Queda de braço: Renner versus Guararapes – fundamento ou desconto?

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Conhecido por ser um setor cíclico da economia – bastante influenciado por indicadores como inflação, taxa de juros e câmbio – o varejo de moda foi um dos mais penalizados pela pandemia em 2020, por causa do fechamento de lojas durante o isolamento social.

Em plena crise, os consumidores compraram menos roupa, pressionando assim as receitas das companhias. E embora o auxílio emergencial tenha surgido como um paliativo, não foi suficiente para o setor cair novamente nas graças de gestores e analistas.

Em 2021, a tão sonhada recuperação do varejo de moda não chegou. A segunda onda da Covid-19 atrapalhou a reabertura das lojas, enquanto o aumento na taxa de juros e a inflação elevada surgiram como empecilhos para encarecer o crédito e enfraquecer o consumo.

O resultado foi ainda mais incerteza para o varejo de moda no curto prazo. Isso não significa que o setor seja ruim; no entanto, segundo Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos, o momento ainda é de cautela.

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Ele explica que, apesar do crescimento da venda digital nas companhias, o varejo de moda ainda é muito dependente das lojas físicas e dos shoppings, e no cenário econômico atual, empresas atreladas ao crescimento da economia não estão performando bem. “No Brasil, a venda online de roupas tem limite. As pessoas gostam de provar e experimentar, e uma hora o crescimento destes canais digitais chega a um teto”, aponta.

Segundo Guimarães, este é o motivo pelo qual os investidores estariam rebalanceando carteiras, optando por posições mais sólidas entre estas: bancos, seguradoras e até o próprio varejo de alimentos.

Contudo, é na crise que surgem as oportunidades, enquanto a abertura econômica não chega, estes ativos estão bastante descontados, e o salto lá na frente pode garantir retornos interessantes para o investidor, a médio e longo prazo.

Por este motivo, na série Queda de Braço, em parceria com a Comdinheiro, confrontamos duas companhias do setor, Lojas Renner (LREN3) e Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo. De olho em fundamentos, preço e governança. Descubra qual é a top pick do varejo de moda!

 

A “Localiza” do varejo de moda

Receita, lucro líquido e margens melhores, quando o assunto são indicadores financeiros consistentes nos últimos cinco anos, a Lojas Renner (LREN3) não desaponta. De acordo com Guimarães, da Levante, a companhia é a líder do setor. “A Renner é uma ‘Localiza’ do varejo de moda e a Guararapes seria a ‘Unidas’”, compara.

Conhecida por ser uma empresa conservadora financeiramente, a Lojas Renner não ousa muito nas estratégias, mas nos últimos anos sempre entregou resultados consistentes aos acionistas, com aumento expressivo da receita ou melhores margens.

Felipe Fernandes, analista da Flip Investimentos, explica que nos últimos cinco anos, tanto Lojas Renner como Guararapes apresentavam um desempenho semelhante. Contudo, a partir de 2019, a dona da Riachuelo começou a recuar e não sustentou seu crescimento. “Guararapes sempre peca em alguma estratégia e acaba dificultando a entrega consistente de resultados”, afirma o analista.

Já no horizonte dos últimos 10 anos, a Renner tem um desempenho muito melhor do que a concorrente, perceptível principalmente no seu lucro líquido e sua margem ebitda (indicador da lucratividade operacional de uma empresa e a qualidade do negócio)

Segundo dados da Comdinheiro, em 2012, por exemplo, a Renner tinha uma margem Ebitda de 17,20%, com evolução constante nos últimos anos, e em setembro de 2020 a companhia chegou a 24,14% desta margem. Já no caso da Guararapes, o movimento foi oposto, passando de 18,21% de margem ebitda em 2012, para 8,27% em 2020, sem evolução ano após ano.

Um exemplo nítido de como a estratégia das companhias destoa seria a política de dividendos. Fernandes afirma que o varejo de moda não é um setor conhecido como bom pagador de proventos; contudo, em 2020, com a taxa de juros no patamar de 2%, a Guararapes entregou um dividend yield acima da Selic, na ordem de 2,85%, mesmo sem ter um resultado financeiro consistente.

Na contramão, a Renner teve apenas um dividend yield de 0,95%, bem abaixo da Selic. “A Renner prefere reinvestir o lucro no próprio negócio, em contrapartida entrega retornos melhores aos seus acionistas ao longo do tempo”, afirma o analista.

Ele também destaca outros indicadores, como o CGAR (taxa de crescimento anual composta). Nos últimos 5 anos, a Renner cresceu 4,17% por ano na sua receita e 13,60% no seu lucro, enquanto a Guararapes teve um crescimento de 2,5% na sua receita por ano e o lucro não teve uma evolução constante, apresentando também prejuízos.

