Queda dos juros: as consequências são contraditórias

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O afrouxamento da política monetária, que trouxe a Selic ao menor patamar da história (5,5% ao ano), pode dar um alento à economia brasileira, mas não há consenso do quanto influenciará na retomada do crescimento. Apesar de um pouco mais confiante, o empresariado ainda não tem motivos para captar recursos mais fortemente para ampliar investimentos. Já o consumidor, com a renda comprometida e alto índice de desemprego, pouco vai demandar crédito.

Ao mesmo tempo, é preciso lembrar do conceito de elasticidade, que mede a sensibilidade de uma variável em relação à outra. Quando a taxa de juros se encontra em nível elevado, sua redução gera consequências positivas maiores e mais rápidas na economia. À medida que os juros caem e se encontram em patamar muito baixo, a resposta é menos efetiva, pois a elasticidade tende a ser menor.

Vale lembrar que, olhando simplesmente para a inflação que deve ficar abaixo do centro da meta, fica claro que o viés de queda permanece, como o próprio Banco Central já sinalizou. As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,5%, 3,8%, 3,75% e 3,5%, respectivamente.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário e a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo. “O Copom reitera que a comunicação dessa avaliação não restringe sua próxima decisão e enfatiza que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, diz o comunicado do Bacen.

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O documento complementa que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. Do lado do cenário externo, a mercê da instabilidade provocada pelo conflito geopolítico relacionado ao petróleo, os bancos mundiais também têm adotado políticas monetárias expansionistas, em destaque a queda dos juros americanos esta semana e também a sinalização do Banco Central Europeu que deve ir na mesma direção.

O afrouxamento das taxas de juros está relacionado à busca por estimular o crescimento das economias que vem se arrefecendo. As próprias projeções do FMI dão conta disso. A instituição já reduziu quatro vezes a estimativa de crescimento da economia mundial para este ano e agora prevê expansão de 3,2%. Para 2020, a expectativa é de incremento de 3,6%.

Com relação ao Brasil, o FMI estima um crescimento de 0,8%. Em abril, o órgão acreditava que o PIB brasileiro obteria uma expansão acima de 2%. A redução do otimismo está relacionada ao enfraquecimento da confiança na economia, reflexo da baixa confiança provocada pela demora da aprovação das reformas, em especial, a da Previdência.

Mais do que o afrouxamento da política monetária, a boa notícia para o Brasil é o aumento dos gastos do governo. O Ministério da Economia anunciou a liberação de R$ 8,3 bilhões para gastos dos ministérios neste ano. Com esses recursos disponíveis, alguns projetos podem ser desengavetados e já se espera nova injeção de R$ 8 bilhões nos próximos meses.

Apesar da decisão do Copom de cortar os juros agora e sinalizar novo corte futuro e da liberação de verba por parte do governo, a economia brasileira deve continuar patinando. Não há muito para onde correr. A falta de renda e demanda são uma realidade que ainda está longe de mudar. As medidas econômicas ainda são muito tímidas para que haja a perspectiva de um cenário diferente.

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