses, que é de 4,24% (abaixo do IPCA acumulado no período), a atenção se volta agora para o comportamento esperado dos preços dos medicamentos no próximo mês, quando entrarão em vigor os novos reajustes anuais da CMED, cuja média também ficou abaixo da inflação em 12 meses.”
Entre os grupos terapêuticos que compõem a cesta de cálculo do IPM-H, os resultados mensais de março foram influenciados, pelo lado positivo, principalmente pela elevação nos preços de aparelho digestivo e metabolismo (2,43%). Em seguida, destacam-se os grupos: preparados hormonais (0,92%); agentes antineoplásicos (0,73%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (0,63%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (0,55%); e aparelho respiratório (0,20%). Em contrapartida, sete grupos terapêuticos que compõem a cesta do índice apresentaram retração mensal, sendo a mais expressiva observada no grupo sistema musculoesquelético (-2,41%). Em sequência, figuraram: aparelho geniturinário (-3,43%); sistema musculoesquelético (-2,61%); sistema nervoso (-1,16%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-1,00%); aparelho cardiovascular (-0,61%); e órgãos sensitivos (-0,53%).
Considerando o resultado do IPM-H no primeiro trimestre (1,15%), os aumentos de preço abrangeram os grupos: aparelho digestivo e metabolismo (5,04%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (4,97%); agentes antineoplásicos (1,07%); e aparelho respiratório (0,03%). Por outro lado, destacam-se as quedas nos grupos sistema musculoesquelético (-3,76%); aparelho cardiovascular (-1,78%); órgãos sensitivos (-1,34%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-1,19%); sistema nervoso (-0,35%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (-0,34%); preparados hormonais (-0,29%); e aparelho geniturinário (-0,28%).
Já no acumulado dos últimos 12 meses, a variação positiva do IPM-H (4,24%) é impulsionada por: aparelho digestivo e metabolismo (18,98%); imunoterápicos, vacinas e antialérgicos (12,77%); anti-infecciosos gerais para uso sistêmico (4,49%); agentes antineoplásicos (4,21%); aparelho respiratório (3,07%); órgãos sensitivos (1,64%); sistema nervoso (1,41%); e preparados hormonais (1,36%). Em contraponto, os preços recuaram em 12 meses no sistema musculoesquelético (-10,39%); aparelho cardiovascular (-4,26%); sangue e órgãos hematopoiéticos (-3,40%); e aparelho geniturinário (-0,92%).
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