Segundo avaliações dos especialistas do Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina da Fundação Getulio Vargas (FGV), em todos os países da América Latina a projeção é de queda do Produto Interno Bruto em 2020, sendo a maior na Argentina (-22%) e a menor no Paraguai (-1,9%). Em 2020, quando comparados os resultados da Sondagem coletados no terceiro e no quarto trimestres, todos os outros países revisaram para baixo as suas previsões, exceto Brasil e Chile. No Brasil, a previsão era de uma queda de -6,5% e passou para -5,5%; no Chile era de -7,3% e passou para -6,1%. Lembramos que Brasil e Chile estão entre os países que melhoraram a avaliação da situação atual. Para 2021, todos projetam aumento do PIB, exceto o Equador. Para o Brasil, a projeção de crescimento do PIB é de 3,2%.
Na sondagem, os especialistas fazem a pergunta: Comparando com o nível observado logo antes da crise do coronavírus, no final de 2021 o PIB do seu país estará: acima; igual; ou abaixo. Fora o Paraguai, predomina em todas os países percentuais acima de 50% para a opção “abaixo”. Logo, mesmo com o PIB crescendo em 2021, a maioria dos especialistas consideram que os países estarão mais pobres em termos do tamanho do PIB. O impacto da crise não será recuperado totalmente em 2021.
A segunda pergunta: “Considerando as taxas de crescimento, no final de 2021 o PIB do seu país estará: acelerando; estabilizado; ou desacelerando”. Pela média das respostas, 53,2% consideram que o PIB estará em aceleração, 33,8% que o PIB estará com tendência à estabilidade estável e 13,0% que estará desacelerando. Percentuais acima de 50% para “acelerando” ocorreram no Brasil, Chile, Colômbia e Paraguai. Destaca-se o Brasil, com o percentual mais elevado, de 69,2%.
Há um relativo otimismo para o crescimento de 2021, que está associado às expectativas favoráveis em todos os países. Porém, o efeito da crise sobre o PIB dos países ainda não terá sido totalmente mitigado.
Principais problemas enfrentados pelos países
A Sondagem da América Latina indaga no segundo e no quarto trimestre quais são os principais problemas que o país enfrenta em relação ao seu crescimento. Percentuais acima de 50% são identificados como questões relevantes (importantes). No quarto trimestre, em ordem decrescente de importância, com base na média ponderada das respostas dos especialistas da região, os principais resultados são: falta de inovação (90,7); infraestrutura inadequada (89,3); corrupção (88,3); aumento das desigualdades de renda (85,6) e; demanda insuficiente (80,9). Dos 15 problemas citados, dez são considerados relevantes.
Alguns dos problemas citados são questões estruturais e estão sempre presentes nas sondagens como o tema da competitividade internacional, mão de obra qualificada, infraestrutura, desigualdade de renda e inovação. Outros dependem do ciclo econômico (demanda insuficiente) e dos governos vigentes (falta de confiança na política econômica ou corrupção, por exemplo). Com a pandemia, a atuação dos governos é uma referência crucial e, nesse caso, Chile, Colômbia, Paraguai e Uruguai apresentaram pontuação abaixo de 50 pontos em termos de “falta de confiança na política econômica”, o que significa que esse não é um problema relevante na opinião dos especialistas consultados nesses países.
Destaca-se o caso do Peru, onde o indicador de 100 para instabilidade política, em outubro, só confirma as turbulências políticas neste país. Na Bolívia, a reversão nas expectativas para o campo favorável pode indicar uma aposta positiva para o novo governo. No entanto, Bolívia, Argentina e o Equador registram os percentuais mais elevados em quase todos os quesitos da tabela. Barreiras legais e administrativas para os investidores, por exemplo, são elevadas nesses países.
No Brasil, com resultados abaixo de 50 pontos estão apenas: falta de capital; gerenciamento da dívida; e atuação do Banco Central. Todos os outros registram uma pontuação acima de 50 pontos e alguns pioraram na comparação entre o segundo e o quarto trimestre. As maiores diferenças estão na corrupção (aumento de 21,5 pontos) e falta de inovação (26,6 pontos). O programa de auxílio emergencial ajudou a reduzir a pontuação na desigualdade de renda (-10,5 pontos) e demanda insuficiente (-17,2 pontos). A pontuação da instabilidade política também recuou de 81 pontos para 60 pontos.
Guerra comercial entre China e Estados Unidos
Consultados sobre a tendência para o posicionamento da política externa do país em relação à guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, a opção do país pela neutralidade é bem definida no Chile, Peru e Uruguai, onde pelo menos 70% dos especialistas acham que o governo do seu país seguirá essa diretriz. O Chile é 100% neutro. No Peru, após a neutralidade, a opção mais escolhida foi um viés pró-China e no Uruguai, pelos Estados Unidos.
Os outros países cuja parcela de especialistas que optaram pela neutralidade foi igual ou superior a 50% se dividem em relação à segunda escolha. A neutralidade foi a opção escolhida por 53,3% dos especialistas no Brasil. Os demais optaram por um viés pró- Estados Unidos. Argentina tem uma preferência maior que a do Brasil pela neutralidade e, em seguida opta pela China. Bolívia se divide entre neutralidade e China.
A opção Estados Unidos ocorre com percentual acima de 50% na Colômbia, Equador, México e Paraguai. Nenhum país registrou proporção de respostas acima de 50% para a China.
A China é o principal mercado de destino das exportações de vários desses países, como o Brasil. No entanto, na “guerra” cujas características vão muito além do comércio, nem sempre a neutralidade parece ser a escolha dos governos.