O protecionismo sem precedentes do Governo dos EUA está levando os países do Brics a fortalecer o bloco e buscar novas oportunidades, disse o ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Favaro, nesta quinta-feira. Ele liderou a abertura da Reunião Ministerial do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics, realizada no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, com representantes dos 11 membros do grupo.
Segundo o ministro, embora as tarifas americanas não tenham sido o foco da reunião, o tema permeou algumas das discussões. “Obviamente, isso nos motiva ainda mais a fortalecer este bloco geopolítico. A atual afronta do governo dos Estados Unidos e o protecionismo sem precedentes certamente nos motivam a fortalecer o bloco e a buscar novas oportunidades”, afirmou.
Com 30% das terras agrícolas do mundo, 30% da pesca extrativa, 70% da produção aquícola e aproximadamente 50% da população mundial, os países do Brics ocupam posição estratégica na segurança alimentar global. Juntos, abrigam mais da metade dos 550 milhões de estabelecimentos familiares agrícolas do planeta, responsáveis por cerca de 80% da produção de alimentos em termos de valor.
O ministro Carlos Fávaro destacou que o bloco tem a responsabilidade de liderar uma agenda internacional voltada à produção sustentável de alimentos, à justiça social no campo e à inovação tecnológica adaptada às realidades do Sul Global.
“O futuro da agricultura está diretamente ligado à capacidade de nossos países de inovar com equidade, produzir com responsabilidade e cooperar com confiança”, destacou Fávaro. “O Brics tem uma responsabilidade crescente na arquitetura da segurança alimentar mundial. Somos líderes na produção de grãos, carnes, fertilizantes e fibras”, completou.
Declaração do Brics sobre agricultura
Durante o encontro, os países assinaram uma série de compromissos que formam a base da nova Declaração Ministerial do Brics sobre Agricultura, fortalecendo a cooperação entre os países em questões estratégicas.
Eles reafirmaram seu compromisso com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, promovendo a cooperação internacional e políticas públicas voltadas à redução da insegurança alimentar. Foi destacado o papel dos agricultores familiares, povos indígenas e comunidades locais na produção de alimentos, na geração de renda em áreas rurais e na gestão sustentável dos recursos naturais.
Também foi dado apoio à proposta de criação de uma Bolsa de Grãos do Brics para facilitar o comércio intrabloco com base em práticas sustentáveis e justas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os ministros lançaram uma iniciativa conjunta para promover a restauração de áreas degradadas, com foco na agricultura sustentável, florestas plantadas e segurança alimentar. A parceria também visa fortalecer a pesquisa sobre degradação do solo e soluções técnicas, bem como estimular o financiamento de bancos de desenvolvimento e do setor privado.
Os países enfatizaram a importância de ampliar a produção e distribuição de máquinas e equipamentos adaptados às necessidades da agricultura familiar, promovendo a organização coletiva por meio de cooperativas e associações.
As discussões sobre a criação de um Mecanismo de Financiamento de Importação de Alimentos, inspirado na FAO, como meio de apoiar os países em desenvolvimento avançaram.
Foi iniciado o processo de negociação do novo Plano de Ação de Cooperação Agrícola do Brics 2025-2028, que consolidará e operacionalizará os compromissos assumidos durante a reunião.
O ministro Carlos Fávaro reforçou o convite aos países do Brics para participarem da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro na cidade de Belém, na região amazônica.
Segundo ele, a COP será uma oportunidade histórica para integrar as agendas de agricultura, clima e desenvolvimento sustentável, com os países do Sul Global assumindo um papel de liderança.
Com informações da Agência Xinhua