Num artigo publicado no jornal italiano Il Giornale, Nicola Porro, vice-diretor do jornal, faz uma profunda análise crítica sobre a realidade (ou irrealidade?) política da União Europeia. Porro se pergunta: “O mundo inteiro está tentando adivinhar o que a administração Trump fará nos próximos anos. Ninguém questiona, porém, o projeto político de von der Leyen, chefe da Comissão Europeia, praticamente primeira-ministra europeia, até porque um projeto político não existe. É uma prova clara de que a Europa terá um papel marginal nos próximos anos.
“Conhecemos detalhadamente tiques, gafes e tatuagens dos colaboradores de Trump. Nós rimos de seus currículos. Criticamos a influência de Elon Musk. Em suma, estamos a fazer uma radiografia da próxima administração americana, sabendo que ela determinará o destino do mundo. A cessação das guerras, a continuação de políticas climáticas, o desempenho da economia global, até mesmo as respostas às próximas pandemias dependerão deles. É uma pena que o governo do outro bloco ocidental, nomeadamente a Comissão Europeia, também esteja a ser formado ao mesmo tempo. Mas ninguém se pergunta o que von der Leyen fará com os seus ministros.”
Logo depois, Porro examina as funções dos comissários europeus, praticamente os ministros fantoches da União, e questiona como os observadores políticos internacionais estão escandalizados com a forma como Donald Trump está escolhendo sua própria equipe de governo, sem perceber que “os comissários europeus, que então seriam 26, são colocados ali, imóveis, apenas para um sudoku complicado que deve combinar estados-membros, gêneros e partidos políticos adversários. Os 26, se dependesse deles, nem sairiam para jantar juntos, enquanto cada um pensa de maneira oposta. Acreditar que o húngaro Oliver Várhelyi possa ter um tête-à-tête com a espanhola Teresa Ribera é como imaginar um jantar, à luz de velas, entre Netanyahu e Khamenei!”
Porro, então, faz uma amarga crítica sobre a importância e a influência que os comissários teriam sobre o destino da Europa, comparando a governança do continente ao avião mais louco do mundo. Eles, os comissários, de fato, são nomeados, em princípio, para agradar aos partidos e aos estados de origem e, sucessivamente, num passe de mágica, devem tornar-se gélidos representantes de uma entidade suprema chamada Europa. E continua afirmando: “Nós (europeus) somos tão imprudentes que zombamos do soldado que estará encarregado da Defesa Americana (um veterano com estudos em Harvard) e não temos um exército comum.”
Porro conclui falando sobre as críticas que os observadores políticos fazem, zombando, por exemplo, do ministro norte-americano que irá lidar com a imigração descontrolada que vem do México, enquanto as políticas migratórias na Europa são efetuadas pelos magistrados. Os ministros pró-indústria de Trump estão sendo contestados, enquanto se pensa em confiar a política ecológica europeia a uma Talibã solar, espanhola. O seu ministério chama-se “Transição limpa, justa e competitiva”.
“E com estes títulos – finaliza Porro – gostaríamos de competir com a autocracia chinesa e a falta de escrúpulos norte-americanos? É por isso que todos se perguntam o que Trump fará e ignoram a Baronesa von der Leyen!”
Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.