Pés de barro

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A fusão entre o Deutsche e o Dresdner – ambos alemães – não impediu que os bancos japoneses continuem a manter a hegemonia no ranking dos principais conglomerados financeiros do mundo. Dos dez maiores bancos do mundo, quatro são nipônicos – incluindo três dos quatro primeiros – contra três europeus e dois norte-americanos. No entanto, longe de sinônimo de pujança esse quadro pode ser a ponta do iceberg de economias escoradas em fundamentos econômicos virtuais. Até pouco antes da explosão das últimas crises financeiras internacionais, praticamente todos os dez primeiros lugares eram ocupados por instituições japonesas. Quando a economia do país ruiu, soube-se que os créditos “podres” dos bancos nipônicos somavam até US$ 1 trilhão.
Ou seja, para quem aprende com a história, as megafusões entre conglomerados financeiros, lastreadas em troca de ações com valores lunáticos, deve ser mais motivo de alerta do que de euforia estéril.

500 anos I
A famosa carta de Pero Vaz de Caminha foi escrita no dia 2 de maio de 1500, data correta da chegada correta dos portugueses ao Brasil. Os dez dias de diferença entre o dia oficialmente comemorado e o famoso manuscrito se devem a decisão do Papa Gregório XIII, que em 1582 mandou suprimir esse período por conta de imprecisões do calendário Juliano, criado pelo imperador romano do mesmo nome no ano 46 a. C, mas que não contabiliza 11 minutos 14 segundos/ano, o que após alguns séculos trouxe sérios problemas, que necessitaram da internvenção da própria Igreja.

500 anos II
Desde o seu descobrimento, em 1492, até o final do século XVI, cerca de 10 milhões de índios morreram – assassinados e contaminados por doenças – nas américas do Norte, do Sul e Central, em um dos maiores genocídios da história da Humanidade, proporcionalmente superior ao extermínio de judeus e soviéticos pelas tropas de Hitler. Foi por conta disso e da pressão feita por ONGs e nações indígenas que nem os EUA comemoraram os 500 anos da chegada de Colombo. Só na Espanha a data foi lembrada. Já no Brasil, por conta de uma campanha de televisão, todos os males estão sendo esquecidos.

Um século em dez anos
Em artigo publicado no dia 26 do mês passado no MM – “Mr. Daley, abraços e cotoveladas” – o ex-ministro Bresser Pereira reafirma quão fluidas são as previsões tucanas. Embora insista na credulidade nas virtudes do mercado, Bresser comemora “a sadia renovação das idéias nacionais”, por ele chamada de “nacionalismo moderado, mas real”. Apesar de tímida, a autocrítica não deixa de chamar a atenção vinda de quem vem. Há cerca de três anos, em palestra numa convenção de supermercados, Bresser previa que, assim como o século XIX fora marcado pelo liberalismo e o XX pelo Estado do bem-estar social, o século XXI teria a cara do neoliberalismo. Espera-se agora que Bresser não leve os cinco séculos gastos pela Igreja para pedir perdão a Galileu para se redimir diante do País pela desastrosa herança que uma década de neoliberalismo já legou às futuras gerações.

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Ao relento
O Brasil tem13 milhões de famílias sem moradia ou morando em condições precárias. A conclusão consta do estudo “O déficit da habitacional no Brasil”, da Fundação João Pinheiro, que se baseou em dados oficiais. Em tempo, a habitação era um dos cinco dedos da mão espalmada e eleitoreira de FH em sua primeira campanha.

Vox populi
Crítica irônica estampada em pirulito que percorreu os blocos carnavalescos da Zona Sul: “Você tem remédio BO; salário BO; presidente BO e ainda acha que não é otário!”

Boticário
Os remédios “Bom para Otário” não são invenção dos laboratórios multinacionais instalados no Brasil, mas vêm de longa data. No século XVIII, autor anônimo nos descreve no livro A Arte de Furtar como funcionavam os boticários, os ancestrais dos farmacêuticos, que trocavam a recomendação médica por algum remédio parecido e ineficaz, desde que conseguissem faturar alto com isso. Não é à toa que o autor cita velho provérbio, que diz: “A abundância de uma casa rica, onde tudo se acha como em botica”.
O livro doutrina dos boticários da época, chamado de “Qui pro quo”, que quer dizer “uma coisa por outra”, é uma boa mostra de como parte da indústria farmacêutica já tem uma cultura acumulada há três séculos.

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