Projeto nacional ou barbárie

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Em países periféricos ao sul do Equador, o liberalismo econômico, tão aclamado por alguns políticos e economistas banqueiros, transforma o Brasil em um país importador de produtos manufaturados, destrói as nossas indústrias e empregos, fazendo com que milhões de pessoas tenham que se atirar na informalidade para sobreviver.

Nas décadas recentes, em escala planetária, a onda de terceirização de processos de produção para países de baixos salários, possibilitada pela chegada fortuita das tecnologias da informação e os rápidos avanços na logística de transporte, foi uma resposta às crises gêmeas de queda na lucratividade e superprodução que ressurgiram na década de 1970, sob a forma de estagflação e recessão global sincronizada.

A “crise financeira” e sanitária do tempo presente é uma infecção secundária, uma doença causada pelo medicamento absorvido para aliviar um mal-estar mais profundo, para o qual o capitalismo não tem remédios alternativos. Qual seja, o endividamento crescente e exponencialmente que conseguiu conter a crise da superprodução, que levou o sistema financeiro global ao ponto de colapso. Por um lado, a terceirização aumentou os lucros das empresas em todo o mundo e ajudou a sustentar o padrão de vida de seus habitantes, mas isso levou também à desindustrialização, intensificou as tendências parasitárias do capitalismo e acumulou desequilíbrios globais que ameaçam mergulhar o mundo em destrutivas guerras comerciais.

Todos os fatores que produziram essa crise – aumento da dívida, bolhas de ativos, desequilíbrios globais – estão sendo amplificados pelos efeitos das medidas de emergência projetadas para contê-la. A ironia da política de taxa de juros zero e a flexibilização quantitativa é que – preservando o valor dos ativos financeiros e, portanto, a riqueza daqueles que os possuem – bloqueia a única solução capitalista possível para a crise, a saber, o cancelamento de reivindicações sobre a riqueza social em excesso.

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Política de taxa de juros zero, ou “entorpecimento para os mercados financeiros”, são, portanto, meios de adiar o inevitável. Ou seja, um processo de chutar a lata pela estrada, enquanto espera o mecanismo de crescimento para reiniciar, naturalmente.

O futuro é predeterminado, mas isso não significa que haja um número infinito de futuros possíveis. De fato, existem apenas dois: uma justa distribuição dos frutos do progresso social ou a barbárie. Qual desses futuros acontecerá dependerá da luta de milhões e da capacidade dos progressistas de formar novas lideranças capazes de formular um projeto de país, como sempre afirmou o decano Carlos Lessa sabiamente.

A interação entre trabalho vivo e natureza é a fonte de toda riqueza. A exploração frenética do capitalismo de ambos resultou não apenas em uma grave crise social e econômica, mas também em uma catástrofe ecológica. A destruição capitalista da natureza e a atual pandemia significam que essa não é apenas a maior crise do capitalismo de todos os tempos, mas talvez uma existencial para a humanidade.

Ranulfo Vidigal

Economista.

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