Privatizações da Petrobras afetam emprego e renda do N e NE

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Edifício da Petrobras (Foto: divulgação)
Edifício da Petrobras (Foto: divulgação)

A estratégia da gestão da Petrobras de vender ativos para se concentrar nas atividades de exploração e produção no pré-sal já deixou marcas nas economias das regiões Norte e Nordeste, com perda de emprego e de renda. É o que mostra estudo do economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizado a pedido da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

De um total de US$ 36 bilhões contabilizados pela estatal com a venda de ativos a partir de 2016, US$ 5,4 bilhões (15%) originaram-se dos desinvestimentos nas regiões Norte e Nordeste. Estes valores vieram da venda de diferentes negócios: campos de produção de óleo e gás, em bacias terrestres e marítimas; usinas termelétricas; unidades petroquímicas e de fertilizantes; gasodutos; além das quatro usinas eólicas do parque de Mangue Seco, no Rio Grande do Norte.

Conforme o estudo, a venda de ativos no Norte e no Nordeste é muito representativa, pois significa que a Petrobras está vendendo praticamente todos os seus ativos nessas regiões. “Ou seja, o que está ocorrendo é a saída da maior companhia do Brasil controlada pelo governo das duas regiões. E isso vem gerando consequências dramáticas diante da crise socioeconômica provocada pela pandemia de Covid-19”.

Ativos vendidos

“Somente nos estados do Norte e Nordeste já foram vendidos 104 campos de petróleo e gás natural e estão à venda outras 81 áreas”, diz Cararine. O economista ressalta que a Petrobras sempre vendeu e comprou ativos e que isso faz parte da estratégia de qualquer empresa, mas não com essa velocidade e com argumentos falsos, que farão com que a companhia deixe de ser uma empresa integrada e nacional. “A estratégia resultou em desemprego e redução de receita gerada pelas atividades nessas regiões. De 2013 a 2020, houve redução de 65% no número de trabalhadores próprios da Petrobras nas regiões Norte e Nordeste, enquanto no Sudeste a queda foi de 26%. Quando se trata de trabalhadores terceirizados, houve perda de mais de 22 mil empregos, uma redução de 48%. A perda de empregos é um dos impactos mais perversos do processo de privatização da Petrobras”, destaca Cararine

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Refinarias

Das nove refinarias colocadas na lista de privatização, cinco estão nas regiões Norte e Nordeste. Uma delas é a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, vendida a preço aviltado para o fundo árabe Mubadala. A operação ainda não foi concluída e é alvo de processos na Justiça e em outras instâncias, acrescenta o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar. Bacelar lembrou que a Petrobras fez investimentos de US$ 23 bilhões na ampliação de refinarias, em unidades de hidrotratamento (HDT) de diesel e de gasolina.

“Somente na RLAM, foram investidos R$ 6 bilhões, e agora ela está sendo vendida a preço de banana, por US$ 1,65 bilhão”. Bacelar contesta o discurso do governo federal de que a venda de ativos da Petrobras irá estimular investimentos e gerar empregos. Para ele, o que está ocorrendo é simplesmente a transferência de patrimônio público nacional para a iniciativa privada – que investe e emprega menos que as estatais. “Não se aumenta investimentos vendendo o que já temos. Não somos contrários a investimentos privados, mas queremos que eles construam novos ativos no país”, ressalta

O Coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki reforça a crítica ao processo de desmonte da Petrobras no Norte e Nordeste questionando a saída da empresa da área de fontes renováveis de energia.

“Além da venda das usinas eólicas do Rio Grande do Norte, a Petrobras está saindo da produção de biodiesel, com a venda da Petrobras Biocombustível (PBio). A unidade da PBio de Quixadá, no Ceará, já foi paralisada”, diz o coordenador. Para Nozaki, ao vender ativos de energias renováveis para acelerar a produção do petróleo, a empresa vai na contramão de outras grandes petroleiras mundiais.

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