Quase metade das MPIs sentem-se impactadas negativamente por taxa de juros

Para 78% dos entrevistados, queda na Selic está ocorrendo de forma mais lenta do que o ideal

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Trabalhadoras em indústrias (Foto: ABr/arquivo)
Trabalhadoras em indústrias (Foto: ABr/arquivo)

A 11ª Pesquisa Indicador Nacional de Atividade da Micro e Pequena Indústria, realizada pelo Datafolha a pedido do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi), revela uma perspectiva multifacetada do cenário econômico para a categoria durante o mês de janeiro de 2024.

Conforme os dados coletados, 45% das empresas consideram estar sendo muito prejudicadas pelas taxas de juros vigentes. Este número, embora expressivo, indica uma ligeira melhoria em relação ao período anterior, onde 55% reportaram-se dessa forma. Joseph Couri, presidente do Simpi, comenta o resultado do levantamento:

“As taxas de juros continuam sendo um fardo significativo para as micro e pequenas indústrias no Brasil. A redução da proporção de empresas que consideram o impacto ‘muito prejudicial’ é um sinal positivo, mas ainda há muito a ser feito para aliviar essa pressão financeira.”

Outro aspecto analisado é a percepção sobre o ritmo de redução da taxa Selic. Segundo a pesquisa, 78% dos entrevistados acreditam que a queda na taxa Selic está ocorrendo de forma mais lenta do que o ideal. Apenas 18% dos participantes consideram o ritmo de redução adequado.

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Couri destaca que “a lentidão na redução da taxa Selic é uma preocupação compartilhada por grande parte dos empresários da categoria, e que é fundamental que medidas sejam adotadas para acelerar esse processo e estimular um ambiente mais propício aos negócios.”

Em relação ao impacto da redução da Selic nos negócios das empresas, os dados mostram uma divisão de opiniões. Enquanto 44% das empresas afirmam ter se beneficiado em algum grau da queda dos juros básicos, 49% não enxergam benefícios significativos.

“Embora alguns setores tenham se beneficiado da redução da taxa Selic, ainda há uma parcela considerável que não sentiu impactos positivos em seus negócios. Isso ressalta a necessidade de políticas que promovam uma distribuição mais equitativa dos benefícios econômicos”, avalia.

Quanto às expectativas para o próximo mês, observa-se um otimismo moderado entre os empresários entrevistados. Cerca de 52% acreditam que a situação de suas empresas irá melhorar, um aumento em relação ao período anterior. De acordo com Joseph Couri, “o aumento no otimismo reflete uma esperança crescente no ambiente econômico futuro. No entanto, é importante manter um olhar cauteloso diante dos desafios ainda presentes”, considera o presidente.

A redução nos índices de inadimplência, conforme observado na pesquisa, é um ponto positivo para a categoria das micro e pequenas indústrias. Esse fenômeno, que representa o retorno aos menores índices da série, é particularmente encorajador devido à sua influência nas pequenas empresas. Os dados revelam que a inadimplência voltou aos menores índices da série, registrando uma queda de 5 pontos percentuais em relação ao bimestre anterior, passando de 34% para 29%.

Esse retorno ao nível observado em setembro de 2023 é especialmente significativo e pode ser atribuído principalmente à redução da inadimplência entre as pequenas empresas, que diminuiu de 59% para 46%. Além disso, destaca-se a diminuição dos valores superiores a 30% do faturamento das MPIs, que passaram de 8% para 3%. Esses números indicam uma maior estabilidade financeira, sugerindo uma melhoria nas condições econômicas das micro e pequenas indústrias.

Por outro lado, a alta no Índice de Satisfação Macroeconômica é resultado de melhores avaliações tanto da economia nacional, que subiu de 71 para 77 pontos, quanto dos estados, que passou de 105 para 112 pontos. Essa melhoria na percepção econômica reflete um aumento na confiança dos empresários da micro e pequena indústria em relação ao ambiente econômico do país e das regiões em que estão inseridos. Esses dados sugerem um ambiente mais propício para investimentos e crescimento empresarial, proporcionando uma perspectiva mais positiva para a categoria como um todo.

