Quase metade da população brasileira está endividada

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Fila na Caixa (Foto: Sindicato Nacional dos Moedeiros)
Fila na Caixa (foto do Sindicato Nacional dos Moedeiros)

Segundo a pesquisa Nosso Bolso, desenvolvida pela Hibou – empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, revela que 44% dos brasileiros estão endividados. O estudo inédito, realizado recentemente, entre os dias 24 a 26 de agosto, com mais de 1.200 brasileiros, retrata a situação financeira atual.

Quanto à percepção do momento econômico atual, o brasileiro sente que o aumento de preços que vê nos postos e mercados é maior que a inflação dita pelo governo (88%); a mesma inflação dita pelo governo (11%); menor que a inflação dita pelo governo (1%). “O cenário financeiro do brasileiro é triste. Esse estudo demonstra o quanto as pessoas estão mudando suas rotinas domésticas, direcionando seus gastos e tendo seu cotidiano impactado. As contas em aberto geram estresse e desconforto, mas o brasileiro está preocupado e busca saídas para lidar com esse momento”, afirma Ligia Mello, coordenadora da pesquisa e sócia da Hibou.

No começo deste ano, 63% dos brasileiros não tinham contas em aberto e apenas 37% estavam com alguma pendência financeira. Agora, 44% dos brasileiros – quase metade da população – afirmam estar com contas em atraso e 56% estão sem dívidas.

Entre os débitos, o cartão de crédito permanece no topo da lista. Para os 44% que possuem alguma despesa em aberto, 45% são de cartão de crédito; 40% estão com boletos vencidos e sem pagamento (crédito em geral); 17% entraram no cheque especial; 15% estão com alguma parcela de financiamento em atraso; e 13% não pagaram alguma parcela de empréstimo.

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Entre os que usam cartões de crédito, os gastos estão mais altos agora do que no começo do ano para 39%; para 34%, os gastos estão iguais; e 27% declararam estar gastando menos com cartões de crédito atualmente do que no começo de 2021.

Em relação às despesas de casa, 32% estão com contas em aberto referentes a concessionárias de luz, água, telefone e gás; 15% estão com IPTU atrasado; 12% estão em dívida com o IPVA; 7%, com escola; 5%, com o condomínio; e 4%, com aluguel em atraso.

Renda familiar

Pensando apenas em 2021, a partir dos dados da pesquisa é possível observar o que causou mais impacto na rotina financeira dos brasileiros. Isso porque, apesar da pandemia ter gerado mudanças drásticas desde março de 2020, apenas este ano, uma maior taxa de desemprego, a busca por bicos, mudanças de casa e venda de bens, figuraram entre os pontos em destaque.

Para 31%, dos brasileiros a grande mudança foi ter ainda mais redução de renda em casa. Já 17% afirmaram que alguém da família perdeu o emprego; 15% gastaram algumas economias, mas já estão em fase de recuperação; 8% conseguiram aumentar a renda domiciliar neste período; e 22% afirmaram que a rotina continua a mesma de antes da pandemia.

Para complementar a renda, 11% afirmaram que alguém em casa está fazendo bico em outra área profissional; 7% tiveram que vender alguns bens para se manter; 5% têm empreendido em produção caseira para pagar as contas; 4% se mudaram de casa para pagar um aluguel mais barato. Outro grande fator de impacto foi o fechamento de empresas: 5% afirmaram que alguém da família fechou ou desativou seu negócio.

Empréstimo

Para dar conta das dívidas e manter a renda familiar, muitos foram obrigados a pedir dinheiro emprestado e 32% recorreram a empréstimos. Destes, 29% conseguiram o crédito e 3% tentou, mas não obteve êxito. Diferentes canais foram acionados como soluções para conseguir os valores e fica clara a confiança nas instituições bancárias tradicionais, que ainda são vistas como mais seguras pelos brasileiros em momentos difíceis.

Para a parcela de brasileiros que teve acesso ao empréstimo (29%), os bancos continuam liderando entre as opções. 43% conseguiram empréstimos nessas instituições; 25% se comprometeram com empréstimo consignado no banco. Outras instituições financeiras também foram contatadas e 12% tiveram apoio no cartão de crédito; 6% tiveram êxito junto a financeiras que operam por apps; 3% receberam valores de empresas de crédito.

