Por Katia Monteiro, especial para o MM
A falência do SVB deixou nítido os estragos dos juros elevados na economia, o que poderia fazer o Federal Reserve diminuir o ritmo de alta nas taxas ou até por um fim na reunião de 22 de março. Atualmente a taxa de juros americana está no patamar de 4,50% a 4,75% e antes da quebra do SVB ocorrer, o mercado aguardava uma alta em 0,25 pontou percentual ou de até 0,50 ponto percentual.
Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos acredita que a quebra do SVB colocou uma pressão no banco central americano para abaixar os juros, contudo o fator determinante para isso acontecer ainda deve ser a ancoragem da inflação. Ele lembra que a missão da autoridade monetária americana é proteger a moeda, manter a inflação na meta e olhar para o emprego. “Se os objetivos da autoridade monetária não estiverem sendo concretizados ou pelo menos indo na direção do que ela quer, a falência do SVB não vai impedir com que ela continue elevando os juros”, afirma.
Contudo, essa falta de liquidez no mercado já começa a ter seus efeitos na inflação, segundo o economista. Ele cita o índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos que veio dentro do esperado. O CPI subiu 0,4% em fevereiro na comparação com janeiro, que era o patamar projetado pelos analistas no consenso Refinitiv.
“A gente viu o mercado se animando, mas essa discussão está longe de terminar”, diz. Calestine acha difícil a taxa de juros americana chegar a 6%, mas não descarta uma taxa terminal de 5,5%.
André Damásio, head de renda variável da Wit Invest, acredita que o Federal Reserva ainda não deva interromper o ciclo de alta dos juros, contudo o caso SVB pode ser uma prova que a inflação está regredindo e os juros afetando o desempenho das empresas. “Mas o caso SVB por si só não é drive para reduzir os juros”, diz. Ele acredita que a taxa terminal americana deve ser superior a 5,5%.
Projeções copiladas pelo CME Group mostram que para a reunião de 22 de março, há 72,3% de probabilidade de os juros americanos ficarem no patamar de entre 4,75% e 5%, enquanto apenas uma minoria de 27,7% acredita na estabilidade no patamar atual de 4,50% a 4,75%.
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Para os juros brasileiros a perspectiva é completamente diferente, agentes de mercado não vem um impacto direto da quebra do SVB no ciclo de aperto monetário. Damásio, da Wit Invest, destaca que a taxa de juros brasileira está muito mais pautada no momento pela reforma do arcabouço fiscal e a ancoragem da inflação do que os efeitos externos.
Calestine também partilha desta visão e reforça que o foco será a inflação doméstica, dado que a resiliência do sistema bancário local deve impedir um contágio da crise.
A expectativa maioritária do mercado para a próxima reunião é de manutenção dos juros no patamar de 13,75% ao ano.
Um único efeito colateral seria que a falência do SVB poderia apertar as condições financeiras no mundo e agravar a restrição de oferta de crédito, que somado ao evento Americanas, poderia gerar forte restrição da atividade econômica no Brasil, destaca a Genial Investimentos em relatório. Segundo a casa, se isso ocorrer a inflação deve desacelerar de forma acentuada, apesar da política fiscal expansionista.