A Petrobras anunciou nesta terça-feira um aumento nos preços dos combustíveis nas refinarias. A gasolina A sobe 16% (cerca de R$ 0,41); o diesel aumenta 26% (R$ 0,78).
Apesar desse reajuste, segundo a estatal, o preço da gasolina vendida às distribuidoras acumula redução de R$ 0,15 por litro no ano, e o diesel, de R$ 0,69 por litro.
Formação de estoques em ataque especulativo
O anúncio ocorreu no dia em que a Federação Única dos Petroleiros (FUP) denunciou o que considera ataque especulativo de agentes econômicos, em um movimento de formação de estoques para forçar um suposto desabastecimento do mercado interno de combustíveis.
“Hoje, os importadores estão sentindo a Petrobras aumentando o fator de utilização das refinarias, para em média 93% [de 60% a 65%], e a estatal também importando gasolina e diesel para abastecer o mercado interno, garantindo o suprimento doméstico”, destaca Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.
O dirigente da FUP reforça que não há qualquer indicação de uma queda nas importações que justifique desabastecimento.
A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) afirmou, em nota, que, de acordo com informações apresentadas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), não há desabastecimento de diesel e gasolina no país.
Petrobras deve ter política de preços de combustíveis que proteja consumidor
A AbriLivre, associação que reúne revendedores de combustíveis independentes (sem exclusividade com um distribuidor), defende que a Petrobras, “como detentora de um quase monopólio da produção de gasolina e diesel no Brasil”, deveria revisitar sua política de preços nos momentos de alta do preço internacional do petróleo e de seus derivados.
Seria uma forma “de evitar que tal alta acarrete a elevação dos preços praticados no mercado doméstico e, consequentemente, inflação e prejuízos aos consumidores e à economia como um todo”, explica a Associação.
“A Petrobras deveria ofertar petróleo bruto às refinarias nacionais pelo mesmo valor que vende às suas refinarias” e ainda “importar o volume necessário para atender à totalidade da demanda nacional, com o objetivo de evitar o desabastecimento desses produtos aos brasileiros”.
“Note-se que ao alterar sua política de paridade com os preços internacionais, por uma baseada em seus custos, mesmo se a Petrobras decidir importar a totalidade da gasolina e do diesel necessário para atender a integralidade da demanda doméstica, o preço praticado pela Petrobras muito possivelmente será inferior àquele de paridade internacional”, destaca a nota da AbriLivre.
Os custos de produção da estatal “giram em torno de US$ 35 o barril e sua produção total é capaz de atender cerca de 80% da demanda interna total; enquanto o preço internacional do barril tem girado em torno de US$ 80 a US$ 85 nos últimos meses”.
“Pelos dados divulgados pela Petrobras, sobre sua produção e venda no segundo semestre de 2023 (ou seja, após a redução dos preços cobrados por ela no mercado doméstico em percentuais entre 20% e 25% daquele de paridade internacional), o volume de gasolina e diesel produzido e importado por ela, se comparado com o segundo trimestre de 2022, manteve-se praticamente estável ou até mesmo com um leve crescimento.”
Mais refinarias para segurar aumento nos preços dos combustíveis
Para a Federação Única dos Petroleiros, (FUP), o aumento nos preços dos combustíveis evidencia a necessidade urgente acelerar o processo de autossuficiência no refino de derivados de petróleo, reduzindo, ou até mesmo eliminando, importações no médio e longo prazos.
“A demanda interna do Brasil é de 2,4 milhões de barris/dia de derivados de petróleo. Segundo o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o nível das importações de gasolina oscila bastante de mês a mês, girando de 5% a 15% do consumo, na maior parte dos meses”, explica a FUP.
No caso do diesel, o nível varia entre 20% e 30% do consumo interno; em junho, ficou em 20%. No caso do GLP, o gás de cozinha, as importações respondem por cerca de 20% do consumo, em média.
“Com a autossuficiência, custos de importação deixarão de existir e não mais influenciarão na formação dos preços no mercado nacional, contribuindo para abrasileirar os preços domésticos. As obras precisam ser aceleradas para que a autossuficiência chegue mais rápido”, diz o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Impacto na inflação será de 0,38 ponto percentual
Andréa Angelo, estrategista de inflação Warren Rena, calcula que o aumento nos preços dos combustíveis chegará a 6,32% nas bombas.
O impacto total estimado para a inflação oficial (IPCA), segundo Angelo, é de 0,31 ponto percentual (p.p.) distribuídos entre o IPCA de agosto (0,8 p.p.) e setembro (0,23 p.p.).
O efeito estimado total, levando em consideração gasolina, etanol e diesel, é de 0,38 p.p. na inflação de 2023. Com isso, a projeção da Warren Rena para 2023 que estava em 4,60%, sobe para 5%.
“Para o IPCA de agosto, nossa projeção, que estava em 0,20%, sobe para 0,30%; para setembro, sobe de 0,40% para 0,68%”, conclui Angelo.
De acordo com Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, empresa especializada no mercado de energia, o anúncio da Petrobras sobre aumento nos preços dos combustíveis não elimina defasagem com os preços internacionais.
Divergência sobre a defasagem no preço dos combustíveis
“Até ontem [segunda-feira], o custo de reposição de uma carga de gasolina entregue no porto de Itaqui para entrega em 30 dias era de R$ 3.143/m³, contra R$ 2.395/m³ da Petrobras, apontando para uma defasagem de 24%. Com o reajuste de hoje de R$ 410/m³, a defasagem passa a ser de 11%.”
No caso do diesel, prossegue Boutin, “o valor de uma carga importada entregue no porto de Itaqui para entrega em 30 dias era de R$ 4.018/m³, contra R$ 2.943/m³, apontando para uma defasagem de 27%. Com o reajuste de R$ 780/m³, a defasagem passa a ser 7%”.
Para o site Soberano Brasil, porém, o preço do diesel, antes do reajuste dos combustíveis desta terça-feira, estava alinhado ao Preço de Paridade de Importação (PPI). O da gasolina, porém, estava defasado em 9,7%. Os preços do petróleo no mercado internacional tiveram uma queda de cerca de 1,8% nesta terça-feira.
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