Princípios do Nacionalismo – Civilização (Parte 2)

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Heróis da Pátria (ilustração MM)
Heróis da Pátria (ilustração MM)

Política, economia, defesa, todos esses valores são acessórios

 

O apego à Pátria na sua realidade e nas suas possibilidades é ainda mais fortalecido quando se participa das solenidades cívicas que rememoram os eventos fundadores da nacionalidade. O 7 de Setembro, o 22 de Abril e o 15 de Novembro são datas que eternizam o sentido épico da brasilidade, de um país-colosso construído brava e aguerridamente pela força de seu próprio povo, sobressaindo-se a liderança e a autoridade dos Heróis da Pátria, grandes nomes imortalizados na obra coletiva da Nação e exemplos ingentes de grandeza e lealdade patrióticas.

Os Heróis da Pátria não são “homens mortos”, pois vivem na realidade nacional por eles legada. Por encarnarem os valores e ideais superiores da Nação e transcenderem a si próprios, eles constituem referências permanentes da nacionalidade, cuja memória deve sempre ser cultivada e venerada para iluminar os caminhos do porvir. O heroísmo é atemporal, pois une o passado e o futuro na Eternidade que se manifesta no tempo presente no país que somos e que vivemos.

A epopeia da construção brasileira, realizada pela bravura e determinação de heróis como Pedro Álvares Cabral, Jerônimo de Albuquerque, Henrique Dias, Borba Gato, Zumbi dos Palmares, Alexandre de Gusmão, Tiradentes, José Bonifácio, Dom Pedro I, Duque de Caxias, Princesa Isabel, Barão do Rio Branco, Santos Dumont, Oswaldo Cruz, Villa-Lobos e Getúlio Vargas, façanha admirável da qual temos a honra e o privilégio de sermos herdeiros, coloca em nossos ombros a missão histórica de perpetuá-la pelo civismo de que os Heróis da Pátria são modelos.

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Daí a necessidade de homenageá-los em monumentos públicos, para que possam inspirar o mais elevado reconhecimento e se cristalizem no imaginário coletivo como baluartes nacionalistas. Triste a Nação que não precisa de heróis, pois, sem uma epopeia para chamar de sua e sem referências próprias, ela efetivamente não existe, sendo, mais propriamente, uma colônia, um lamentável prolongamento subalterno de algum outro país que, esse sim, preserva a memória dos seus heróis.

Felizmente o Brasil precisa de heróis e os possui, de modo que não precisamos nos tornar tributários de quem quer que seja, pois temos, na nossa formação nacional, nossa própria bússola, dada pelos nossos grandes nomes, seus feitos e seus ideais.

O patrimônio histórico e artístico do país, como um todo, é do mais alto interesse estratégico, pois preserva justamente a identidade nacional, aquilo que faz o Brasil ser brasileiro e não qualquer outra coisa. Pelo patrimônio histórico e artístico, o país mantém viva a lembrança do que fez e de quem é, reconhecendo a si próprio pela ligação aos antepassados. Dessa forma, habilita-se a se posicionar adequadamente no percurso histórico para construir o seu futuro conforme seus próprios paradigmas e finalidades.

Os sítios e cidades históricos, os museus e toda sorte de bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio cultural do país o informa da sua alma e mantém viva a sua Civilização. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), principal órgão estatal responsável por esse setor, é uma das principais instituições guardiãs da soberania nacional, pois sem a soberania da memória e da identidade, sem a soberania sobre o próprio Ser, o país nada mais poderá conservar e construir.

O país que mantém sua alma, mesmo que perca os bens materiais, poderá reconstruí-los porque guardará o princípio que permitiu a eles existir, mas o país que a perde torna-se um cadáver coletivo e nada mais poderá realizar senão tomando de empréstimo de outrem, transformando-se, assim, em plataforma colonial.

A Civilização brasileira se perpetua também através dos símbolos nacionais, que a transmitem e comunicam entre as gerações. Os símbolos expressam, sob forma acessível aos sentidos, as ideias e os valores civilizatórios transcendentes e superiores, despertando em todos e em cada um os sentimentos e os ideais da nacionalidade.

O significante, de ordem física, comporta intrinsecamente um significado de ordem metafísica, de modo que o símbolo nunca é apenas aquilo que os sentidos captam imediatamente, mas, de forma ainda mais profunda, tudo aquilo que representa. A mediação simbólica entre a transcendência e a imanência estabiliza e perpetua o valor da Civilização enquanto realidade vislumbrada e vivida, enquanto ideal e história.

Os símbolos nacionais oficiais – Bandeira Nacional, Hino Nacional, Armas Nacionais e Selo Nacional – representam a Nação como um todo, na inteireza de sua identidade, de sua história, de suas possibilidades e dos seus ideais.

Também podem ser considerados símbolos nacionais os Heróis da Pátria, eternizados nos monumentos e no patrimônio histórico e artístico do país. Eles constituem referências permanentes de patriotismo, para que sucessivas gerações possam se espelhar naqueles que lhes permitiram chegar onde chegaram e extrair os exemplos de grandeza, bravura e lealdade para com a Nação.

Eles não são apenas fragmentos de materiais, não são apenas o que as mãos podem tocar, mas são e incorporam toda a nacionalidade, neles simbolizada. Reverenciá-los é reverenciar a Pátria, é reverenciar a si próprio enquanto membro da comunidade nacional, e depredá-los e/ou corrompê-los é violentar a Pátria e trair a si mesmo.

