O Brasil, sem dúvida, está vivendo uma verdadeira “epidemia” de problemas relacionados à saúde mental e o que comprova isso, é a onda crescente, nos últimos dez anos, do número alarmante de afastamentos laborais devido a transtornos mentais, especialmente ansiedade e depressão. Esse crescimento reflete não apenas a intensificação dos fatores de estresse no ambiente de trabalho, mas também uma maior conscientização sobre o adoecimento psíquico e seus impactos na produtividade e bem-estar dos trabalhadores.
Segundo dados do próprio Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em 2014, aproximadamente 203 mil trabalhadores foram afastados devido a transtornos relacionados à saúde mental, como episódios depressivos, transtornos de ansiedade e reações ao estresse grave.
Já em 2024, esse número ultrapassou 440 mil afastamentos, representando um aumento de mais de 100% na última década.
Especificamente, os afastamentos por transtornos de ansiedade cresceram mais de 400% no período, passando de cerca de 32 mil casos registrados em 2014 para mais de 141 mil em 2024. Já os episódios depressivos, uma das principais causas de afastamento, praticamente dobraram, atingindo mais de 113 mil casos no último ano.
Os consultórios psicológicos e psiquiátricos, após a pandemia do Covid-19, registraram uma busca maior por atendimentos. Isso evidencia uma maior conscientização sobre os transtornos psicológicos, reduzindo o estigma e o tabu em torno do tema. O que também contribuiu para elevação dos casos, uma vez que, mais trabalhadores começaram a buscar diagnósticos e tratamentos, refletindo no aumento dos registros formais de afastamento.
Andrea Ladislau, psicanalista lembra que os estudos mostram que, os maiores vilões do bem-estar laboral, dentre outros, são a ansiedade, o Burnout e a depressão.
Fatores
Para a especialista, as causas para essa onda crescente de afastamentos pode estar relacionada à vários fatores, como: resistência à mudanças corporativas; ambiente de trabalho tóxico; excesso de pressão; insegurança do próprio mercado de trabalho – medo do desemprego; excesso de telas e conectividade por conta do avanço tecnológico; vida acelerada; falta de rotina; excesso de atividades; pouca qualidade de vida e falta de foco e disciplina.
“Como consequência, o crescimento expressivo dos afastamentos tem impactos significativos para as empresas e reflete a baixa produtividade, maior rotatividade de funcionários e o aumento de despesas com afastamentos e tratamentos médicos”, diz Andrea.
Segundo Adriano Jeremias, mentor e especialista em vendas, as pessoas têm relatado sentimentos de isolamento, estresse e se demonstram muito sobrecarregadas com as demandas de trabalho, especialmente aquelas que têm filhos ou outros cuidados familiares.
“Algumas ainda sentem que suas empresas não estão oferecendo recursos suficientes ou não estão levando a saúde mental a sério o suficiente, outras relatam sentir-se estigmatizadas por falar sobre problemas de saúde mental no trabalho ou ter medo de pedir ajuda devido à preocupação com o impacto em suas carreiras”, destaca.
Para Andrea, nesse sentido, se faz necessário a adoção de medidas preventivas para reduzir os afastamentos por transtornos mentais e promover um ambiente corporativo mais saudável, através da implantação de políticas internas mais flexíveis que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Enfim, o reflexo negativo do aumento dos afastamentos de trabalho por problemas relacionados ao adoecimento emocional, afeta muitas pessoas pelo mundo.
“E quando falamos de pessoas, precisamos estimular a empatia para compreender que somos humanos e tudo que não é resolvido na mente, certamente, irá se refletir no corpo físico e irradiar, de forma desequilibrada, nas conexões humanas. Tudo isso só reforça o fato de que a saúde mental no trabalho não pode ser negligenciada e que existe uma necessidade urgente de ações concretas para garantir ambientes profissionais mais saudáveis e sustentáveis”, finaliza Andrea.