Já o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (Iode-PMEs) mostrou que em fevereiro, o faturamento médio das pequenas e médias empresas foi 17% maior, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Com isso, o indicador que acompanha a evolução média real das movimentações financeiras no setor mantém a tendência de resultados significativamente mais fortes, verificada desde o último trimestre de 2023. No acumulado do primeiro bimestre de 2024, o Iode-PMEs registra expansão de 15,4% na comparação anual.

O Iode-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, divididas em 678 atividades econômicas que compõem quatro grandes setores: comércio, indústria, infraestrutura e serviços.

Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, aponta que, assim como observado em janeiro, o avanço também foi disseminado entre os setores monitorados.

“Nesse contexto, a evolução recente do faturamento real das PMEs emerge como um indicador importante para antecipar o comportamento geral do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano” diz o especialista.

“Os resultados recentes refletem, de certa forma, o início dos efeitos na economia real do ciclo de queda da Selic iniciado pelo Banco Central em meados de 2023, tendo em vista o avanço das concessões de crédito às pessoas físicas no início do ano – com taxas de juros médias finais relativamente mais baixas”, explica. O economista comenta, também, que, mesmo para as empresas, a queda da Selic combinada com uma inflação relativamente mais controlada também favorece o ambiente para a evolução do consumo e dos investimentos.

Segundo o Iode-PMEs, em fevereiro, a principal contribuição positiva continuou vindo das PMEs industriais. A movimentação financeira deste mercado avançou 22,7% no mês, frente a fevereiro de 2023. De 23 subsetores da indústria de transformação acompanhados pelo índice, 19 mostraram crescimento de dois dígitos no último mês, entre eles, as atividades de fabricação de móveis, preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados, metalurgia e fabricação de produtos químicos.

“As PMEs do comércio, por sua vez, foram a principal surpresa positiva, tendo em vista a melhora indicada pelo Iode-PMEs em fevereiro (13,8% YoY em fevereiro, após 6,1% em janeiro), confirmando a reversão da tendência de queda verificada no decorrer do segundo semestre de 2023”, destaca Beraldi. A recuperação do setor tem sido puxada pelas PMEs do comércio atacadista (14,1% YoY), com destaque no último mês para os segmentos de produtos odontológicos, café em grão e produtos de higiene, limpeza e conservação domiciliar.

As pequenas e médias do setor varejista também voltaram a apresentar crescimento neste ano, ainda que em ritmo relativamente mais discreto (4,9% YoY), puxado por segmentos como pedras para revestimento, vidros e artigos fotográficos e para filmagem.

No setor de serviços, as PMEs também apresentaram desempenho positivo no último mês (9,2% YoY), após avanço de 9,7% em janeiro. No primeiro bimestre do ano, o resultado positivo do setor foi condicionado, especialmente, pelo avanço dos segmentos de atividades de entrega, agências de viagem e outros serviços de turismo e design de interiores.

Por fim, as PMEs do setor de Infraestrutura também apresentaram crescimento da movimentação financeira real em fevereiro (10,4% YoY), com destaque para os segmentos de serviços especializados para construção e coleta, tratamento e disposição de resíduos.

Apesar dos últimos resultados positivos, o cenário de curto prazo não é livre de riscos. A queda recente da confiança dos consumidores, conforme aponta o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV Ibre, acende um sinal amarelo para as PMEs.

“Sobretudo dos setores de comércio e serviços, uma vez que o indicador é um bom antecedente da evolução do consumo das famílias brasileiras”, destaca Beraldi. Mesmo com o contexto de queda das taxas de juros, o nível de endividamento das famílias ainda segue em patamar elevado, o que pode prejudicar a evolução do consumo no curto prazo.

“Apesar disso, mantemos a perspectiva de que o mercado de PMEs siga em crescimento no Brasil no decorrer do ano””, acrescenta. A manutenção do avanço deve ser condicionada, sobretudo, pelas menores pressões inflacionárias sobre as famílias e as empresas e pelos efeitos cada vez mais claros do ciclo de redução da Selic na economia real.

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