O ambiente empresarial brasileiro convive historicamente com turbulências político-institucionais. A instabilidade nas regras do jogo — sejam elas tributárias, regulatórias ou mesmo judiciais — impõe um prêmio de risco que se traduz, quase sempre, em juros altos. Em outras palavras, o custo do dinheiro no Brasil permanece entre os mais elevados do mundo não necessariamente por falta de liquidez, mas também por excesso de incertezas.
Para as empresas, sobretudo as que operam fora do círculo privilegiado do crédito subsidiado ou de grandes bancos, a consequência é clara: a capitalização tradicional tornou-se cara, demorada e, em muitos casos, inviável.
Nesse cenário, torna-se urgente encontrar formas inteligentes, ágeis e menos onerosas de acesso ao capital. Uma das ferramentas mais eficazes para isso é o FIDC – Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, que permite transformar direitos creditório (como os recebíveis empresariais) em caixa imediato, com estrutura regulada e acesso direto ao mercado de capitais.
O FIDC é um fundo que compra direitos creditórios originados por empresas – como duplicatas, contratos de prestação de serviços, parcelamentos de vendas, aluguéis a receber, entre outros. Esses recebíveis são reunidos, avaliados, estruturados e vendidos a investidores. Com isso, a empresa se capitaliza, melhora seu fluxo de caixa e diminui sua dependência dos bancos.
Há duas formas principais de FDIC:
FIDC Próprio: Estruturado exclusivamente para uma empresa, exige volume relevante de recebíveis, governança robusta e apoio de uma gestora habilitada.
FIDC de Terceiros: Organizado por gestoras ou instituições financeiras, reúne recebíveis de diversas empresas cedentes, facilitando o acesso ao modelo para companhias de menor porte.
Em ambos os casos, trata-se de um instrumento que conecta empresas ao mercado de capitais de forma direta, transparente e eficiente.
O Instituto Empresa entende que capitalizar um negócio vai além de sua sobrevivência financeira. Significa preservar empregos, garantir continuidade operacional, fomentar inovação e proteger o investimento de acionistas, cotistas e empreendedores.
Diante da elevação estrutural dos juros e da insegurança normativa, o Brasil precisa reforçar mecanismos privados e eficientes de financiamento. O FIDC representa exatamente isso: uma ponte entre o capital produtivo e o capital investidor, com menor custo, mais velocidade e maior previsibilidade.
É fundamental que o Estado não atrapalhe – e se possível, estimule – estruturas como essa, que ampliam a profundidade do mercado de capitais brasileiro e promovem sua democratização. Não é apenas uma questão de engenharia financeira: é uma agenda de desenvolvimento econômico e social.
Nem todos os empreendedores podem contar com financiamento do BNDES. Mas, para muitos, há a via a ser explorada dos FDICs.
- Ageval Rodrigues Dória Júnior é advogado, especialista em fundos de investimentos e membro do CI do Instituto Empresa.