Quem realmente ganhou em Gaza?

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Destruição após ataque a Gaza, Palestina (Foto: ONU)
Destruição após ataque a Gaza, Palestina (Foto: ONU)

As noites estão novamente calmas em Israel, depois de uma escalada severa de intensos bombardeios que fizeram centenas de vítimas na Faixa de Gaza e que dilacerou Israel diretamente em seu coração: nunca, como desta vez, o país se viu à beira de uma guerra civil entre as populações árabe e judaica.

Se a população agora pode respirar, retomando uma vida o mais normal possível, pelo Hamas, Jihad Islâmica e Israel Defense Forces (IDFs), agora é hora de acertar as contas.

Após a trégua, todas as partes envolvidas anunciaram basicamente que haviam alcançado os objetivos traçados no início da campanha militar. Para as IDFs, a escalada serviu para destruir mais de 100 quilômetros de túneis – usados na Faixa de Gaza por milicianos palestinos – e para eliminar 225 homens do Hamas e da Jihad Islâmica, além de 25 comandantes.

As Forças Armadas israelenses continuam repetindo que o que aconteceu nestes 11 dias de guerra serviu para dar “um duro golpe’ nas organizações que controlam Gaza. O diretor de operações de Israel, Aharon Haliva, admitiu, nos últimos dias, que consideraria a Operação Guardiões das Muralhas um sucesso, apenas se esta servisse para garantir relativa paz nos próximos cinco anos.

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No lado palestino, porém, os tons são muito diferentes. Na Faixa de Gaza, o Hamas e a Jihad Islâmica têm que lidar com a propaganda e com uma população exausta, e é claro que não podem anunciar qualquer tipo de derrota. Mas, se os ataques israelenses realmente desferiram um golpe severo no chamado “metrô” – que é a rede de túneis por onde chegaram os suprimentos militares para as forças palestinas – e em toda a cadeia de operações de mísseis do Hamas e da Jihad, pelas organizações árabes também há quem se regozije.

Em todos os Territórios Palestinos, as pessoas foram às ruas para exultar por uma trégua que parece ser uma vitória. Khalil al-Hayya, o vice-líder do Hamas, disse que “hoje a resistência declara vitória sobre os inimigos”.

 

Mas, afinal, quem realmente ganhou em Gaza?

Os anúncios das IDFs e das duas organizações de Gaza têm lados reais sobre os quais refletir. Israel, certamente, mostrou que é capaz de atingir, cirurgicamente e com muita eficiência, os centros de comando do Hamas e da Jihad Islâmica. Conseguiu utilizar a Força Aérea e os guardas de fronteira de forma bastante eficiente, evitando o envolvimento de tropas terrestres e da Marinha (senão por alguns episódios individuais) e, acima de tudo, deu a entender que havia identificado e mapeado exaustivamente a rede de túneis subterrâneos que, por anos, foi o verdadeiro pesadelo do Estado judeu.

E o sistema antimísseis, Iron Dome, mesmo com a saturação inicial, parecia ser capaz de proteger a população de milhares de foguetes, em maior ou menor grau. E a capacidade de apontar claramente os postos de comando das milícias inimigas deixou claro, igualmente, que a inteligência externa funcionou.

O Hamas e a Jihad Islâmica, por sua vez, têm motivos claros para estarem satisfeitos em nível estratégico. O denso lançamento de foguetes nas cidades israelenses mostrou que um ataque simultâneo e bem organizado, com milhares de mísseis, pode saturar a Cúpula de Ferro (Iron Dome) ao lançar uma chuva de foguetes nas cidades do Estado judeu.

O Hamas mostrou que, do ponto de vista balístico, tem conseguido melhorar significativamente suas capacidades, colocando também em perigo Tel Aviv e os centros nervosos de Israel, desde os aeroportos mais importantes, até oleodutos e plataformas offshore. E, do lado internacional, a condenação unânime dos ataques dirigidos contra a população israelense não tem evitado a política de muitos líderes internacionais contra Israel por ter afetado, também, a população civil.

Do lado diplomático, estamos, portanto, perante um impasse em que ninguém sai vitorioso, nem mesmo como interlocutor privilegiado por parte de quem quer uma solução para a crise. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que deu a entender que não tem intenção de desistir, teve de lidar com uma administração americana que parecia desazada e, ao mesmo tempo, nunca verdadeiramente alinhada com Israel.

O apelo pelo “direito de se defender” andou de mãos dadas com os ardentes telefonemas de Joe Biden contra o líder do Likud, que foi forçado a aceitar o apelo de Washington.

 

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália) e editor da revista Italiamiga.

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