Projetos levam educação financeira a alunos da rede pública

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Sala de aula em escola pública (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Sala de aula em escola pública (Foto: Tânia Rêgo/ABr)

O percentual de famílias com dívidas atingiu 79% no país em agosto, 6,1% a mais do que no mesmo mês do ano passado e 1% a mais do que em julho, conforme a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada neste mês, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Isso se deve, em maioria, à pandemia e à crise econômica.

“Isso reflete na relação de consumo das pessoas desde a base, que é a infância. Por isso, educação financeira precisa existir em casa e na escola”, afirma Mariana Rocha, Head de Marketing da Mozper, fintech que conta com uma plataforma de administração de gastos para crianças e cartão de crédito controlado pelos pais.

A situação atual traz o alerta para a importância da educação financeira. Segundo a pesquisa Evolução da Educação Financeira Entre Gerações, realizada, em janeiro de 2022 pela Mozper, aproximadamente 60% dos pais acreditam que o assunto deve ser ensinado também na escola.

“O número de famílias endividadas deve cair ao longo do tempo se atuarmos com isso desde o indivíduo mais jovem, pelo menos daqueles que conseguirem ter melhor relação com o ganho e consumo, uma vez que estaremos formando novas pessoas com consciência do uso do dinheiro”, explica Mariana.

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A educação financeira ainda é pouco explorada nas escolas, principalmente, no ensino público. O resultado pode ser visto na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2018: o Brasil ficou em 17º lugar entre 20 países na análise de competências financeiras. De acordo com Mariana, quanto mais os jovens estiverem conscientes do uso do dinheiro, menores serão as taxas de endividamento. “Sabemos que isso é um problema histórico, e que não envolve apenas controle financeiro, mas ao menos nessa seara já estamos atuando”

Para mudar esse cenário, o ensino foi incluído como um dos temas contemporâneos transversais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), devendo ser abordado em diversas aulas e projetos. Além disso, o Ministério da Educação (MEC) trabalha em uma iniciativa com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para disseminar a educação financeira nas escolas brasileiras por meio da capacitação de professores.

Também projeto da B3 Social, associação sem fins lucrativos responsável pelas frentes de investimento social privado e voluntariado da B3, tem como estratégia investir na melhoria estrutural da educação pública para contribuir com a redução de desigualdades sociais. Por isso, também apoia, entre outras iniciativas, projetos dedicados à educação financeira em escolas públicas, como os implementados pelo Instituto Ânima, o Instituto BEI e o Instituto Brasil Solidário.

“Há evidências de que as famílias de alunos que participaram de projetos de educação financeira na escola apresentam melhoria na situação socioeconômica. Para nós, é um caminho de extrema relevância em direção à redução de desigualdades sociais. Saber planejar, poupar e gerenciar melhor os recursos, ainda que sejam poucos, é primordial para a garantia de segurança financeira e uma vida mais digna”, explica Elizabeth Mac Nicol, superintendente da B3 Social.

Responsável pela criação do 1º Laboratório de Inovação em Políticas Públicas (LIPPE) do país, o Instituto Ânima desenvolve e implementa, junto a secretarias de educação de diversos estados e municípios, programas de competências financeiras, digitais e de construção de projeto de vida.

Paralelamente, o LIPPE também pesquisa, produz e dissemina conhecimento sobre o tema educação financeira em acordo com à BNCC. Segundo o gerente de políticas educacionais do Instituto Ânima, Inácio de Araújo Machado, “o programa de educação financeira tem como objetivo tratar as competências necessárias para a tomada de decisão responsável e consciente dos jovens em relação ao seu bem-estar financeiro atual e futuro. Para isso, implementa um programa de formação para que os professores desenvolvam competências relacionadas aos conhecimentos pedagógicos, financeiro, atitudinais e comportamentais”.

Também na linha de apoiar redes públicas de ensino, o Instituto BEI, por meio do projeto Aprendendo a Lidar com Dinheiro, oferece formação para professores, gestores e coordenadores escolares de Goiás e Pernambuco e estimula a aplicação de metodologias ativas em sala de aula considerando problemas e situações reais de cada contexto socioeconômico.

“O projeto teve seu primeiro passo em três municípios do Ceará e hoje já alcançou 1 milhão de alunos. Trouxemos para o material dos jogos temas como alimentação saudável, conta de luz, mobilidade urbana e reciclagem, que fazem parte do cotidiano desses alunos. Os educadores se tornam mediadores e podem trabalhar as propostas pedagógicas com crianças a partir de seis anos. Esse aprendizado não tem idade, e percebemos um impacto em toda a comunidade escolar, com professores de 50 anos mudando o comportamento após a formação”, ressalta Luis Salvatore, diretor-presidente do Instituto Brasil Solidário.

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