Prendam os culpados de sempre… e depois esqueçam tudo

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A tragédia que abateu a Cultura mundial neste domingo à noite está sendo condenada pelos personagens de sempre, que responsabilizam os culpados de costume. Os jornais (que defendem a “responsabilidade fiscal”) culpam os cortes de verbas; os servidores (farinha pouca, meu pirão primeiro) criticam a retenção de repasses; o âncora da rádio (do grupo que recebe centenas de milhões em publicidade estatal) demoniza os incentivos fiscais às produções culturais; presidente e ex-presidentes (desde Juscelino, nenhum visitou o Museu Nacional) lamentam a perda e atacam o descaso com a cultura; a população (que nunca frequentou o espaço) critica os políticos que desviam verbas.

A discussão dominará o cenário nas próximas 48 horas. Busca de culpados, críticas ao trabalho dos bombeiros, reportagens sobre outros bens culturais ameaçados, projetos de lei… Depois, negócios como de costume (business as usual, para o pessoal do mercado financeiro entender). Quando o leitor terminar esta nota, a União terá pago R$ 2,3 milhões em juros. Cinco vezes o dinheiro necessário para repor – com juros, e com duplo sentido – a verba cortada nos últimos três anos que deveria ter sido repassada pela UFRJ (que, também em crise, não tem como fazê-lo).

Os bens culturais do Rio de Janeiro definham, mas sobra verba pública de quase R$ 10 milhões para a Fundação Roberto Marinho tocar os museus do Rio e do Amanhã (isto após a Prefeitura cortar a verba, que chegava a R$ 22 milhões). A ONG dos filhos do Roberto Marinho ainda pode captar, com isenção fiscal, outros R$ 28 milhões. Enquanto isso, o Museu de Arte Moderna (MAM), com seus 70 anos, e que há 40 anos pegou fogo, planeja leiloar um quadro de Jackson Pollock para constituir um fundo e poder sobreviver.

E todos já podem voltar a defender o ajuste fiscal, a prioridade absoluta para pagamentos de juros, os penduricalhos salariais… Quanto aos 200 anos do Museu Nacional? Ora, há muitos museus mais antigos na Europa (não, em Miami, não; o mais antigo lá tem 101 anos).

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