Queda da Petrobras altera mercados

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símbolo BR Petrobras (Foto: Tânia Rêgo/ABr)
Petrobras (Foto: Tânia Rêgo/ABr)

As ações de Petrobras tiveram uma sexta-feira de forte queda na Bovespa e no mundo, por conta de declarações feitas por Bolsonaro em sua live de toda quinta-feira. Bolsonaro disse que teria consequência nos próximos dias o forte aumento de preços anunciado pela empresa para o diesel e gasolina. Bolsonaro esqueceu que as ações de Petrobras são negociadas e têm investidores em todo o mundo, e também com forte pulverização no mercado local. Isso compromete a imagem do país no exterior.

Também esqueceu que a empresa não fez nada de errado, já que o momento é de convergência perversa de alta do óleo no mercado internacional e desvalorização do real. Também não fez fé que quem elege e destitui o presidente da empresa é o conselho de administração, muito embora a união ainda tem maioria nesse órgão da administração. Além disso, podemos lembrar o passado caótico da empresa a partir de interferência de outros governantes.

Resumindo, a fala do presidente mexeu com as ações da empresa e todo o mercado acionário, com o câmbio e também com os juros, sem que se possa atribuir qualquer erro de gestão da Petrobras. Ao contrário, a administração atual vem obtendo sucesso em reorganizar as atividades, ganhar produtividade e competitividade. Querer previsibilidade em dois mercados imprevisíveis como câmbio e petróleo, só fazendo um “colchão” via fundo, mas poderia atuar também com estímulos para renovação da frota e licenciamento. Mexer em impostos cai na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Com isso, abortamos um dia positivo para os mercados de risco em todo o mundo. Tivemos boas notícias com declarações dos principais dirigentes do mundo sobre clima e necessidade de cumprir metas do acordo climático de Paris, mas o principal foi mesmo a reintegração dos EUA ao acordo, e também na parceria transatlântica. Todos unidos no G-7 para as disputas duras com a China e empenhados no multilateralismo.

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Declarações tranquilizadoras de dirigentes do Fed, com John Williams do Fed de Nova Iorque, dizendo que os EUA ainda estão em buraco profundo, mas os investidores estão olhando para o futuro em recuperação. John Williams diz não estar preocupado com o risco do excesso de estímulo. Nessa linha, o líder dos Democratas, Chuck Schumer, espera conseguir passar no Senado até o dia 14, aquele pacote de estímulos encruado.

O relatório do Fed da exposição de Jerome Powell no Congresso não trouxe grande novidade a tudo que os dirigentes regionais do Fed têm dito, falando das incertezas com a pandemia, vacinação ainda lenta, possível perda para instituições com inadimplência; mas também dizendo que vão manter política acomodatícia até melhorar o emprego e preços.

No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em NY mostrava queda de -2,40%, com o barril cotado a US$ 59,07. O euro era transacionado em alta para US$ 1,21 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,30%. O ouro e a prata com altas na Comex e commodities agrícolas com viés positivo na Bolsa de Chicago. O minério de ferro teve dia de queda de 0,86% na China, com a tonelada negociada em US$ 173,55.

Aqui, Bolsonaro voltou a repetir na sexta-feira que haverá consequências na Petrobras (portanto de caso pensado), quando o ministro Ricardo Salles cobrou de Paulo Guedes o orçamento para melhorar imagem no exterior. Ainda continua a novela do deputado preso que tira um pouco de foco de questões absolutamente essenciais.

No mercado, o último dia da semana foi de dólar oscilando bastante entre positivo e negativo, para fechar com -1,02% e cotado a R$ 5,385. Na Bovespa, na sessão do dia 17, os investidores estrangeiros alocaram R$ 1,81 bilhão, deixando o saldo positivo de fevereiro em R$ 4,46 bilhões e ingresso líquido no ano de R$ 28,02 bilhões.

No mercado acionário, a Bolsa de Londres encerrou com leve alta de 0,10%, Paris com +0,77% e Frankfurt com +0,77%. Madri e Milão com altas de respectivamente 1,35% e 1,15%. No mercado americano, o Dow Jones fechou estável e Nasdaq com +0,07%. Na Bovespa, dia de queda de 0,64% e índice em 118.430 pontos.

Hoje, segunda-feira, é claro que o dia será dominado por Petrobras e ajustes requeridos, mas mexe também com todo o mercado (Petrobras representa mais de 10% na ponderação do Ibovespa), e também com o câmbio e a taxa de juros. Claramente, a interferência na companhia eleva o prêmio de risco para o país, justamente num momento em que os investidores no mundo se preocupam com o grau de endividamento dos países emergentes e mostram preocupação com a alta dos treasuries americanos.

Os ADRs da Petrobras no pré-mercado americano chegaram a cair hoje algo como 17%, e o principal ETF do Brasil, o EWZ, mostrava perda de mais de 5%. Os mercados no exterior também não ajudam muito com comportamento negativo no encerramento da Ásia (exceto Tóquio, por melhor relação com a China), Europa operando com quedas (mas já afastando um pouco das mínimas) e futuros do mercado americano com quedas. Aqui, nós que vínhamos falando em não perder a faixa de 118 mil pontos do índice, agora retroagimos para a casa dos 115 mil pontos, que parece a resistência mais próxima.

No exterior, os investidores preocupados com a alta dos juros dos títulos americanos e encolhimento do spread com emissões privadas. Do Lado político, o Irã e a China querem que os EUA retirem as sanções e restrições, para fazer valer o acordo nuclear e relações comerciais, respectivamente. Já na Alemanha, o índice IFO de expectativa empresarial subiu para 92,4 pontos em fevereiro, vindo de 90,3 pontos no mês anterior e produziu alguma melhora nos mercados.

Falando de Covid-19, os EUA ultrapassaram a barreira dos 500 mil óbitos e o presidente Joe Biden chocado e constrangido com isso, realiza cerimonia para as vítimas e famílias. Aqui, também passamos de 246 mil óbitos e não temos vacinas para imunizar a população, quando poderíamos estar dando o exemplo por nossa expertise em vacinação. Nesse ritmo, vamos chegar no final do ano com pequena percentagem de vacinados e ainda tendo que demover pessoas da atitude de não vacinar.

Enquanto isso, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson quer ter toda população adulta vacina até o mês de julho. No mercado internacional, o petróleo WTI negociado em Nova Iorque mostrava alta de 0,86%, com o barril cotado a US$ 59,75. O euro era transacionado em alta para US$ 1,213 e notes americanos de 10 anos com taxa de juros de 1,34%. O ouro e a prata tinham altas na Comex e commodities agrícolas com viés de alta na Bolsa de Chicago.

Aqui, o presidente da Câmara diz que vai buscar comandar o orçamento, que só deve ser votado lá para o final de março/abril, deixando para o Executivo gerenciar as diretrizes do Legislativo.

Como dissemos, o dia será dominando pelas expectativas e noticiário envolvendo a Petrobras e interferências políticas numa companhia com ações espalhadas pelo mundo e com a CVM podendo abrir processo. Além disso, será preciso vislumbrar a atuação do Conselho de Administração, o que acontecerá com a diretoria e as prioridades traçadas, incluindo desinvestimentos.

Expectativa de queda para a Bovespa com câmbio e dólar em alta.

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Alvaro Bandeira

Sócio e economista-chefe do Banco Digital Modalmais

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