Para Alexandre Milen, analista de investimentos CNPI e CEO da Harami Reserch, alguns fatores explicam a mudança de perfil dos investidores em Bolsa de Valores, conforme mostra levantamento feito pela B3, a Bolsa brasileira. “Desde a pandemia, muitas pessoas estão procurando investir na Bolsa. Além disso, as corretoras investiram mais em tecnologia, o que facilita o acesso, e tem também a taxa Selic, que hoje está alta agora, mas até o fim do ano passado estava muito baixa”, afirma.
Vinicius Brancher, superintendente de Relacionamento com a Pessoa Física da B3, destaca que a maior consciência da importância da educação financeira também contribuiu para este movimento. “A disseminação da informação sobre investimentos, pela imprensa especializada e por influenciadores digitais tem ajudado muito nesse sentido”, diz.
“Em paralelo, destacamos algumas iniciativas da indústria para popularização dos investimentos, como a redução de tíquetes de entrada (que permitem que fundos e outros produtos sejam acessados com investimentos iniciais mais baixos) e a chegada de novos produtos de investimentos. Entre esses produtos estão os BDRs, que ajudamos a trazer para o investidor do varejo. Eles proporcionam exposição a mercados internacionais e diversificação em diferentes setores, geografias e moedas, sem a necessidade de abertura de conta no exterior”, complementa Brancher.
Por fim, não dá para esquecer o papel que teve o ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic), até a mínima histórica de 2% ao ano em 2020, conforme reforça Branhcer. “Isso foi um divisor de águas no mercado de Bolsa, porque estimulou muitos investidores que até então só conheciam a renda fixa a buscarem alternativas para ampliar os rendimentos de suas carteiras, e nesse processo muitos tiveram o primeiro contato com a Bolsa.”
Preferência pela poupança
Para especialistas, este movimento é só o começo, consideram que há muito espaço para crescimento. “É claro que algumas coisas precisam se equilibrar para alcançarmos números ainda maiores de investidores em Bolsa ou em outros produtos de investimentos no Brasil”, diz Branhcer.
Ele cita duas frentes essenciais para um melhor equilíbrio. A primeira, mais básica e fundamental, é falar mais sobre os impactos de escolhas feitas no presente e suas consequências no futuro. “Temos 64 milhões de brasileiros negativados e tantos outros focados apenas no consumo. A conversa inicial precisa ser feita em casa com um levantamento simples de entradas e saídas mensais para que seja estabelecido metas de economia e de poupança. Não dá para deixar a preocupação com o futuro para depois”, comenta.
A segunda frente pode ser ilustrada ao olharmos o total investido na poupança pelos brasileiros atualmente: R$ 1 trilhão. Há uma série de produtos de investimentos complementares, que rendem mais, protegem contra a inflação em momentos como o que estamos vivendo e entregam a mesma segurança que a poupança.
“Em ambas as frentes o denominador comum está na alfabetização financeira. A educação financeira em escala é necessária para permitir uma vida organizada e bem-sucedida e a B3 tem atuado nessa frente de diversas formas. Dentre outros pontos, a consequência de uma conscientização financeira mais ampla deve levar ao crescimento do número de investidores em bolsa e em outros produtos de investimentos.”