 

Fernandes avalia o endividamento. Segundo ele, a Renner tem uma situação mais saudável quando se trata de sustentar as dívidas a médio e longo prazo. Não ocorre o mesmo com a concorrente; a Guararapes sofre com dívidas de curto prazo.

Isso apesar de se tratar de duas companhias que precisam assumir dívidas para crescer, especialmente pelo braço de financiamento que ambas possuem – Midway Financeira, na Riachuelo, e Realize, na Renner.

 

Fernandes, da Flip Investimentos, enxerga a Renner como a melhor alternativa de investimento no setor com base nos fundamentos qualitativos. “Resultados sólidos e capacidade de sustentar a operação”, reforça. Já olhando para o lado quantitativo, ele destaca que o setor está bastante descontado e pode destravar valor com o fim da pandemia.

Embora Guararapes esteja negociando aproximadamente em R$ 14, e segundo o analista tenha maior potencial de valorização, ele ainda prefere a Renner, que negocia a 30 vezes preço/lucro, no patamar de R$ 41 e pode, segundo Fernandes, ter ainda um upside de 48%, para R$ 48. “Guararapes está barata, mas prefiro outros ativos com potencial maior, por exemplo Marisa (AMAR3)”, diz.

 

Ao som dos canhões

Apesar de a Renner viver um momento melhor do que a Guararapes, a preferência de Eduardo Guimarães, da Levante Investimentos, é pela dona da Riachuelo. Ele acredita que uma mudança na operação da Guararapes além de melhorias na sua governança corporativa poderiam contribuir com o crescimento da receita da companhia, além de destravar o valor do papel.

Segundo o especialista, uma das principais vantagens da Guararapes (GUAR3) seria a produção integrada. “A Riachuelo tem confecção própria das roupas, a Renner não”, afirma. Outra é o desempenho da financeira, a Midway; de acordo com Guimarães, o cartão Riachuelo está entre os mais procurados.

O desconto da Guararapes em relação à Renner também é elevado, no patamar de 38% preço/lucro. Diferença que teve uma redução notável nos resultados do 4º trimestre de 2020 da companhia. “A Guararapes conseguiu diminuir a diferença para a concorrente, porque a Renner teve queda na margem bruta de varejo e desempenho negativo nas vendas mesmas lojas”, avalia a Levante Investimentos em relatório.

Diferença que, segundo Guimarães, vai diminuir ainda mais se a Guararapes se fortalecer nos seguintes pontos:

– Migração para o Novo Mercado: com melhorias na governança corporativa, entrar no Novo Mercado garantiria mais liquidez para Guararapes destravar seu valor

– Melhorias na produtividade: enquanto a Renner é referência em criar coleções e vender tudo no primeiro lançamento, a Guararapes já teve coleções que não vingaram.

No 4º trimestre de 2020, a Guararapes apresentou melhorias na margem bruta, expansão do seu canal digital (com salto de 192% na venda online) e vendas nas mesmas lojas estáveis. Guimarães está otimista com o futuro da companhia e a retomada de consumo dos brasileiros pós-pandemia.

 

Governança

Ainda no quesito governança corporativa, as companhias também apresentam diferenças. A Renner (LREN3) é uma empresa de capital pulverizado, com a maior parte das suas ações no capital aberto. Já a Guararapes (GUAR3) é uma companhia que concentra seu controle nos fundadores.

Segundo Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro, o conflito de ter forte presença da família fundadora na companhia está na tomada de decisões, que nem sempre podem favorecer os acionistas minoritários.

Ele explica que isso também tem impactado nos resultados da Guararapes, que nos últimos anos apresentou múltiplos menores de preço/lucro do que a Renner por causa dos fundamentos. “Pode ser oportunidade para o investidor, mas esse valuation reduzido dificulta novas rodas de captação da empresa”, adverte Ferreira.

Contudo, em uma nova onda de ESG nos investimentos, há desafios para ambas as companhias. No caso da Guararapes, uma produção têxtil socialmente responsável será um ponto muito cobrado pelo mercado. Enquanto a Renner, pelo fato de ter o capital pulverizado, terá o desafio de se manter nos trilhos mesmo sem “ninguém olhando”.

Por Kate Monteiro, especial para o Monitor Mercantil

Confira mais dados

Grafico 1 Renner x guararapes
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Grafico 2 Renner x guararapes
Grafico 2 Renner x guararapes
Grafico 3 Renner x guararapes
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Grafico 4 Renner x guararapes
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Grafico 5 Renner x guararapes
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Grafico 6 Renner x guararapes
Grafico 6 Renner x guararapes
Renner x Riacuelo
Grafico 7 Renner x guararapes

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