Os sentimentos que se pode ter em relação aos símbolos pátrios são os que se tem em relação à Nação como um todo. Ninguém pode se dizer nacionalista sem ter profundo apego e respeito aos símbolos nacionais, pois eles são os arquétipos da nacionalidade e conferem valor vital ao ambiente pátrio a que se pertence.

Porém, eles, enquanto representações da Nação, apenas se confirmam na medida em que são efetivados, o que demanda o mais profundo sentido de responsabilidade cívica. Incorrem em profundo e pernicioso erro tanto os iconoclastas, que dissociam os símbolos da nacionalidade para supostamente defender a segunda em detrimento da primeira, quanto os idólatras, que cultuam os símbolos ignorando, deliberadamente ou não, o seu significado e as implicações e obrigações dele decorrentes.

A iconoclastia e a idolatria são sempre meios de desvirtuamento do nacionalismo, mobilizando intenções aparentemente benévolas contra a estrutura simbólica da Nação e, portanto, contra a sua Civilização, contra a sua alma e o seu Ser.

A defesa e a disseminação dos valores e dos ideais civilizatórios brasileiros são as principais tarefas da atualidade, sem as quais nenhuma outra poderá ser levada a cabo. Política, economia, defesa, todos esses são acessórios e instrumentos da realização dos princípios essenciais da alma nacional. A Civilização brasileira precisa estar viva nos corações e mentes de todo o povo, para que a coletividade nacional nunca perca de vista aquilo que ela é e nunca se deixe enganar pelos oportunistas e aproveitadores, que invariavelmente mascaram sua sede de poder com a roupagem de ideologias funestas e divisivas, que incitam o povo a se conflagrar para poder dominar a todos pelo medo e pelo caos.

Cumpre, então, organizar os sistemas informacionais e educacionais brasileiros, como a Imprensa, a Escola e a Academia, para a consecução desse propósito. Suas atribuições técnicas nunca estão desvinculadas de certo propósito pedagógico, de natureza espiritual e política, pois a técnica não possui finalidade intrínseca, mas somente aquela orientada pelos valores e ideais determinantes.

Desse modo, não se pode admitir que tais instituições, inseridas no contexto nacional brasileiro e definidas de acordo com a legislação nacional, estejam a serviço de falsos valores e de ideologias corrosivas do tecido social brasileiro, no mais das vezes importadas de centros imperialistas e ecoadas por seus prepostos internos.

Enquanto organismos estratégicos da nacionalidade, elas devem fundamentar sua administração e sua atuação na verdade do País, na Civilização nacional, e, assim, colaborar para a realização da grandeza brasileira. Elas se justificam apenas enquanto instrumentos da Nação, sendo desviante e inaceitável qualquer outra finalidade e vinculação.

Daí que elas tenham, obrigatoriamente, que funcionar como centros de irradiação nacionalista, não a serviço de um grupo ou ideologia específica, mas do Brasil como um todo, do Brasil brasileiro. Tudo que pertence ao Brasil e à alma brasileira deve ser obstinadamente promovido e defendido pelos sistemas informacionais e educacionais brasileiros.

A Moral e Cívica nacionalista, com a devida reverência e centralidade à língua pátria, à instituições nacionais, à memória nacional, aos símbolos nacionais, à coesão social, a tudo que define e possibilita o Brasil, deve ser o cerne da mídia, das escolas e universidades. De outro modo, elas se tornariam verdadeiras e intoleráveis ervas daninhas, corpos estranhos e hostis ao meio coletivo que possibilita sua existência.

A soberania dos valores e ideais, estruturada por todo um complexo informacional e educacional veementemente nacionalistas, é questão de sobrevivência no século 21, para o Brasil não se deixar arrastar pela voga internacional do pós-modernismo e de todos os extremismos dele resultantes, verdadeira psicopolítica dos poderes financeiros transnacionais sediados no Atlântico Norte, que pretende dissolver e desmembrar as nações e o próprio ser humano. A soberania espiritual é o alicerce necessário e incontornável da soberania política, econômica e militar, que, juntas, compõem a estrutura da nacionalidade.

A Civilização é o fundamento da Nação e precisa ser defendida e promovida a qualquer custo. Mais importante ainda do que educar o povo para a consciência patriótica é educar os grupos dirigentes neste sentido, pois sobre eles recai a responsabilidade de guiar e dirigir o País. Eles devem constituir uma elite no sentido verdadeiro do termo, um grupo de indivíduos do mais alto calibre intelectual e moral, inteiramente devotados à integridade da Nação e capazes de governá-la tendo em vista a realização do Bem Comum, isto é, dos valores e ideais nacionalistas, do Brasil brasileiro.

Cabe à elite, enquanto guardiã da Civilização, ocupar os postos vitais do País a fim de orientar as suas mais diferentes funções no justo sentido da autenticidade nacional, para que o Brasil seja brasileiro em todos os seus âmbitos e dimensões. A elite, no sentido aqui compreendido, diferencia-se da oligarquia por basear seu comando no exercício dos valores superiores da nacionalidade, não em aspectos inferiores e subordinados como a riqueza e a força.

Enquanto a elite visa o bem comum, a oligarquia visa os próprios bens; enquanto a elite governa para todos, a oligarquia governa para poucos; enquanto a elite realiza a Justiça no ordenamento social e institucional do País, a oligarquia instaura o arbítrio e o mantém pelo medo e pela intimidação; enquanto a elite possui valores e sustenta a soberania nacional, a oligarquia possui preços e contrabandeia a soberania nacional para os poderes externos que os pagam.

A adequada organização política nacional é a que, representando a Nação como um todo, melhor realiza, em termos de poder, os valores e ideais da Civilização brasileira, do Brasil brasileiro.

 

Felipe Maruf Quintas é mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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