Dentre estes que conseguiram empréstimos, alguns seguiram por outros caminhos e o dinheiro foi obtido com ajuda de familiares (25%); amigos (10%); adiantamento de salário na empresa (8%); agiotas ou empréstimos informais (4%).

O que aperta o bolso?

Para 64% os combustíveis está encabeçando o impacto da renda; 60% disseram que são as carnes; para 40% são os itens de cesta básica; para 28%, os gastos em farmácia são bastante significativos; 21% citaram que são os planos de saúde; para 16% é o aluguel; para 15% são os legumes e verduras em geral; 13% informaram a manutenção do carro; 8% citaram produtos de limpeza; 6% apontaram os custos de escola; e 4%, o vestuário.

“Mesmo que a alimentação e a mobilidade tenham seus lugares na hora de fechar a conta, os gastos com remédios e itens de farmácia têm sido importantes para a renda brasileira neste momento. Além dos cuidados com a saúde devido à pandemia, as pessoas têm buscado se manter mais saudáveis fisicamente e mentalmente, recorrendo às drogarias. Isso certamente aumenta o gasto e pesa no bolso”, complementa Ligia.

A contenção de gastos é uma saída para tentar manter as economias em ordem. Neste sentido, apenas 8% dos brasileiros não tomaram medidas para a redução de gastos neste momento. Em paralelo, a maioria foi incentivada – e obrigada – a buscar meios de estabilizar suas contas para evitar entrar no vermelho.

Para os que buscaram conter os gastos, 52% reduziram a quantidade ou volume de itens comprados por mês; 52% deixaram de colocar alguns itens no carrinho de compras; e 41% substituíram algumas marcas ou cortes por alternativas mais baratas.

Entre as comodidades, anteriormente muito usadas, também aconteceram mudanças. 38% diminuíram os pedidos de delivery/comida pronta em casa; 38%, deixaram de ir a cabeleireiros, manicures e etc.; 21% cancelaram serviço de assinatura (revista, streaming, outros); 20% reduziram o uso de carro particular; 15% reduziram a frequência de diarista/faxineira em casa; 14% cancelaram atividades como inglês/academia; 13% venderam itens usados para conseguir um dinheiro a mais; 9% reciclaram itens que tinham em casa (roupas, decoração); e 2% mudaram os filhos de escola.

A retomada da economia será uma corrida contra o tempo. Para os brasileiros, há alguns caminhos possíveis para atingir a estabilidade econômica e social. Entre as soluções, a vacinação da população lidera, seguida por incentivo do governo, estabilidade do dólar, entre outras.

Para 64%, uma solução é vacinar toda a população com maior rapidez visando a reabertura dos estabelecimentos com segurança, o quanto antes; 41% acreditam no abatimento de juros e multas nas contas de luz, água e gás ajudando as pessoas a retomarem sua rotina; 33% apoiam a renegociação de impostos e juros com as empresas para que consigam permanecer abertas; 31% indica mais incentivo do governo para as empresas contratarem mais profissionais; 27% acreditam na queda do dólar como alternativa; 18%, vê na redução dos juros nos empréstimos para que as empresas possam produzir mais uma saída; 18% acredita na redução de juros para as pessoas físicas para que possam comprar mais; 12% apoia mais incentivo do governo, como o auxílio emergencial, para fomentar o consumo; 8% apoia a gratuidade do transporte público gratuito para quem está procurando emprego; 5% acredita que a reabertura de todas as portas e retomada das atividades, mesmo que leve a um próximo caos na saúde, pode ser um caminho.

Metodologia

Responderam a pesquisa de forma digital 1.247 brasileiros, entre 24 e 26 de agosto de 2021, garantindo 95% de significância e 2,98% de margem de erro nos dados revelados. Idade: 33% entre 36 e 45 anos; 26% entre 26 e 35 anos; 22% entre 46 e 55 anos; 11% têm 56 anos ou mais; e 8% têm até 25 anos. 47% se declararam casados; 40%, solteiros; 11%, divorciados; e 2% viúvos. Renda familiar: de 29% está de R$ 3.001 a R$ 6.000; 28%, até R$ 3.000; 16%, entre R$ 6.000 e R$ 10.000; 7%, de R$ 10.0001 a R$ 15.000; 3%, entre R$ 15.001 e R$ 20.000; 3% declarou mais de R$ 20.000 de renda mensal; e 14% – não declararam.

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